Comunidades com processo de certificação auxiliado pelo Governo do Amapá integrarão o maior território quilombola do estado

Comunidades dos municípios de Laranjal do Jari e Vitória do Jari, no extremo sul do Estado, deverão integrar o maior território quilombola do Amapá. Durante o mês de julho, o técnico Josemir Paixão, do setor de Comunidades Tradicionais da Secretaria Extraordinária de Políticas para Afrodescendentes (Seafro) percorreu 20 comunidades na região, para auxiliar os moradores para o início do processo de certificação junto à Fundação Cultural Palmares (FCP).

Comunidades ficam em regiões remotas nos municípios de Laranjal e Vitória do Jari. Foto: Gabriel Penha.

Um total de 19 comunidades, cinco em Laranjal e 14 em Vitória do Jari, já fizeram o auto reconhecimento como remanescente, primeiro passo para a certificação. Toda a documentação, como atas de reuniões e relatórios fotográficos, será encaminhada à Fundação Palmares, órgão federal encarregado de emitir a Certidão de Autodefinição de Comunidade Remanescente de Quilombo e, desta forma, passa a reconhecer legalmente que aquela comunidade e o território que ocupa.

Políticas específicas

Com a certidão a comunidade quilombola passa a ter direitos e amparos legais assegurados pelos artigos 215 e 216 da Constituição Federal, que se referem à defesa e à valorização do patrimônio cultural brasileiro e afro-brasileiro e à obrigação do poder público em promover e proteger estes patrimônios culturais. Além destes normativos legais, também o artigo 68 do Ato das disposições constitucionais transitórias garante a propriedade definitiva de seu território aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras, além de políticas públicas específicas.
Fortalecimento

Para o secretário da Seafro, Joel Borges, com a certificação as comunidades terão um fortalecimento, tanto em termos de organização social quanto para o desenvolvimento através de políticas públicas, projetos e outras ações.

“A certificação é a legitimação. Estamos dialogando com a Fundação Palmares no sentido de agilizar esses processos no sentido e consolidar a criação do que será o nosso maior território quilombola”, argumenta o gestor.
Atualmente, o maior território quilombola do Amapá fica no município de Mazagão é composto pelas comunidades de Conceição do Maracá, Mari, Joaquina, Fortaleza e Laranjal do Maracá. Uma vez reconhecidas, as 19 comunidades da região sul se juntarão à comunidade de Tapeireira (Vitória do Jari), que já é certificada.

Pedro Ramos de Sousa: um doutor de verdade

*Por Marco Antônio Chagas – Professor da Unifap 

 

 

O genial Ariano Suassuna sempre ironizou o conhecimento dos ricos. Quem quiser entender um pouco mais o significado desse conceito procure o vídeo “Você já foi à Disney?, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=S4zTj2N9ns8.

Pois bem, Suassuna nos faz pensar sobre a “Elite do Atraso”, que em meu entender corresponde ao grupo de pessoas que já foram à Disney, incluindo a categoria que se autointitula “doutor”.

Não vou usar aqui o clichê de que doutor é quem defende tese, pois muitas delas, talvez a grande maioria, estejaempoeirada em uma biblioteca qualquer. Doutor é Ariano Suassuna, mas também são muitos anônimos que estão a nos ensinar os valores da vida e o que realmente importa para além da arrogância do conhecimento dos ricos, por vezes também acadêmico.

Dia 05 de agosto de 2021 a Universidade Estadual do Amapá fez história. Concedeu a Pedro Ramos de Sousa o primeiro título de Doutor Honoris Causa do Amapá. Pedro nunca foi à Disney, nem escreveu uma tese. Pedro simplesmente vez sua vida valer a pena. Pedro dedicou-se a organização dos trabalhadores rurais e extrativistas da Amazônia. Pedro, aos 80 anos, com saúde debilitada e sem assistência do Estado, continua na resistência ao lado dos movimentos socioambientais e fazendo as perguntas que nos faltam.

Em “Olhos d’água”, a escritora e doutora Conceição Evaristo nos aproxima do significado das perguntas que nos faltam ou do que realmente importa… “De que cor eram os olhos de minha mãe?”

Ariano Suassuna, Conceição Evaristo, Pedro Ramos de Sousa são personagens de um Brasil solidário, um Brasil do cuidado, um Brasil que nos afastamos pelo tempo das coisas fúteis e das certezas que nos isolam cada vez mais num mundo de saudades. E por falar em saudades, quem são seusdoutores?

Parabéns UEAP! Parabéns Doutor Pedro Ramos de Sousa!

*Marco Antônio Chagas é professor-doutor do programa de pós-graduação da Unifap e colaborador do blog 

 

 

Plano Estadual de Recursos Hídricos. Amapá lança edital para estudos técnicos das 39 bacias hidrográficas

 

O Governo do Amapá já disponibilizou o edital para contratação de empresa especializada para elaborar os estudos técnicos e o documento consolidado do Plano Estadual de Recursos Hídricos (PERH). O certame está sendo conduzido pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema) e pela Procuradoria-Geral do Estado do Amapá (PGE).

No Amapá existem 39 bacias hidrográficas, sendo a maior delas a do rio Araguari, ainda a serem ajustadas com a nova base cartográfica homologada em 2019.

A elaboração do plano tem como base os conceitos tratados atualmente em dispositivos legais, planos e programas gerais de desenvolvimento ou específicos de recursos hídricos. O estudo a ser realizado também definirá os limites de cada bacia e as diretrizes para uso legal dos recursos hídricos em diversas atividades, principalmente, na área da agricultura.

No Amapá existem 39 bacias hidrográficas – sendo a maior delas a do rio Araguari -, ainda a serem ajustadas com a nova base cartográfica homologada em 2019. Neste processo existe também a expectativa para ampliar o envolvimento das comunidades na gestão racional e sustentável dos recursos hídricos, atendendo a demandas sociais crescentes, em razão dos conflitos de uso da água já existentes.

O processo licitatório ocorrerá no mês de setembro e a execução dos trabalhos se estenderá durante 12 meses.

UEAP concede seu primeiro título de “Doutor Honoris Causa” ao ambientalista e extrativista, Pedro Ramos

Daquelas notícias que nos fazem acreditar que sim, academia, luta social e conhecimentos tradicionais se completam e precisam se reconhecer.

A Universidade do Estado do Amapá – UEAP, concedeu seu primeiro título de Doutor Honoris Causa ao Pedro Ramos. Ambientalista, trabalhador rural e extrativista.

Sobre o título, a reitora da UEAP, Kátia Paulino, escreveu em uma rede social:

“Primeiro título de Doutor Honoris Causa da Ueap é para um extrativista e ambientalista! O título de Doutor Honoris Causa foi concedido ao líder ambientalista e camponês, Sr. Pedro Ramos de Sousa.

O título de Doutor Honoris Causa aprovado em sessão do Conselho Universitário é o título mais importante concedido pela Universidade, pois é atribuído a personalidade eminente, nacional ou estrangeira, que tenha se destacado singularmente por sua contribuição à cultura, à educação ou à Humanidade.

Pedro Ramos nasceu em 27 de novembro de 1940, na Ilha dos Carás, no município de Afuá, no arquipélago do Marajó, Pará, filho de Manoel Raimundo de Sousa (Seu Caetano) e Beatriz Ramos da Paixão. Envolve-se nas lutas por Reforma Agrária no Amapá, especialmente na Região Sul do Estado, juntamente com técnicos extensionistas, agricultores de associações de outras localidades, padres e freiras progressistas e agentes comunitários das Comunidades Eclesiais de Bases (CEBs). Na ocasião, tem início a discussão para a criação dos Assentamentos Agroextrativistas, da Reserva de Uso Sustentável (RDS) e da Reserva Extrativista (RESEX).

A extensa atuação sindical e a busca de soluções para questões agrárias na Amazônia colocaram-no em contato com o movimento nacional dos seringueiros e sua principal liderança, Chico Mendes. O legado de Pedro Ramos como liderança, sua sabedoria e profundo conhecimento sobre os modos de pensar, agir e ser das comunidades tradicionais fez com que o Sr. Pedro Ramos, durante décadas, fosse um importante interlocutor oficial entre as comunidades e o governo, participando de diversos grupos de trabalho, mesas de negociações, representações e comissões governamentais, nas esferas municipal, estadual e federal.

O título de Doutor de Honoris Causa para o Sr. Pedro Ramos contribuirá, sem dúvida, para corrigir essa tendência, valorizando o conhecimento tradicional e, consequentemente, os seus detentores”. 

 

Para saber mais sobre a rica história de Pedro Ramos, leia o livro do Professor Marco Chagas:

“Mano Pedro. Socioambientalismo, ecologia de saberes e
artesanias das práticas na Amazônia”.

Clique Aqui para acessar o link do livro digital

http://www2.ueap.edu.br/Arquivos/Postagens/Atualiza%C3%A7%C3%A3o%20site%202021/Mano%20Pedro%20(Digital).pdf

Presidente do CNPG participa da abertura do 7º Congresso Nacional do Movimento do Ministério Público Democrático

A presidente do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais dos Ministérios Públicos dos Estados e da União (CNPG) e procuradora-geral de Justiça do Ministério Público do Amapá (MP-AP), Ivana Lúcia Franco Cei, fez a abertura do 7º Congresso Nacional do Movimento do Ministério Público Democrático (MPD), realizado virtualmente, na noite da última segunda-feira (2), e a apresentação do convidado especial do evento, o ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Antônio Herman de Vasconcelos e Benjamin.

“ É uma honra participar no 7º Congresso Nacional do MPD, sobre o futuro da democracia, com a presença do ministro do superior tribunal de justiça, notável em sua carreira na área do direito, conhecido por sua retidão e credibilidade. Estamos falando de Antônio Herman de Vasconcelos e Benjamin. Seu conhecimento, preparo técnico e experiência prática na área ambiental tem contribuído sobremaneira na promoção da teoria da sustentabilidade e construindo no STJ a adoção de jurisprudências impactantes”, iniciou.

Em seguida, a presidente do CNPG destacou alguns desses avanços jurídicos promovidos pelo ministro: Meio Ambiente como bem jurídico autônomo; Reconhecimento da inversão do ônus da prova processual contra o suposto poluidor; Teoria do Risco Integral; Reconhecimento da imprescritibilidade da ação que visa à reparação do dano ambiental; Responsabilidade do Estado nos atos Comissivos e Omissivos. São muitas contribuições em jurisprudências, doutrinas que devemos ao STJ para concretização da evolução ambiental”, acrescentou a procuradora.

O Congresso reuniu jornalistas renomados, dirigentes e membros do MP com larga experiência nas mais diversas áreas da atuação institucional. O ministro participou de uma espécie de entrevista coletiva, onde teve a oportunidade de discorrer sobre diversos temas. A primeira pergunta, feita pela presidente do CNPG, tratou do direito ambiental.

A PGJ Ivana Cei recorreu aos ensinamentos do próprio Benjamin, quando afirma que “sem implementação eficaz e sistemática o que nós assistimos é uma legislação ( e é triste dizer isso ) que hoje não seria aprovada pelo Congresso Nacional. A lei das mudanças climáticas seria um exemplo. E isso tem muito a ver com a aspecto político e de organização dos partidos. Há um aspecto que interessa diretamente ao Judiciário. Porque no Brasil, lei boa é a que não pega, são as que ficam na prateleira. Quando implementadas, viram a “Geni, o “custo brasil”, justamente por defenderem os mais vulneráveis. Como se defender trabalhador, idosos, pessoas com deficiência fossem custos e não investimentos na dignidade da pessoa humana”, manifestou o ministro. Em seguida, a presidente do CNPG relembra graves problemas ambientais e de saúde enfrentados durante vários séculos, exemplificando:

– Século XIV, Peste negra; XIX, gripe espanhola; ausência de saneamento; século XX: 1930, Vale do Meuse – Bélgica – Poluição do ar; 1956 – Minamata – Japão – Contaminação por mercúrio; 1962 – DDT( Primavera Silenciosa) – EUA – marco do início da conscientização ambiental; 1986 – Chernobyl – Ucrânia – acidente nuclear; novamente no século XXI – Mariana (2015) – Brasil – rompimento dos rejeitos de mineração; Coronavírus – 2020 – crises sanitárias e de saúde pública – causadas pela doença pandêmica respiratória infecciosa; ausência do acesso equitativo à água potável e ao saneamento adequado.

“Ancorado no ensinamento, apesar de inúmeros avanços e normas ambientais podemos dizer: a correlação entre a corrupção e o desempenho ambiental não eficaz. Estaria nos levando a um retrocesso no sentido amplo, rumo a uma catástrofe?”, questionou Ivana.

O ministro do STJ disse que a questão ambiental no nosso país precisa ser entendida no contexto político, pois, não é um tema que se destaca sozinho.

“Devemos superar esse defeito histórico, porque se a lei pega, vamos pegar os seus implementadores, vamos cortar as asas e isso é perigosíssimo para a democracia. Não é um problema só do Brasil. Não inventamos isso, mas somos mestres, aperfeiçoamos esse modelo de apedrejar a lei que começa a pegar e ninguém controla os implementadores da lei, porque aí interessa a omissão. Preferem deixar tudo lá na prateleira”, acrescentou Benjamin

Para finalizar sua análise o jurista disse que o “problema hoje é que a nossa legislação não traz segurança e, se mudar, é para regredir. O meio ambiente não se sente protegido com leis bonitas na prateleiras ou tratados que são discutidos lá fora”, criticou.

Entrevistadores:
Ricardo Prado Pires de Campos – presidente do MPD
Ivana Lúcia Franco Cei – doutoranda em Direito pela Universidade John F. Kennedy,
Manoel Victor Sereni Murrieta e Tavares – Agente político Promotor de
Justiça – Ministério Público do Estado do Pará,
Paulo Penteado Teixeira Junior – 2º Vice Presidente da Associa’’cão Nacional dos Membros do Ministério Público
Maria Tereza Sadek – Membro da Comissão de Pesquisa e Inovação da Fundação Getúlio Vargas.
Malu Gaspar – colunista do Globo e apresentadora do podcast A Malu Tá ON.
Bela Megale – colunista de política no jornal O GLOBO e comentarista da Rádio CBN

 

Baixa de temperaturas na região sul e os impactos das mudanças climáticas

Nas últimas semanas, fomos impactados por muitas notícias desastrosas sobre as crises climáticas em várias partes do mundo. Na Alemanha, inundações invadiram ruas e destruíram casas deixando mortos e feridos. Os incêndios florestais no Canadá chegaram a queimar uma cidade inteira. Com uma onda de calor recorde, os incêndios nos Estados Unidos consumiram mais de quatro mil quilômetros quadrados. A China também está sendo alvo de fortes enchentes.

Inundações causaram mortes e grandes estragos em cidades da Alemanha. Imagem: Portal G1.

Estados Unidos e Canadá tem atravessado uma onda de calor intensa, com temperaturas batendo 50 graus Celsius, chegando a causar a morte de mais pessoas devido ao calor. Imagem: O Tempo.

 

Os animais também não tem resistido. Na foto, e possível ver uma estrela do mar e vários mariscos mortos. Acostumados com temperaturas mais amenas, estes animais não resistiram a grande mudança de temperatura. Fonte: Portal Uol.

No Brasil, as baixas temperaturas dos últimos dias também vêm causando espanto. O frio negativo chegou até Minas Gerais. A temperatura mais baixa foi registrada na cidade de Bom Jardim da Serra, em Santa Catarina, com -7,5ºC.

Neve na Serra Catarinense. Devido ao acúmulo de neve, estradas tiveram que ser fechadas para evitar possíveis acidentes. Imagem: Portal Uol.

Segundo o Professor Pedro Luiz Cortês, do Instituto de Energia e Ambiente da USP, sucessivos relatórios do painel de mudanças climáticas da ONU, vêm apontando para ocorrência de fenômenos climáticos extremos como uma das consequências das mudanças climáticas no mundo.

O Relatório será divulgado ao fim do ano.

Ainda segundo o professor, os eventos climáticos extremos, estão cada vez mais frequentes, segundo os diagnósticos do painel intergovernamental de mudanças climáticas.

“Chegou o momento de acreditarmos mais na ciência, nos prognósticos climáticos e tomarmos mais providências”, comentou o professor.

No Brasil, nas regiões sul e sudeste as temperaturas estão muito baixas. Pela climatologia do país pode nevar, nos meses de junho e julho acontecem episódios de nevascas, apesar de serem pouco comuns, são previstas na região, já havendo histórico de temperaturas negativas e maior acúmulo de neve. Ou seja, é comum nevar em alguns locais do sul do Brasil, porém ainda é algo que espanta os moradores das outras regiões.

Isso acontece devido a dois fatores, a massa de ar polar, e o ciclone extratropical. A massa de ar polar é uma massa de ar que se forma nos polos, dependo de onde a mesma vem ela pode ser seca ou úmida, se a massa vem do continente, ela vem fria e úmida, porém se vem de uma região dos polos ela deve vir seca e fria, mas sempre virá fria.

O ciclone extratropical é um centro de baixa pressão localizado no oceano atlântico sul, podendo ser enquadrado como fenômeno meteorológico, mas que sempre permanece no oceano devido ao movimento gerado com o movimento de rotação da terra, sendo um fenômeno móvel, que se move latitudinalmente dependendo da estação do ano. No período de inverno no hemisfério sul, o ciclone pode se encontrar mais próximo ao continente, podendo se associar a uma massa de ar polar, que está chegando ao continente.

Ciclone Extratropical na região sul do país. Este ciclone pode causar ventos de até 100 km/h.  Imagem: Metsul.

No caso, os episódios destes fenômenos meteorológicos geraram este inverno mais forte, com quedas bruscas de temperatura.

Porém, especialistas alertam que o inverno nas regiões sul e sudeste tem sido em média mais quente, com temperaturas chegando próximo a 30 graus celsius em pleno inverno.

Mais eventos meteorológicos não habituais podem ocorrer em outras partes do mundo, e a falta de chuvas  bem como um verão mais quente podem vir a afetar o Brasil.

 

Agradecimento: Victória Amorim, Meteorologista e Doutoranda pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

Assista a pequena entrevista do professor Pedro Luiz Cortês concedido ao portal Uol:

https://noticias.uol.com.br/videos/2021/07/29/frio-no-brasil-e-chuvas-na-europa-por-que-eventos-climaticos-estao-mais-frequentes.htm

 

Fenômeno das Terras Caídas. Povo do Bailique pede socorro. Já são 700 casas perdidas

* João Alberto Capiberibe – Ex-prefeito de Macapá. Ex-governador do Amapá e ex-senador da República 

Domingo passado, 25 de julho, retornei do Bailique comovido e indignado com a dimensão das perdas sofridas pelo seu povo. Sabe-se que esses prejuízos foram causados por intervenções humanas desastrosas sem que ninguém tenha sido responsabilizado até hoje. 700 famílias ribeirinhas, espalhadas em pequenas comunidades pelas ilhas do arquipélago, perderam suas casas e suas vilas perderam seus ancoradouros.

Explico-me ao morador urbano. No Bailique, as ruas são passarelas de madeira e os carros são embarcações, portanto, aquele que a água ainda não lhe levou a casa se vê obrigado a improvisar porto para atracar e chegar até ela. É como se de repente nossas ruas desaparecessem soterradas por montanhas de entulhos, e a gente tivesse que improvisar caminho para chegar em nossas casas.

Parti de Macapá na quinta 22, acompanhado de Janete, Camilo, pesquisadores, comunicadores e pessoal de apoio, num total de quinze pessoas, e retornei no domingo 25. Reunimos em cinco comunidades, Limão do Curuá. Itamatatuba, Igarapé Carneiro, Igarapé do Meio e Macedônia, e ainda visitamos Franquinho e Vila Progresso.  Foram dois dias de intensa convivência com a nova realidade provocada pelo fenômeno das terras caídas. Nosso objetivo, ouvir os moradores e levar a notícia de que o dinheiro da emenda do deputado Camilo já estava na conta da Embrapa, que em breve daria inicio as pesquisas sobre o aproveitamento do pracaxi, cujo azeite é extraído pelas mãos das mulheres da comunidade do Limão do Curuá, delas ouvi, pela primeira vez, que o azeite do pracaxi é comestível.

É urgente se informar e informar sobre a tragédia das 700 famílias do Bailique que perderam suas casas e que suas vilas deixaram de ter porto de embarque e desembarque. Dá pra imaginar tal situação? Pense na metade das casas de Macapá desabando, deixando sua população ao relento! Pois é …foi o que aconteceu e continua acontecendo no arquipélago do Bailique. A enxurrada continua levando suas casas, e sem a presença do poder público, seus moradores estão desorientados na luta para se defender do que chamam de fenômeno das Terras Caídas.

Terras Caídas? Que história é essa?

Explico! A vazante do rio Araguari que antes desaguava no Atlântico dando origem a pororoca, depois da construção de três hidrelétricas em seu leito, perdeu força, sua foz assoreou e a pororoca desapareceu, suas águas encurraladas buscaram outra saída, e encontraram, criadores de búfalos de suas margens ajudaram nessa tarefa. Para encurtar caminho entre suas fazendas e o mercado consumidor de Macapá, usando búfalos e maquinas abriram duas valas estreitas interligando o rio Araguari aos rios Urucurituba e Gurijuba que desaguam no Amazonas. Essas valas inicialmente de pouco mais de cinco metros de largura e pouca profundidade, transformaram-se em rios caudalosos com mais de 500 metros de largura. Essa massa d’água de milhões de metros cúbicos passou a ser despejada no rio Amazonas com enorme impacto sobre as ilhas do arquipélago, provocando erosão acelerada, engolindo as casas dos moradores do Bailique.

Após esse relato é de se imaginar os bailiquenses desanimados com as dificuldades do cotidiano, mas por incrível que pareça, eu os encontrei esperançosos, dispostos a não arredar o pé do lugar em que vivem desde o século XIX. Também pude perceber que a coleta do açaí e a pesca do camarão alavancam a economia da região, garantindo a sobrevivência desse povo generoso e destemido que vive nas frágeis ilhas do Bailique, na foz do rio Amazonas.

Povo do Bailique pede socorro: 700 casas perdidas

Prêmio Professor Samuel Benchimol busca revelar novos caminhos sobre Desenvolvimento Sustentável da Região Amazônica

 

O Prêmio Professor Samuel Benchimol pretende reconhecer iniciativas e trajetórias pioneiras à compreensão da Amazônia e desvendar novos caminhos em prol do desenvolvimento sustentável da região. A premiação será dividida em Projetos de Desenvolvimento Sustentável na Região Amazônica e Personalidades dedicadas ao Desenvolvimento Sustentável da Região Amazônica.


Para a edição 2020/2021, a categoria “Projetos de Desenvolvimento Sustentável na Região Amazônica” terá uma premiação temática, denominada “Iniciativas para mitigação dos efeitos do Covid-19 na Amazônia”. Já o Prêmio do Banco da Amazônia pretende revelar o potencial de transformação da Região Amazônica através de conceitos e práticas de Economia Criativa, Economia Verde ou Agroecologia e Produção Orgânica. Haverá também uma premiação honorífica que busca o reconhecimento de Empresas (Empresa na Amazônia) e de Microempreendedores de Sucesso na Amazônia (Prêmio Florescer).
O período de inscrições segue até 19/09/2021 de forma online através do link: http://amazonia.ibict.br/ e o julgamento dos prêmios será no dia 26/11/2021.

Público-alvo

Pessoas vinculadas a comunidade empresarial; instituições de representação sindical ou profissional; instituições universitárias ou de pesquisa sediadas no País ou no exterior; instituições públicas ou privadas com atuação no desenvolvimento sustentável da Amazônia; instituições que tenham o objetivo de promover o desenvolvimento regional, nacional ou internacional; e empresas públicas ou privadas com investimento na Região Amazônica; autônomos com atividades referentes à Região Amazônica.
As propostas podem ser apresentadas por pessoas de todas as ocupações, de qualquer parte do Brasil e do exterior, desde que estejam diretamente relacionadas formalmente com o desenvolvimento da Região Amazônica.

Categorias:

– Projetos de Desenvolvimento Sustentável na Região Amazônica;
– Personalidades dedicadas ao Desenvolvimento Sustentável da Região Amazônica;
-Iniciativas para mitigação dos efeitos do COVID-19 na Amazônia;
– Iniciativa de Desenvolvimento Local (IDL);
– Empresas na Amazônia.

Os prêmios são realizados anualmente nas Federações das Indústrias da Região Norte de forma itinerante. Esta rotatividade é apoiada pelo Ação Pró-Amazônia, entidade sem fins lucrativos formada pelas Federações das Indústrias dos Estados da Amazônia Legal, com sede em Brasília. A entidade foi formada inicialmente pelas Federações das Indústrias dos Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Maranhão, Pará, Rondônia e Roraima.

PF investiga garimpo ilegal em terra indígena no Oiapoque

 

A Polícia Federal deflagrou, na manhã desta terça-feira, dia 20/07, a Operação Kijkoveral*. O objetivo é desarticular organização criminosa que explora
garimpo ilegal no interior da Terra Indígena do Uaçá, no município de Oiapoque/AP. Cerca de dez policiais federais deram cumprimento a dois mandados de busca e apreensão em residências, sendo uma na capital do estado e outra no município que fica no extremo norte amapaense.

Os trabalhos são resultado de operação conjunta da Policia Federal, Exército Brasileiro e FUNAI, que, no último mês de junho, identificaram atividade garimpeira irregular nointerior da Terra Indígena Uaçá. Após a diligência, a PF iniciou investigação que culminou na operação de hoje, já que as apurações confirmaram a ocorrência da extração ilegal de ouro. O maquinário empregado foi financiado por empresário do município do Oiapoque, que lucrava com
a mão de obra indígena.

Os crimes investigados são o de usurpação de patrimônio da União, extração ilegal deminério e organização criminosa, com penas que podem chegar a 13 anos de reclusão e pagamento de multa.

Kijkoveral era o nome de uma cidade que os holandeses tentaram fundar na região da
Guiana. A economia dessa cidade giraria em torno da exploração de mão-de-obra
indígena em garimpos de ouro.

Comunicação Social da Polícia Federal no Amapá

Cacau do Cassiporé, açaí, camapu e a bioeconomia. *Por João Capiberibe

* João Alberto Capiberibe. Ex-governador do Amapá 

Você já experimentou o cacau do Cassiporé? Pois experimente! Ontem servi essa iguaria no café da manhã pra Janete, ela amou, e me agradeceu com um beijo.

 

Quando governador do Amapá (1995-2002), – faço questão de assinalar o período, pois tem gente que me cobra responsabilidade hoje, como se eu tivesse deixado o governo na semana passada -, os que combatiam nossas ideias, desdenhavam do PDSA (Programa de Desenvolvimento Sustentável do Amapá) repetindo em suas rádios e tevês: “Vender camapu, patê de chicória e açaí? Isso é tão nosso que jamais será exportado”

Agora olhe e reflita sobre essas fotos.
O cacau, o camapu, o açai são espécies nativas, capazes de alavancar uma enorme cadeia de valor na nossa bioeconomia, gerar os empregos que tanto precisamos para garantir aos amapaense o direito de continuar morando no lugar em que nasceram e cresceram, sem precisar migrar para outros estados atrás de oportunidades de trabalho.

Por último insisto, olhe e reflita sobre essas fotos, depois entre no Google, pesquise sobre cacau do Cassiporé, camapu, açaí e me diga quem tem razão? O açaí é hoje o terceiro item na nossa pauta de exportações, e o camapu nos importamos da Colômbia.

 

Nota do blog 

Verdades nesse pequeno texto que Capi carinhosamente me enviou, que mostram quanto tempo estamos perdendo no desenvolvimento sustentável do Amapá, com suas maiores riquezas: os produtos da floresta, com agregação de valor, que geram trabalho, renda e desenvolvimento.

Para saber mais sobre o cacau e o chocolates do Cassiporé, siga o perfil no Instagram @chocolatescassipore