Docente da graduação e mestrado em História recebe prêmio de organização estadunidense

Alexandre Guilherme da Cruz Alves Junior foi premiado pela Organização de Historiadores Americanos por artigo que aborda a ocupação da Ilha de Alcatraz, nos Estados Unidos, por ativistas indígenas norte-americanos. É a primeira vez que um pesquisador de uma universidade sul-americana ganha o prêmio.


O docente da Licenciatura em História e do Mestrado em História da Universidade Federal do Amapá (Unifap), Prof. Dr. Alexandre Guilherme da Cruz Alves Junior, é o primeiro pesquisador proveniente de uma universidade da América do Sul a ganhar o Prêmio David Thelen, concedido pela Organization of American Historians (OAH), dos Estados Unidos, ao melhor artigo sobre a história daquele país escrito em língua não-inglesa, no biênio 2022-2024. A cerimônia de premiação ocorreu no dia 12 de abril, na cidade de Nova Orleans, em Louisiana (EUA).

O artigo vencedor, intitulado “A Ocupação de Alcatraz e o Movimento Indígena nos Estados Unidos (1969 – 1971)”, foi publicado em 2022 na Revista “Tempo”, do Departamento de História da Universidade Federal Fluminense (UFF). O docente inscreveu o artigo no concurso da OAH em 2023 e recebeu a notícia da premiação no início de abril.

O pesquisador recebeu com surpresa a notícia que havia ganhado o prêmio. “Mais importante do que a premiação individual é a contribuição que este prêmio terá na avaliação do curso de Licenciatura em História e na consolidação do Mestrado em História, assim como para a pós-graduação na Unifap”. Uma universidade que, na sua concepção, tem potencial para produzir conhecimento sobre o estado Amapá, mas também sobre o mundo”, avalia o Prof. Dr. Alexandre Cruz.

Prática em sala de aula amadureceu a temática do artigo

Segundo o Prof. Dr. Alexandre Cruz, a ideia da pesquisa que resultou no artigo premiado surgiu durante uma aula no curso de Licenciatura Intercultural Indígena, ofertado no campus Binacional do Oiapoque (AP).

“Dando aula no Oiapoque, a professora de História da Licenciatura Intercultural Indígena, Carina Almeida, junto com seus estudantes indígenas, pediram para que eu fizesse uma aula sobre a história indígena nos Estados Unidos, aí fui preparar essa aula. É uma temática pouco conhecida, então deu muito trabalho para formular essa aula e, durante a organização dessa aula, eu conheci esse evento que foi a ocupação da Ilha de Alcatraz por estudantes indígenas nos anos 1960, reclamando a ilha como território indígena. A gente conhece bastante o movimento por direitos civis nos anos 1960 né, por conta do movimento feminista, movimento negro, entre outros, e o movimento indígena praticamente não aparece naquele contexto. Então eu decidi pesquisar mais sobre essa ocupação”, explica o docente.

Em 2021, o pesquisador foi aceito como pesquisador visitante na Universidade de Harvard (EUA), para desenvolver pesquisa sobre o assunto. Em solo estadunidense, o docente teve a oportunidade de acessar documentos diretamente nas fontes de pesquisa e ir na Ilha de Alcatraz. Ao retornar, escreveu o artigo premiado.

A reivindicação da Ilha de Alcatraz como território indígena

O artigo analisa os pronunciamentos e as ações realizadas pelos ativistas indígenas que ocuparam a ilha de Alcatraz entre novembro de 1969 e junho de 1971. Na ocasião, um grupo de estudantes chegou à antiga prisão federal norte-americana, intitulando-se “Indígenas de Todas as Tribos”, com o objetivo de reclamar o território para a fundação de um centro cultural e uma universidade indígenas.

A pesquisa desenvolvida pelo Prof. Dr. Alexandre Cruz buscou compreender, por meio da análise de dois manifestos públicos feitos pelo grupo de universitários à época da ocupação, como uma leitura própria do passado foi utilizada tanto como instrumento de legitimação das ações políticas de ação direta não violenta visando a soberania dos povos indígenas nos Estados Unidos, como também instrumento para forjar uma agenda interétnica que pudesse reverter as péssimas condições sociais dos povos nativos nos centros urbanos e nas reservas estadunidenses.

O artigo relata as dificuldades encontradas pelo “Indígenas de Todas as Tribos”, que ocupou a ilha, tanto para se manter no local como para articular apoio de organizações indígenas para a ocupação e as reivindicações do grupo, em nível externo, e dirimir os conflitos internos entre os próprios manifestantes.

O pesquisador aponta, no artigo, que, apesar das reivindicações não terem sido atendidas pelo governo federal estadunidense à época, inspirou, nos anos subsequentes, outras gerações de ativistas indígenas a promover, em diferentes esferas políticas e sociais, os interesses indígenas a partir de perspectivas indígenas

“O artigo ilumina como a ocupação da ilha reverberou no país inteiro, fazendo com que o movimento indígena alcançasse leis em prol da autodeterminação dos povos indígenas nos Estados Unidos”, conclui.

O artigo pode ser lido em https://www.scielo.br/j/tem/a/3PrJDqmcP96XJCjhm5kF4nq/.

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