Solução corante à base de urucum que torna exame Papanicolau mais rápido e mais barato é a primeira invenção da Unifap patenteada

Pesquisadores Edilson Leal da Cunha, José Carlos Tavares e Irlon Maciel Ferreira inventaram técnica de coloração para lâminas que torna exame mais seguro e com baixo custo.

O Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) concedeu à Universidade Federal do Amapá (Unifap), no dia 4 de julho, carta patente pela invenção de uma solução corante a base de urucum que moderniza a técnica do exame preventivo de câncer do colo do útero, o PCCU. A invenção é fruto da tese de doutorado de Edilson Leal da Cunha, orientado pelo Professor Doutor José Carlos Tavares, pelo programa de Pós-graduação em Inovação Farmacêutica da Unifap. Pesquisadores aguardaram sete anos pela concessão da patente e já estão em tratativas para fabricação do produto pela indústria farmacêutica.
A pesquisa objetivou reduzir o tempo de coloração, diminuir o uso do álcool etílico, suprimir o uso do xilol (líquido incolor usado como solvente em preparados farmacêuticos e em análises laboratoriais) e usar uma solução de urucum para substituir o corante Orange G. A solução corante sintética é utilizada atualmente no processo de diagnóstico do câncer de colo de útero e nociva tanto para os profissionais que trabalham nos laboratórios de citologia quanto para o meio ambiente, além de ter um alto custo.
“A grande novidade é que nós mudamos o método de coloração de uma técnica antiga que é a técnica do Papanicolau. Além de descobrir um novo método de coloração, nós mudamos a técnica de diagnóstico do PCCU”, aponta o Prof. Dr. José Carlos Tavares.
A investigação durou cinco anos e contou com a participação do Prof. Dr. Irlon Maciel Ferreira na etapa de caracterização e validação química do material por meio das técnicas de espectroscopia, que permite a identificação da estrutura química do material analisado.
Desafios
Segundo o Dr. Edilson Leal, o maior desafio da pesquisa foi vencer a barreira de aplicação de um produto natural para substituir um sintético, dentro de uma coloração que é utilizada desde 1949, além da ausência de equipamentos adequados para fazer as análises.
“Um produto da biodiversidade brasileira (urucum) trás uma contribuição muito importante nessa área e fornece uma ferramenta: um corante de baixíssimo custo para fazer a substituição de um produto que é caro. A Universidade tem um produto que é barato, não dá trabalho para preparar e pode ser colocado no mercado de forma bem tranquila”, observou o Dr. Edilson Leal.
No exame de Papanicolau, coleta-se o material do colo uterino em uma lâmina, que posteriormente passa por coloração com solventes para detecção de anormalidades que possam levar ao desenvolvimento do câncer de colo do útero. Os profissionais que trabalham nesse processo são expostos a solventes tóxicos. Segundo o Prof. Dr. José Carlos Tavares, um dos maiores benefícios do solvente a base de urucum é a redução do risco ocupacional desses profissionais, que terão mais segurança na manipulação do material.
“Nós começamos a testar diversas substâncias e chegamos num produto à base do urucum, mas não é só pegar a semente do urucum e fazer o solvente, tem toda uma técnica de processamento e padronização até chegarmos ao produto final, que é uma solução corante”, explica o Prof. Dr. José Carlos Tavares.
Pesquisa e biodiversidade
O Prof. Dr. José Carlos Tavares, que já trabalha com o urucum há 17 anos em outras pesquisas desenvolvidas na Unifap, destaca que a Amazônia é um dos os maiores produtores de urucum do mundo, sendo o Brasil um dos três maiores produtores. Para ele, a importância da descoberta não contribui apenas com a evolução da farmacologia, mas também com a pesquisa na Amazônia.
“Existe o custo Amazônia e ele não está relacionado apenas à economia, mas também a nós, cientistas, que moramos na Amazônia e sempre temos que mostrar que somos capazes de fazer pesquisa de alta qualidade. Isso demonstra a qualidade das teses que estamos produzindo na Unifap”, avalia o pesquisador.
Transferência de tecnologia
Segundo o Prof. Dr. José Tavares, já existe tratativa em andamento com indústrias farmacêuticas para produção e comercialização do novo produto. A projeção é alcançar escala mundial, considerando os milhões de exames de Papanicolau realizados diariamente em diversos países.
O Núcleo de Inovação e Transferência de Tecnologia (Nitt/Unifap), responsável pelo depósito e acompanhamento dos pedidos de patentes, conduzirá a transferência da tecnologia para o mercado.
“Temos uma coordenação específica para parcerias, responsável pela comercialização dos produtos patenteados pelo Inpi. Todos os ganhos desta patente serão divididos entre os inventores, Nitt e Unifap”, declarou o Prof. Dr. Felipe Monteiro, diretor do Nitt/Unifap.
Essa é a primeira carta patente de invenção concedida à Unifap pelo Inpi, mas a Universidade conta também com uma carta patente de modelo de utilidade, expedida em março deste ano e que foi a primeira patente concedida ao estado do Amapá. Modelos de utilidade são objetos de uso prático já existentes, ou partes destes, suscetíveis de aplicação industrial, que apresentem nova forma ou disposição.
Patente é uma concessão pública, conferida no Brasil pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi), que garante ao titular do documento a exclusividade da exploração comercial da sua criação. Ela protege todo o esforço de criação que um indivíduo faz ao colocar uma ideia na prática, seja uma invenção, seja uma produção intelectual.