Festa de São Tiago: fé e devoção marcam 245 anos de uma das maiores manifestações religiosas do Amapá

Fé e devoção marcaram o reencontro do povo com uma das maiores tradições religiosas do Amapá. Na manhã desta segunda-feira, 25, após dois anos de restrições impostas pela pandemia de covid-19, a missa campal e o círio em honra a São Tiago voltaram a reunir uma multidão de fiéis no distrito de Mazagão Velho, no município de Mazagão, a 70 quilômetros de Macapá.

Este ano, a Festa de São Tiago chega à 245ª edição. Uma tradição que veio da África, no século 18, com as famílias que foram trazidas da colônia portuguesa de Mazagão, em Marrocos, para colonizar a região, em consequência dos confrontos políticos e religiosos entre mouros e cristãos.

 

 

A multidão de fiéis, entoando cânticos e louvores, percorreu as ruas do pequeno vilarejo fazendo o translado das imagens de São Tiago e São Jorge. Por onde a procissão passava, havia famílias em frente às suas casas com altares montados para saudar o padroeiro da cidade.

 

 

De família tradicional de Mazagão Velho, a moradora do distrito Lucidéia Jacarandá, diz que o momento é indescritível, de uma emoção tamanha por poder novamente ver muitas pessoas reunidas para celebrar a festividade de São Tiago.

 

“É fé, é nosso santo protetor, é nossa proteção. Há muitos anos, a gente comemora. Eu faço parte da família Jacarandá, que foi uma das primeiras famílias que chegaram por aqui, então a gente carrega isso há muitos anos. Desde criança, a gente carrega essa fé no peito. Foi passada pelos nossos antepassados, e, para mim, é muita fé, muito emocionante”, expressou Lucidéia.

 

Vominê e Bobo Velho

 

Após o Círio, outra parte integrante do festejo é marcada pela dança do Vominê para os convidados e residentes locais. Os cavaleiros de São Tiago, vestidos com indumentárias típicas, dançam simulando a celebração da vitória dos cristãos na batalha contra os mouros e exaltação à bravura. O Vominê é dançado somente por homens ao som das caixas de batuque.

 

Peça central da festa, a figura de São Tiago este ano foi representada por Luciano Cruz, 23 anos, que, junto a outros moradores, encenam a céu aberto a batalha e os desdobramentos do conflito histórico entre mouros e cristãos.

 

“É um sentimento muito bom. Eu esperei muito por esse momento e graças a Deus esse ano eu pude realizar. A minha felicidade é tão grande que não tenho palavras para descrever o tamanho dela”, comentou Luciano.

 

A festividade é marcada por simbologias. Sob o sol escaldante do meio-dia, inicia um dos primeiros atos do grande teatro encenado a céu aberto, que é a passagem do Bobo Velho. Ele representa a figura de um mouro infiltrado que espiona os cristãos e, que ao ser descoberto, tenta fugir a galope. Mas na tentativa de fuga é apedrejado até a morte. Nesta parte da encenação da história, a população de Mazagão Velho e os presentes atiram bagaços de laranja no personagem.

 

Festividade de São Tiago

 

Celebrada no distrito de Mazagão Velho desde o ano de 1777, a Festa de São Tiago envolve rituais religiosos, cavalhada e teatro a céu aberto para narrar e celebrar a misteriosa aparição de São Tiago a um soldado anônimo que lutou bravamente ao lado do povo cristão contra os mouros e garantiu a vitória.

Organizada e realizada pela comunidade local, a Festa de São Tiago conta com o apoio do Governo do Estado e da Prefeitura de Mazagão. A Secretaria de Estado da Cultura investiu cerca de 1,1 milhão na instalação da estrutura.

“Nós estamos aqui apoiando a parte estrutural, artística e cultural por meio de infraestrutura de palco, som e luz, barracas, banheiros químicos, fomentos para estruturação do espetáculo, aluguel de cavalo. Enfim tudo aquilo que envolve a manifestação religiosa e o espetáculo”, destacou Cléverson Baía, secretário de Estado da Cultura.

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