Resumo da CPI – Parte 4 – A “Capitão Cloroquina”.

Mayra Pinheiro disse que o ministério apenas “orientou’ uso de cloroquina, mas nunca “recomendou” o medicamento.

A secretária de Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde do ministério da Saúde e conhecida como “Capitã Cloroquina”, Mayra Pinheiro, negou que a pasta tenha indicado cloroquina para tratar covid-19.

Ela disse que o ministério apenas “orientou” o uso de cloroquina, mas nunca “recomendou” o medicamento. Questionada pelos senadores sobre a diferença entre as duas coisas, a secretária não explicou.

Foi ela quem sugeriu o desenvolvimento do TrateCov, um aplicativo com o propósito de auxiliar médicos no diagnóstico e tratamento da covid-19, segundo o ex-ministro Pazuello. Na prática, o aplicativo recomendava o coquetel de medicamentos sem eficácia, até mesmo para crianças.

Mayra Pinheiro em depoimento à CPI; ela admitiu ser autora de áudio com notícias falsas em seu depoimento. Imagem: TV senado.

Mayra Pinheiro afirmou que “quem criou o aplicativo foram os técnicos de sua secretaria” – e que como secretária, a ordem precisaria ter partido dela para ser realizada pela secretaria.

O depoimento foi marcado pelo momento em que a secretária admitiu que foi realmente ela quem fez um áudio que circulou pelas redes sociais espalhando notícias falsas sobre a Fiocruz.

No áudio, Mayra Pinheiro dizia que “tudo deles envolve LGBT” e que “eles têm um pênis na porta da Fiocruz”, que “todos os tapetes das portas são a figura do Che Guevara” e as “salas são figurinhas do Lula Livre, Marielle Vive”.

A fundação não tem uma figura de um pênis na entrada, nem possui tapetes nas portas com a imagem de Che Guevara. Também não há envolvimento da fundação em campanhas de apoio a Lula ou sobre o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco.

Questionada pelo senador Randolfe Rodrigues se ainda pensava dessa maneira, Pinheiro afirmou que o áudio era antigo e que “nessa época isso era constatação de fatos”.

“Existia um objeto inflável em comemoração a uma campanha na porta da entidade”, disse ela. A Agência Lupa, através de uma checagem, mostrou que pelo menos outras cinco das declarações feitas pela secretária continham informações falsas.

Pinheiro afirmou que o aplicativo TrateCov não foi lançado, e que houve uma “extração indevida de dados por um hacker”. Mas o TrateCov foi efetivamente colocado no ar para auxiliar médicos em Manaus, com direito a um programa sobre seu uso na TV Brasil. Também não teria havido hackeamento nem extração indevida de dados.

A secretária também citou três notícias falsas sobre a Organização Mundial de Saúde. Disse que a entidade “retirou a orientação desses medicamentos [cloroquina e hidroxicloroquina] para tratamento da Covid”, que indica amamentação por mães soropositivas e que afirmou que o lockdown é responsável pelo aumento da pobreza e da miséria.

A Organização nunca indicou o uso de cloroquina para tratamento de covid-19 e declarou em 2020 que não havia eficácia comprovada do medicamento contra o coronavírus.

A entidade também não indica a amamentação por mães soropositivas em qualquer caso, deixando claro que isso não é seguro.

A posição da OMS é que, em locais onde o acesso a recursos é muito restrito e muitas crianças morrem por desnutrição, como em alguns países mais pobres, é preferível que as mães amamentem os bebês nos primeiros seis meses a deixá-los passarem fome.

A OMS continua indicando medidas de isolamento social para combater a pandemia. E reconhece que populações possam ter dificuldades devido às medidas, mas a entidade afirma que é responsabilidade dos governos cuidar da garantia de segurança alimentar das pessoas mais vulneráveis aos efeitos do isolamento.

Também neste depoimento, a secretária se viu obrigada a divergir da posição do presidente da República. Quando questionada pelo senador Randolfe Rodrigues (REDE-AP) sobre uma frase que o presidente teria dito, o presidente teria afirmado que como já teria sido infectado pelo vírus ele não teria que tomar a vacina, algo contrário a opinião de Pinheiro, que afirmou que mesmo as pessoas que já tiveram a doença devem se vacinar.

O depoimento da secretária não foi o único momento em que notícias falsas apareceram na comissão. Alguns senadores também basearam falas e perguntas em notícias falsas.

Ao questionar o executivo da Pfizer Carlos Murillo, o senador apoiador do governo Marcos Rogério (DEM-RO) afirmou que a informação que tinha “é que a vacinação nos EUA não começou em dezembro”.

Rogério questionava o executivo da Pfizer sobre o cronograma de entregas da empresa, apresentado com as propostas de compra, em 2020 — que o governo rejeitou.

No entanto, a informação de que a vacinação nos EUA começou no dia 14 de dezembro de 2020 foi amplamente divulgada na época. A campanha de vacinação nos EUA começou com vacinas da Pfizer/BioNTech, alguns dias depois de a FDA (agência regulatória americana) aprovar, em 11 de dezembro, uma autorização emergencial para o seu uso.

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