Pois é, Baixinho!

*Alcione Cavalcante

 

O ano de 2021 começou com uma noticia inesperada pra mim e que seguramente não gostaria de receber em momento algum. Bateu forte no âmago da construção da minha trajetória.

Fig 01 – Armando

De pronto, fui remetido de volta ao início da década de setenta. Como que se os anéis de crescimento da árvore da minha existência começassem a ser tecidos da orla pro cento, de fora pra dentro, o alburno pro cerne. Deste tempo encovidado, intolerante, boçal e também das agressões instantâneas e difusas, para uma época também intransigente, cabreira, sob o taco da censura, mas quando ainda exudava esperança e disposição de encarar a luta.

Escalo em segundos os quase mil metros de altitude que separam a Macapá de minha planície amazônica e o Primeiro Planalto Paranaense que aninha Curitiba. A fita volta e projeta, clara, a república do Garrafão/Garrafinha, o Juvevê e o Bar do Juca, que nos abrigaram, não sem alguns conflitos necessários, especialmente culturais.

Lembro-me do pequeno quarto bege que dividimos por dois anos n’O Garrafinha, a república dos novatos, administrada com dedicação e esmero pelo saudoso veterano Henrique, que por sinal foi quem me recepcionou, por ocasião de minha chegada.

Fig 02 – Garrafão

Caro, me lembro das peladas aos sábados à tarde no campo aos fundos da Faculdade, onde fazíamos um meio campo redondinho, que hoje não deixaria nada a desejar à média dos ditos craques do  brasileirão.  Claro que poderíamos ter brilhado mais, mas a “fominha”, atribuída por um ao outro, mas que você nunca admitia,  gorou muitos golaços.

Na formação acadêmica, aí sim, você sempre deu show e a mim serviu como mira de um teodolito, a orientar a direção correta. Como um microscópio que ajuda o entendimento da anatomia da madeira, ampliando telas e caminhos que a formação florestal possibilita.

Devo-te alertas com relação a algumas disciplinas que tornaram menos insólitos os caminhos, trilhas e picadas que levaram à conclusão, sem grandes tombos do curso de Florestas. Lembro as “espetadinhas” bem humoradas nos mestres, tipo “toma cuidado com Cálculo Integral, o Dragão não dá décimo pra ninguem (fumava 10 cigarros por aula)”. Ou, “o Pinto Louco não alisa”. Lembra? Pinto Louco era o Titular de Resistência dos Materiais, um dos melhores de uma cadeira das mais complicadas para nós todos. Terror da faculdade. Passou ali, não concluía se não quisesse.

A música também nos unia. Acho brother, que mais até que a música, o violão, onde arrancávamos acordes nem sempre precisos e podávamos meandros da harmonia pra acomoda-la à nossa parca habilidade.

Funcionava. Muitas noites, embotadas pelo frio, mas embaladas pela cachaça Trevisam temperada com Gasosa, ou em tempos faustos, por Conhaque Dreher. Lembro-me dos nossos hit’s: “E Agora Jose?”, poema de Carlos Drummond musicado por Paulo Diniz. “Amigo é Pra Essas Coisas” e Roda Viva com MPB-4.  Muito Milton Nascimento (Travessia, Morro Velho), Caetano, Gil, Gal. Chico Buarque com suas mulheres (A Rita, Carolina). . Nosso crooner preferido era o Joel ( Nugget, sem Bullying).

Aqui uma lembrança importante. Minha mãe sempre me pedia pra tocar, assim que voltava de férias, o samba do Chico “Logo Eu”, que ela amava e que eu nunca esqueci.

Tempos tristes e difíceis amigo.

Vá em paz.

  Alcione Cavalcante, (seu amigo Calourinho)

Em tempo. No desfiar dessas memórias, quase chego a sentir o cheiro da ameixeira e dos pinus que povoavam o acesso à nossa República.

A propósito e como que a refinar e reafirmar nossa sintonia, inesperadamente um Flow do Deezer toca “Caminhando”, do Geraldo Vandré.

 

 

 

  • Obrigada, Alcione Cavalcante, por sua homenagem ao meu irmão tão querido, Armando, muito linda, isso só mostra, o quanto ele era querido, obrigada por seu carinho e sua amizade, que Deus lhe abençoe grandemente!!! Abraços, amigo, fique com Deus!!!

  • Parabéns, pela bela homenagem ao teu Amigo, que com certeza está além de tuas memórias, guardado no coração!!!!!
    Uma boa exposição do cotidiano universitário, de quem vinha encarar Curitiba precariamente, em tempos difíceis, de um mal muito maior que a atual pandemia, pois era o homem predando o homem, controlando mais que o isolamento social atual.
    Sou decada de 80, mas tive aula com Manfred “Pinto louco” Schmid e Ricardo “Dragão” Mendes. Encontrei a ambos alguns anos atrás, na oportunidade de agradecer o bom conhecimento científico transmitido. Saudosa floresta, de tantos Colegas e até de Grandes Amigos.

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