Perpétuo Socorro: o cais da luz e do movimento

 *Alberto Perdigão é jornalista, professor, doutorando em Políticas Públicas. Autor dos livros Comunicação Pública e TV Digital (EdUECE, 2010) e Comunicação Pública e Inclusão Política (RDS, 2014)

*Ensaio publicado na revista Passagens, do programa de pós-graduação  em Comunicação da UFC. 

Nome: cais do Perpétuo Socorro.

Endereço: Igarapé das Mulheres, extremo da área urbanizada da orla de Macapá.

Ponto de referência: margem oeste do rio Amazonas, quase esquina com a linha do equador. É o centro do mundo, como afirma o amapaense orgulhoso de um lugar único na Terra, banhado pelo sol e pelas riquezas da Amazônia.

O paralelo é o zero, a luz é mil. Às 6 horas, o sol ainda está baixo em Macapá. Mas a luminosidade já está em alta, valorizando as cores e suavizando as sombras. Perfeito para fotografar, especialmente se o interessado quer explorar a luz natural ou se vai atirar o olhar com uma câmera semiprofissional ou com um telefone móvel.

A orla do rio Amazonas dispõe de equipamentos de turismo, esporte e lazer, e oferece alguns cartões postais: a praça Zagury, o trapiche Eliezer Levy, a pedra do Guindaste, a fortaleza de São José de Macapá, a estátua do padroeiro, dentro do rio, velando a cidade.

Toc, toc, toc, toc… passa a lancha, mais uma lancha, com destino ao cais do Perpétuo Socorro, ao Igarapé das Mulheres – que nome lindo! É uma referências às mulheres caboclas, negras e tucujus, que vinham lavar, na água corrente e pura, a roupa das famílias tradicionais e pioneiras do antigo território federal.

Há muito, a calha do igarapé está assoreada. O mato estreita a via. Algumas embarcações servem de casa. É difícil atracar mais um barco. Toc, toc, toc, toc… Algumas pessoas esperam daqui. Alguém acena de lá. Dois cachorros, solenes, balançam o rabo. Parece que é o dono deles que vem ali.

Pessoas desembarcam. Trazem o rosto do Brasil profundo, real e invisibilizado. Vêm de comunidades ribeirinhas, a horas de viagem daqui. Demandam a consulta, o exame, o remédio. Fazer uma compra que só se compra aqui. Matar uma saudade que só se mata aqui.

A feira se espalha. O comércio de produtos e serviços populares rodeia um galpão. É onde se empilham a farinha, a melancia, o açaí, a pupunha, as verduras e os temperos. Há um cheiro de Amazônia no ar.

Mais à frente, tem o camarão seco, tem o peixe salgado. Muito peixe. Filhote, tambaqui, pirarucu. Varejo e atacado. Preço bom, aqui, pratos deliciosos horas depois, nas casas, restaurantes e hotéis.

O cais do Perpétuo Socorro é um lugar de encontros. O mar de águas quase infinito do rio cumprimenta o pequeno canto de terra firme. A sabedoria centenária da floresta conversa com as notícias do dia a dia da capital. A tradição abraça a novidade. 

Nesse cais cheio de luz, tudo é movimento. O rio que sobe e desce a cada 12 horas, o barco que chega e sai a cada dia, pessoas que vêm e vão a cada semana, cargas que vão e vêm a cada mês. E aquele sol, como os barcos que descrevem um arco, antes de atracar no cais, também escrevem um marco no céu, até que não se o veja mais.

No dia seguinte, num movimento perpétuo e sem socorro, tudo começa a se mover novamente no cais.

Informações técnicas

As fotos foram produzidas, nos meses de setembro e outubro de 2018, com a câmera de um aparelho celular de marca Samsung, modelo J5/2016. Sem uso de flash ou filtros. Sem correção ou edição.

 

 

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