O “carnaval equinocial” e desafio de ”pensar fora da caixa”

*Vicente Cruz. Presidente da Liga das Escolas de Samba

A atual diretoria executiva da Liga Independente das Escolas de Samba do Amapá (LIESAP), no início deste ano, após o Governo do Estado e a Prefeitura de Macapá decidirem não fomentar o desfile oficial das escolas de samba, principal evento da entidade, propôs realizar o chamado “Carnaval Equinocial”, evento que se realizaria nos dias 22 e 23 do mês de setembro, este último dia do Equinócio da Primavera. Alegou que esta seria a saída para a sobrevivência do evento de forma sustentável, eis que com o atual modelo há concreto perigo dele desaparecer.

A grita foi geral. Vieram críticas de todos os lados, sobretudo da ala conservadora do carnaval que via na ideia da LIESAP uma acachapante tentativa de fulminar a tradição. Para eles, desfile oficial das escolas de samba “fora de época” é “ideia de jerico” ou de quem pouco conhece do assunto. Na modinha dos protestos, houve o grupo dos que rincham, que logo propôs ao presidente da LIESAP que também mudasse a semana santa e o natal, num sarcasmo idiota que bem revela seu nível intelectual. Aqui pra eles!

A LIESAP tinha detidos e profundos estudos que apontavam para a viabilidade econômica do evento, dado o apelo do fenômeno natural e a possibilidade de encartá-lo no calendário nacional pela singularidade da data. Aliás, para ser mais honesto no debate, os estudiosos da cadeia produtiva do carnaval, dentre eles o eminente Luiz Carlos Prestes Filho, autor da obra “A cadeia produtiva do carnaval”, asseverava que era uma oportunidade única do Estado do Amapá fazer um evento de dimensão nacional com excelente impacto na chamada economia criativa.

A atual diretoria da LIESAP, que propôs um modelo business de gestão, sabe da dimensão econômica do carnaval e seu impacto na economia do Estado. Uma atividade econômica que gera 10.500 empregos e movimenta 17,4 milhões de reais por ano, não pode ser debatida por amadores. É necessário envolver quem tem profundo conhecimento no assunto. Ocorre que quando se trata de carnaval a massa desqualificada inevitavelmente se intromete no assunto e achincalha quem tem profundidade ou quem, como a atual diretoria da LIESAP, “ pensa fora da caixa”.

A proposta da LIESAP se alicerça na vertente de que é preciso que o evento das escolas de samba do Estado saia do oceano vermelho em que se encontra, principalmente da concorrência de Rio de Janeiro e São Paulo, e crie um oceano azul onde possa ter a possibilidade de criar mecanismos de sustentabilidade, produzindo um espetáculo sem concorrência, e que atraia investidores culturais dispostos a acreditar na viabilidade do empreendimento.

Ocorre que propor que o desfile oficial das escolas de samba seja realizado em setembro é “pensar fora da caixa”, destoando, assim, da grande massa que pensa de acordo com o senso comum e não tem um dedo de criatividade e inovação para mudar a realidade. Paga-se um alto preço por isso, sobretudo num seguimento ultra tradicional e retrógrado, liderado por quem ainda debate a cadeia produtiva do carnaval ao redor das mesas de bar com um cavaco, um pandeiro e um tamborim. O resultado dessa resistência à mudança proposta é que teremos o fenômeno do equinócio sem um evento que possa gerar divisa, movimentar o turismo e criar postos de trabalho suficientes para amenizar o peso da crise. Mas a ideia está posta e quem sabe um dia   triunfará a ousadia de “pensar fora da caixa. ” Por enquanto, resta gritar “Chora cavaco!!!”    

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