O Amapá precisa existir!

Por Marco Antonio Chagas. Doutor em desenvolvimento socioambiental pelo NAEA/UFPA e professor da UNIFAP/Curso de Ciências Ambientais

 

“Não foi fácil à construção de um terminal em Santana para receber navios graneleiros no mais volumoso rio do mundo, sofrendo forte influência das marés e com uma geologia de leito jamais estudada.” Assim é destacada uma das frentes da ICOMI no Amapá, capitaneado pelo empresário da mineração Augusto Antunes, na década de 50.

O projeto de um cais flutuante foi elaborado pela empresa Morgan, Proctor, Freeman & Mueser para acompanhar as oscilações das marés, como pode ser observado em uma das citações de publicação da ICOMI na época: “o impacto que os navios imprimem à estrutura afasta os contrapesos da vertical, os quais, após a absorção do impacto, voltam à posição primitiva, trazendo a estrutura para o alinhamento normal”.

Os processos fluviais do sistema da foz do Amazonas caracterizam-se como os mais dinâmicos do planeta. Fatores como regime dos rios, ventos e correntes contribuem para o desvio da descarga fluvial do Canal do Norte em direção noroeste e formação de uma planície de acresção onde se acumulam milhões de toneladas de sedimentos anualmente.

A possível vantagem comparativa da localização do Amapá é relativizada pelos custos em se implantar uma logística portuária que possa se adequar a hidrodinâmica do Canal do Norte sem os devidos procedimentos tão conhecidos pelos práticos que operam na região, principalmente quanto à dragagem periódica de sedimentos.

Em recente entrevista em canal de televisão fechado, a ministra chefe da casa civil da Presidente Dilma, Gleisi Hoffmann, falou sobre dificuldades que o país enfrenta com sua logística portuária e destacou o Pará e o Maranhão como alternativas para desafogar Santos, Paranaguá e Tubarão.

A logística portuária pelo Amapá é tão ou mais viável do que pelo Pará e o Maranhão, com possibilidades de alternativas intermodais de portos fluviais e marítimos, implicando em redução de custos de fretes e menos impactos ambientais pela redução de emissões de carbono provocado pelos transportes rodoviários de cargas para os portos do sul.

A Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE/PR) contratou junto ao Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), estudos que apontam a construção de “um porto off-shore no Amapá para escoamento da bioprodução e de produtos minerais manufaturados”.

A ICOMI implantou a navegação no Canal do Norte do Amazonas, pois na época era maior que o Estado e por isso os papéis se confundiam. Não é possível que não tenhamos aprendido nada com o maior empreendimento de mineração da Amazônia e continuemos transferindo responsabilidades de Estado para a iniciativa privada.

O Estado brasileiro, que brigou para garantir o torrão do Amapá junto ao seu território e o usa para sustentar discursos ecológicos demagógicos junto à comunidade internacional, não é capaz de enfrentar as gigantescas disparidades regionais que nos faz pensar, a todo o momento, na hora da partida.

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