Ensaio sobre as relações provincianas de Macapá

Renivaldo Costa – sociólogo

Nos tempos de universidade, um professor de Antropologia insistia em rotular Macapá como provinciana. Para ele, na Região Norte, a única “cidade” (num conceito weberiano) seria Belém.

Não estou de acordo com meu professor de que Macapá seja muito provinciana, ainda que no privilegiado espaço do espírito, provinciano é quem se encerra nos resumidos preconceitos de uma comunidade fechada e olha com desconfiança para qualquer abertura do espírito e da ação da sociedade.

Macapá é uma cidade aberta em todas as latitudes de sua fronteira. Aberta para quem chega de avião ou de navio. Macapá não indaga a cor da pele nem o puxado dos olhos. Por isso mesmo produz um dialogo inter racional e regional marcante.

O amapaense como aliás quase todos os brasileiros, se têm um bom papo racial, demonstram um enorme preconceito contra o pobre. O pobre é discriminado em todas as dimensões sociais, do emprego à convivência mais simples.

Macapá, como toda cidade onde o dinheiro muda de mãos rapidamente e tem uma infinidade de novos ricos ou velhos complexados, tem, contudo, uma cultura muito colonizada e um gosto ainda mais colonizado. Aqui impera a sazonalidade das famílias, em função da dependência institucional. Ora mandam os Barcellos, ora os Capiberibe, ora os Góes, ora os Dias.

E nesse bojo, vivemos a ilusão dos novos ricos que pisoteiam os velhos pobres. E o pior – vivemos na ilusão de um patrimonialismo de fachada. Falsos ricos passeiam pela beira-rio em seus carros de luxo, mas vivem em casas feias, imundas. Já repararam que nos horários comerciais (entre 8h às 12h e das 14h às 18h), um exército de rapazes e moças passeiam pelas ruas em seus carros bonitos ou estão no shopping fazendo compras? Quem sustenta essa legião de vagabundos?

Não acredito que somos uma cidade provinciana, mas muito das nossas relações ainda são. Vejam um exemplo: aqui a vice-prefeita quer ser chamada da prefeita e na subprefeitura, onde deveria mandar o subprefeito, é ela quem despacha. Pode, Freud?

Somos escravocratas, temos preconceitos contra os pobres, somos culturalmente colonizados, mas somos paradoxalmente cosmopolitas; o dinamismo da política amapaense suplanta nossas limitações.

  • Concordo em partes. Hoje podemos afirmar que muito do pensamento provinciano está mudandom porém no Estado ainda impera o sentimento de provincia. Pense bem, inauguração de sinal de trânsito? até mesmo entrega de cesta básica tem que ter toda trupe reunida. Outro aspecto do sentimento de província é o fato de todo mundo se conhecer e pior saber da vida dos outros, basta pesquisar os “causos” que ja rolaram pela cidade. Como havia dito o sentimento de província aos pouco muda e se transforma em um sentimento de cidade “grande”.

    • De fato, a sazonalidade das familias no poder, cria um dinamismo na política que nem sempre é benéfico pro nosso povo.

  • Amo Macapá, mas concordo que a cidade ainda tem muito do aspecto provinciano.
    Aos Domingos os “novos ricos” vão exibir seus novos veículos na orla da cidade; o namorado da prima de décimo grau do Governador, pensa que é autoridade; inauguram os lugares da moda e os antigos viram “cemitérios”.
    Essas coisas são até engraçadas de serem vistas.
    Amo mesmo a minha cidade, mas tem coisas, aqui, que são bem engraçadas.
    Adorei o texto do Renivaldo.
    Beijos, tia.

  • muito bom o texto renivaldo, e me chama atencao o trecho que fala dos carros de luxo, pois é so o que vemos, passeios de carros de luxo geralmente comprados por novos empresarios ou por funcionarios nomeados, é ridiculo de se ver…

    • Perfeito o exemplo da vice-prefeita. Que mulher metida a besta. Numa reunião na zona norte na semana passada, na subprefeitura, ela disse ao Hercílio Mescouto que o Roberto só está com 80% de aprovação graças a ela. Que quem manda é ela.

  • Concordo em parte com teu texto Renivaldo.
    Quanto a frase: “o dinamismo político suplanta nossas limitações”, você não acha que isso só ocorre por que os “ditos intelectuais” se transformam em verdadeiros parasitas do poder?

    • Eu tb concordo em parte e oque vc diz sobre os “ditos intelectuais”, é a mais pura verdade.Os tais se acham,mas na verdade são os “sanguessugas” do poder.Tb acho muito provinciano o tal desfile de carrões,beirando ao ridículo.Macapá cresceu,mas o legado de pais p/filhos parece um continuísmo sem fim.Antes,quem era proprietário de um posto de combustivel ou um boteco,aqui era considerado rico,mas hj isto já deveria ter mudado.Só que muitos ainda carregam este legado e se acham,dai sermos tachados de provincianos.Eu mesma acho o “O” alguém chamar um prédio c/algumas lojinhas e uma minguada praça de alimentação de shopping.Enfim,penso que a mentalidade de certas pessoas já deveria ter evoluido e acompanhado o desenvolvimento do Estado.

  • Renivaldo, Parabéns pelo brilhante texto. Aliás, lhe é peculiar. O que vc abordou é uma verdade pura. Esta província está movida pelos RICOS, NOVOS RICOS E METIDOS A RICO, sustentados pelo erário público. E quem alimenta esse erário são os VELHOS POBRES.

  • Belém é uma provincia um pouco maior que Macapá. Provincianismo existe até em São Paulo depende da tribo que voce frequente. Parabéns ao Renivaldo.

  • O Renivaldo teve coragem de dizer o que todos nós temos vontade de bradar aos quatro ventos. Essa Helena Guerra é uma mala sem alça.

  • Concordo plenamente com vc, lembro dos debates que tinha-mos com nosso professor a respeito desse assunto teimoso dele entre nos…. bjs e Parabens pelo seu comentario….

  • Meu caro Renivaldo,
    O seu professor realmente tinha e tem razão.
    Nossa Macapá é provincianíssima.
    Aqui todos se conhecem, sabem da vida do outro, pelo bem e pelo mal.
    Aqui como nas Províncias todo mundo obedece as autoridades do poder é claro, como governador e prefeito.
    Aqui e acolá, quando os governantes não atendem os anseios de alguém logo é taxado de incompetente.
    Na história de Macapá já tocaram fogo na Prefeitura/Intendência, para desaparecer documentos públicos.
    Aqui todos referenciam os “lideres” como governador e prefeito, basta eles estarem no poder, pois era assim nas Provincias.
    Aqui como autoridade até o Sarney é lider.
    Aqui quando é julgado uma sentença que envolve pessoas públicas, no final da sessão todos vão parabenizar os magistrados e estes parabenizam as pessoas julgadas, com tapinhas nas costas.
    Assim era as Provincias, os mandatários fazimas de seus filhos doutores para no futuro dirigir as Provincias.
    Assim é a nossa Macapá também de ontem e de hoje.
    Veja só, dizem que os Alcolumbres querem fazer do Josiel um “vice governador”, mesmo sem ele nunca de participado de lutas estudantis de sua época, nunca visitou uma comunidade carente fora de campanha política e nunca participou de nenhuma caminhada da cidadania da vida de nossa Macapá.
    Macapá é linda demais e provinciana e não queremos que mude este rótulo.
    Queremos que mude os governantes que realmente apareça um que trabalhe para o povo, para os desfavorecidos e gente carente dando progresso como educação, cidade limpa, ruas arborizadas, prédios públicos lindos e bem administrados, não por cabos eleitorais como sempre fizeram, mas como fazem as Provincias do mundo a fora, com pessoas dignas e comprometidas com o desenvolvimento de nossa população.

  • Trabalhei na Band, que é do Josiel e hoje faço medicina em Cochabamba. Uma vez morreu o pai de uma funcionária e fomos pedir um apoio do Josiel para o funeral. Ele respondeu a mim e ao Zé da Mido: “Não fiquei rico fazendo filantropia!. É esse vice que vcs querem?

  • OLHA, A MINHA TESE É QUE, MACAPÁ É QUINTAL DE BELÉM. SIM, PQ BELÉM É O LIMITE PARECE. EU TIRO POR EXEMPLO A ‘CARAVANA DA CIDADANIA’ (UMA COISA ASSIM, NUM LEMBRO DIREITO O NOME), UM QUADRO DO JORNAL NACIONAL – PRECISA FALAR QUAL A EMISSORA? ‘=-/ – E ELES COMEÇARAM PELAS CIDADES LITORENEAS, AÍ EU TODO FELIZ VENDO A MATÉRIA NO PARÁ ACHANDO QUE NO OUTRO DIA SERIA O DAQUI. MAS NÃO! PASSARAM DIRETO PRA MANAUS. “POHA!”, DISSEMOS AQUI EM CASA, “SACANAGEM DELES…”. É ASSIM MEUS AMIGOS, AINDA ESTAREMOS ISOLADOS DO PAÍS ENQUANTO NINGUÉM CONCLUI AQUELA MARDITA PONTE NO LARANJAL, COITADO, SÓ OS PILARES DE FORA. AS VEZES DÁ VERGONHA EM DIZER QUE É AMAPAENSE MESMO. 😉

  • Cada um com sua opinião, né?
    Concordo com alguns trechos, discordo de outros. Mas eu fico me perguntando: por que essa “cabecinha” pensante fazia no programa intelectualíssimo “O troco na TV”, fazendo companhia a Da Lua e Rodrigo Portugal, figurinhas sem nenhum resquícios de sensibilidade e que adoram aparecer através do escárnio e da bagunça.

  • Esse é o Renivaldo: Péssimo escritor e excelente puxa-saco.
    Não adianta. Não existe baba-ovo que faça alçguma coisa que mereça crédito.
    volte à sua plena insignificância.

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