Ciência ou Science?

(Marco Antonio Chagas é doutor em desenvolvimento socioambiental pelo NAEA/UFPA e professor da UNIFAP/Curso de Ciências Ambientais).

 

Acompanhei atentamente a provocação do senador Capiberibe com relação ao debate sobre os desequilíbrios intraregionais de aporte de recursos para pesquisa e consequente escassez de recursos humanos qualificados na Amazônia. Penso que fixar o pesquisador na região seja o maior desafio. Outrora, vários doutores vieram para o Amapá e não permaneceram, por vários motivos. Os poucos que permanecem estão à espera de uma oportunidade para “zarpar”. A questão salarial talvez não seja a mais relevante.

A cultura institucional é determinante para a pesquisa e isso é incipiente na maior parte da região amazônica, incluindo o Amapá. Por cultura institucional entendo um conjunto de valores e princípios que motivam pessoas a se dedicarem à inovação do conhecimento aplicado ao bem comum e à comunidade.

Na Rio+20, a ONU convocou as nações para construir uma nova era pelo desenvolvimento sustentável. No caso do Brasil, que sediou a Rio+20, não existe determinação política para apoiar pesquisa que possa suprir as necessidades de uma ciência voltada para a sustentabilidade e a transição para uma economia verde.

O pesquisador é motivado pelo desafio do novo. Na época do PDSA, pela inovação em termo de política púbica, o Amapá atraiu muitos pesquisadores. No Acre, aconteceu a mesma coisa com o Governo da Floresta. As vagas para docentes com doutorado ofertadas nos últimos concursos públicos pela UNIFAP e UEAP não foram preenchidas integralmente pela falta de candidatos. O que motivaria hoje um pesquisador com doutorado a vir para o Amapá?

O Brasil sediará em 2013 o Fórum Mundial de Ciência. O Fórum será realizado na cidade do Rio de Janeiro. O Governo Brasileiro definiu que os encontros preparatórios serão realizados em Belo Horizonte, Salvador, Recife, Manaus, Porto Alegre e Brasília. Em cada um deles serão discutidos temas relacionados aos principais desafios da ciência neste século, nos contextos nacional e internacional. Quatro temas serão comuns a todos: “Educação em ciência”, “Difusão e acesso ao conhecimento e interesse social”, “Ética na ciência” e “Ciência para o desenvolvimento sustentável e inclusivo”.

É hora dos Estados da Amazônia se organizarem para chegar ao Fórum Mundial de Ciência com suas agendas, não necessariamente integradas, mas legitimadas enquanto representação da realidade dos problemas regionais negligenciados pelo roteiro “science” de interesse colonialista.

 

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