As relações sexuais e afetivas em tempos de coronavírus

*Renata Ferraz – Psicóloga Clínica

A sexualidade é uma dimensão da vida humana de características muito complexas principalmente se considerada no contexto das relações conjugais, visto que, cada pessoa vivencia sua sexualidade de forma distinta e seus “papéis sexuais” são aprendidos ao longo de sua existência biopsicossocial.

Durante muito tempo a relação conjugal e o sexo foram constituídas sob um modelo estrutural patriarcal, embasada em padrões morais, éticos e comportamentais que fomentavam a submissão e negligenciavam o desejo sexual, principalmente o feminino, considerando o ato apenas com fins reprodutivos.

No entanto, nos últimos anos houveram muitas mudanças sociais significativas que descaracterizaram os papéis sociais e de gêneros entre os tipos de relações e orientações sexuais, contribuindo assim para novas composições de valores, “padrões sociais” e relações conjugais, visando uma melhor elaboração psíquica e aceitação social.

Diante de tantas modificações, o sexo também se reconfigura (apesar de ser entendido pelo senso comum como um ato íntimo), haja vista que a sexualidade também é uma construção social, marcada historicamente por interditos de ordem moral, submetida a dispositivos de controles e ideologias predominantes. Assim, à medida que a sociedade descontrói muitos desses valores, o comportamento sexual também sofre mutações provenientes destas desconstruções.

Analisando-o a partir do um contexto novo que fomos obrigados a reconfigurar nossas relações sócio afetivas em tempos de pandemia do coronavírus, surge a pergunta. Como redimensionar as relações sexuais, quando o isolamento social e o mínimo de contato físico são necessários para evitar a propagação de um vírus tão agressivo?

Sem dúvida a vida sexual é mais um, entre tantos comportamentos humanos que foram impactados diretamente pela pandemia. Em muitas relações têm se tornado difícil entrar no clima com o “fantasma da Covid-19” e todas as suas consequências “assombrando” o cotidiano familiar, afetivo e íntimo. A sobrecarga devido ao estresse, a ansiedade de perder o emprego, a quebra da rotina, o medo do contágio, o acúmulo de tarefas e a própria vida “ameaçada” potencialmente têm o poder de afetar todos os relacionamentos e de intoxicar o desejo sexual.

Portanto, não deve haver sentimento de culpa entre as pessoas que não estão conseguindo manter habitualmente as relações sexuais, nem pressão emocional por achar que está fazendo menos sexo do que deveria. Não existe uma frequência sexual considerada referência para mensurar a qualidade do sexo em uma relação conjugal. A vida sexual de um par é uma espécie de “acordo” que se faz com a outra “metade”, logo, é algo extremamente subjetivo, não havendo jeito certo ou errado para sua vivência.

Desta forma, não se deve tratar a sua vida sexual em um relacionamento como uma causalidade ou uma obrigação rotineira. A sexualidade está relacionada com a qualidade de vida, sendo fundamental para saúde física, emocional e espiritual da pessoa. A própria Organização Mundial da Saúde – OMS a define como uma energia que nos motiva e influencia nossos pensamentos, sentimentos, ações e interações, além de influir consideravelmente na saúde e no bem-estar.

Uma vida sexual prazerosa começa na cumplicidade com seu parceiro, mesmo com seus conflitos e suas divergências de opiniões. O diálogo autêntico sem medo de retaliações e a descoberta de gostos e desejos íntimos do seu par fortalece a conexão e sintonia da intimidade.

A falta de sintonia e o desencontro de expectativas são alguns dos principais motivos que levam as pessoas a afastarem-se, deixando o sexo para segundo plano. Então, não tenha medo em conversar sobre o relacionamento, a boa comunicação é a chave do sucesso para qualquer tipo de relação. Expor as suas ideias, deixando claro o que pensa, o que gostaria de testar e descobrir e, principalmente, ouvindo o que o outro tem a dizer possibilita o descobrimento de curiosidades em comuns e novas perspectivas dentro da relação, que ajudam a superar os momentos de tensão vivenciados nestes tempos de pandemia.

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