Música “Sabor Açaí” de Joãozinho Gomes e Nilson Chaves está entre as 51 maiores músicas brasileiras de todos os tempos

 

Por Giancarlo Galdino

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Ao longo da história, a música alcançou papel de destaque cada vez maior. Na Idade Antiga, já se verificava o costume de diferentes civilizações celebrarem seus deuses mediante um desdobramento de sons harmoniosos entre si, que obedeciam a uma escala pré-determinada. Na vanguarda em muitos dos costumes adotados entre os povos atávicos — muitos dos quais ainda hoje observamos —, os romanos foram os primeiros a fazer da atividade musical um negócio ao encomendar composições e importar instrumentos; na Roma Antiga, a música adquiriu igual evidência na política, uma vez que todos os pronunciamentos no Senado eram acompanhados por uma orquestra.

A propagação do trabalho de músicos e intérpretes deve muito também à Igreja. Na Idade Média, o papado de Gregório (540-604) se caracterizou por uma verdadeira revolução nos usos durante as missas. Gregório, eleito em 590, se dedicou pessoalmente a catalogar e popularizar hinos em latim que reproduziam o Evangelho e exaltavam o divino. O canto gregoriano foi se tornando um hábito e conquistando plateias além dos templos, fenômeno que ganha ainda mais força a partir do século 11.

Pensadores que organizaram a filosofia como a conhecemos hoje, a exemplo de Platão (427-347 a.C), Aristóteles (384-322 a.C) e Santo Agostinho de Hipona (354-430), enxergam na música uma maneira eficiente — talvez a mais eficiente — de conectar corpo e espírito, justamente por ser uma atividade que demanda trabalho físico e elevação intelectual. Esses polímatas enaltecem na música seu caráter civilizatório, moldando personalidade afáveis ao diálogo, graças aos muitos gêneros em que pode se constituir. A música é alento para o desesperançado, estímulo para o covarde e sossego para o impetuoso.

Sabor Açaí

E prá que tu foi plantado
E prá que tu foi plantada
Prá invadir a nossa mesa
E abastar a nossa casa…

Teu destino foi traçado
Pelas mãos da mãe do mato
Mãos prendadas de uma deusa
Mãos de toque abençoado…

És a planta que alimenta
A paixão do nosso povo
Macho fêmea das touceiras
Onde Oxossi faz seu posto…

A mais magra das palmeiras
Mas mulher do sangue grosso
E homem do sangue vasto
Tu te entrega até o caroço…

E tua fruta vai rolando
Para os nossos alguidares
Tu te entregas ao sacrifício
Fruta santa, fruta mártir
Tens o dom de seres muito
Onde muitos não têm nada
Uns te chamam açaizeiro
Outros te chamam juçara…

Põe tapioca
Põe farinha d’água
Põe açúcar
Não põe nada
Ou me bebe como um suco
Que eu sou muito mais que um fruto
Sou sabor marajoara
Sou sabor marajoara
Sou sabor…(2x)

Põe tapioca
Põe farinha d’água…(9x)