Temos os melhores pescadores vocacionados, os melhores peixes e o maior banco pesqueiro do mundo. Veja entrevista de Clécio sobre pesca e carpintaria naval

“Temos os melhores pescadores vocacionados, os melhores peixes e o maior banco pesqueiro do mundo. Nos falta tecnologia embarcada, gelo, entreposto comercial e outras estruturas, para que nossa pesca gere mais riqueza”. Diz Clécio. “Barcos do mundo inteiro pescam na costa dos municípios do Amapá, Calçoene e Oiapoque”

Sobre Carpintaria Naval, no bairro do Elesbão

 

  • Tive apenas um encontro com o ex-prefeito Clécio, e abordamos especialmente a situação e o tratamento de nossos recursos pesqueiros. A grandiosidade de nossos estoques marinhos é incomensurável e não vemos absolutamente nada que possa ser traduzido como retorno econômico e social para nosso povo. Sequer abastece nosso mercado local. Incipiente em consumo de frutos do mar, bem abaixo da média nacional.
    Aliás, desde quando o Capi foi secretário de Agricultura, fiquei fascinado com nossos recursos pesqueiros, ao descobrir seu potencial inexplorado. Nessa época eu havia sido emprestado pela Cea à Secretaria de Agricultura e fui acompanhar um levantamento, acompanhando um grupo de especialistas formado pelo engenheiro de pesca Geraldo, hoje no Ibama, João Bosco Dias(que Deus o tenha), na época à frente do PESCART e o engenheiro agrônomo José Maria Botelho, diretor do Departamento de Recurso Naturais da Secretaria de Agricultura.
    O objetivo do levantamento de campo seria descobrir um ponto ótimo para a implantação de um polo frigorifico no antigo Território Federal do Amapá. E por incrível que possa parecer, dois pontos apenas se enquadraram como prováveis para implantação do polo: Santana e Oiapoque. Todos eles atendendo um mensurador principal: o calado.
    Santana tem calado para aporte de embarcações pesqueiras, de porte industrial, com infraestrutura energética, especialmente, porém mais distante dos estoques pesqueiros. Já Oiapoque, nas imediações da atual Vila Vitória, atende as necessidades de calado, está muito próximo dos estoques pesqueiros, porém sem infraestrutura energética capaz de suportar um polo frigorífico de porte internacional. Mas é o mais viável pela estratégica posição junto à Guina Francesa, com saída para o Atlântico Norte e Europa, diretamente ou via Caiena.
    Qualquer outro ponto já se provou ser meramente doméstico, sem capacidade nenhuma de funcionar como polo econômico e desenvolvimentista para o estado do Amapá. Foi o caso do Terminal Pesqueiro implantado do município de Amapá, em 1987, fruto de um estudo do IPT/USP, que concluiu que seria o grande irradiador de desenvolvimento do setor pesqueiro do então Território Federal. Deu no que deu. Perdeu-se dinheiro, tempo e mostrou a incompetência e desconhecimento de nossa realidade. Não tinha calado e fenômenos hidrossedimentológicos enterraram o projeto e o investimento público.
    Pularam para Calçoene, com calado um pouco maior, porém continuando nos níveis de pesca artesanal, utilizando pequenos barcos e com limites de níveis de maré para entrar e sair do rio Calçoene. Hoje está provado que é apenas um paliativo econômico para o município. Sem perspectiva de avanço desenvolvimentista.
    Hoje, grandes barcos pesqueiros vem do Pará, especialmente, acompanhados de dezenas de pequenos barcos chamados “piolhos”. Ficam fundeados bem distantes da costa. Alguns são barcos fábricas. Processam todo pescado a bordo e levam para os principais portos de desembarque pesqueiro do estado do Pará, tais como Ver-o-Peso, Vigia de Nazaré, Bragança e São João de Pirabas.
    Os “piolhos” são pequenos barcos encarregados de pescar em água rasas por terem pequeno calado, pescando, via de regra, a uritinga e alguns outros bagres. Esses barcos ficam em média 90(noventa) dias pescando, quando então retornam a seus portos. O movimento pesqueiro é feito pelo barco “mãe” que recebe sua produção e ruma para os portos onde desembarca no pescado.
    O pior de tudo é que nossos estoques pesqueiros são mapeados e vendidos por empresas baseadas em Hong Kong, podem acreditar. Digo isso porque ao chegar à foz do rio Cunani, fui apresentado pelo caseiro de um amigo a uma sonda, extremamente sofisticada. Era uma capsula de vidro grosso, hermeticamente fechada, contendo pequenas células fotovoltaicas, sonar para varrer em tempo real o fundo do mar, e sistema de transmissão via satélite, retransmitindo os dados à empresa. Me explicou que aquele exemplar chegara à praia montada em uma pequena balsa de bambu.
    Imaginem minha curiosidade. Fotografei todos os dados e corri para a internet, em Macapá, assim descobrindo como funciona o sistema de transmissão de dados. Eles lançam as sondas na corrente oceânica e monitoram em tempo real os dados captados pelo sonar. Quando encontram grandes cardumes de pescado concentradas em algum ponto do mar, disparam comunicação com as frotas pesqueiras e vendem as coordenadas a preço de ouro. Assim os barcos diminuem, e muito, seu custo operacional, aumentado sua margem de ganho. Graças a alta tecnologia.
    Além de tecnologia, precisamos de vontade política e competência para pensar no aproveitamento de nossas riquezas e tornar o Amapá um grande estado, não esse pedinte de décadas e décadas, de verbas da União.
    Desafio algum de nossos políticos com mandato, a pensar em desenvolvimento, e mudar esse velho discurso de buscar recursos em Brasília. Vamos pensar em trabalho, produção, nos tirar desse isolamento insular, colocar o Amapá de frente para o Brasil. Por enquanto, décadas após décadas só tenho ouvido bazófias. E como dizia nosso velho Paulo Henrique Amorim, muita conversa fiada.

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