Até quando vamos matar nossos pretos e pretas?

Jornalista e ativista social- Lilian Monteiro

Dois crimes bárbaros marcaram e pautaram a sociedade e a imprensa durante toda a semana. Falo sobre os assassinatos cruéis do congolês Moïse Kabagambe, 24 anos , espancado até a morte, por cinco homens no quiosque Tropicália, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. E também, Durval Teófilo Filho, 38 anos, morto pelo sargento da Marinha Aurélio Alves Bezerra, que o confundiu com um ladrão.

Ambos episódios de barbárie aconteceram no estado do Rio de Janeiro, contra dois homens pretos, que carregam na pele a triste realidade de uma sociedade que perpetua o racismo estrutural e mata todos os dias um de nós, com o preconceito letal. Que país estamos construindo? É lamentável a nossa condição humana. Continuamos anestesiados vendo pretos e pretas sendo mortos por um racismo hediondo.

Moïse veio junto com família para o Brasil como refugiado em 2011, fugiu da guerra do Congo, mas a sua batalha, assim como a de Durval e de todos os pretos e pretas desse país é construído dia a dia, na luta para vencer e provar todos os dias, que nossos corpos não devem ser animalizados e chicoteados pelo sistema da crueldade de uma sociedade excludente e cruel.

Essa xenofobia desenfreada continua aniquilando muitas pessoas. A discriminação racial continua presente em muitas partes do Brasil, onde afro-brasileiros são frequentemente alvos de ataques por motivos raciais.

Durval Filho, assim como muitos brasileiros saia cedo de casa e voltava tarde para garantir o sustento da família. Mas na quarta- feira, 2, de fevereiro, cumprindo mais uma rotina, ele voltou para seu lar, às 23h, havia esquecido sua chave e estava mexendo na bolsa, quando de repente foi recepcionado a tiros por seu vizinho que o confundiu com um bandido…Até quando a nossa cor vai gerar desconfiança e ódio? Até quando seremos mortos com piadinhas racistas? Até quando seremos confundidos com criminosos por termos a pele preta? Até quando crimes como esses ficarão impunes?

“O que aconteceu foi uma covardia, porque meu irmão era trabalhador. Meu irmão nunca encostou em nada de ninguém. Ele sempre saiu de casa cedo. Minha mãe criou três filhos sozinha e nenhum seguiu vida errada. Ele era o único irmão que eu tinha e acontece um negócio desse? Ele tira a vida do meu irmão? Aí vai dizer que é legítima defesa? Não tem como. Meu irmão não tinha arma, meu irmão veio do serviço, ele veio do trabalho. Ele chegou em casa onze horas da noite”, disse Fabiana irmã se Durval.

Ninguém atira para não matar,
racismo é estrutural,a violência contra as mulheres e negros e LGBTQIA+ é estrutural. Vivemos reféns de um país violento, racista, que mata o povo que é história, é raiz, é negritude. Temos também a polarização desenfreada e um governo que alimenta o ódio.

Um dia um trabalhador é espancado até a morte num quiosque, no outro um cidadão chega na sua casa mexe na mochila e é morto. Ambos seres humanos que a sociedade insiste em retirar de suas famílias covardemente.Até quando vamos ver nossos irmãos morrendo e tudo continua como está?

Que as famílias de Moïse e Durval recebam o abraço de uma mulher preta que luta todos os dias pela dignidade de todos nós. Vidas Negras Importam.

Jornalista e ativista social- Lilian Monteiro

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