Dom Pedro José Conti
Bispo de Macapá
Santo Aquilino era muito venerado em toda a região. Porém tinha a fama de ser um santo que não sabia fazer as coisas direito. Fazia os milagres pela metade. Um velho, paralítico de ambas as pernas, contava a própria história. Um dia ele tinha sido salvo por Santo Aquilino da morte certa. Foi quando uma enorme quantidade de pedras desprendeu-se da montanha e ele teria morrido, com certeza, se tivesse ficado em baixo de tudo aquilo. Escapou por milagre! Mas Santo Aquilino fez as coisas mal feitas. Naquela confusão, uma grande pedra desprendeu-se do resto e caiu nas costas do pobre coitado, deixando-o paralítico para sempre. Todos os dias e o dia todo, o velho ficava sentado em um banco de pedra, na frente da sua casa. Acima da porta estava pendurada uma bonita imagem do Santo. De vez em quanto, o velho olhava para o Santo e lhe dizia: “Ó Santo Aquilino, meu querido, são mais de mil anos que és santo, poderias ter aprendido a fazer as coisas bem feitas, não poderias? Já que me salvou a vida, não podia ter prestado atenção também nas minhas pernas?”
Uma historinha para sorrir, evidentemente. Peço desculpa aos Santos e às Santas, de todos os tempos, tipos e idades. Não foi por falta de respeito que a contei, ao contrário; sempre imagino os Santos e as Santas bem-humorados, alegres e felizes, também nas dificuldades.
A santidade verdadeira e as grandes virtudes humanas só podem andar juntas. Não tenho dúvidas. Se alguns Santos e Santas arrastaram multidões e marcaram a suas épocas, não foi por penitências e a austeridade. Foi pela capacidade de manifestar e transmitir tamanha confiança em Deus, tamanha certeza no valor insuperável da vida eterna, que os sofrimentos, as renúncias, os jejuns, e até o martírio, pareceram bem pouca coisa para eles. A alegria de estar perto de Deus, de estar juntos com Ele, foi tão grande e visível, que o resto: bens, honrarias, saúde e a própria vida, tudo passou para o último lugar. Os Santos e as Santas tinham tanto desejo do céu, que mexer com coisas mundanas tornava-se um tormento. Se algo os deixava insatisfeitos eram as injustiças, o desprezo e a falta de atenção para com os pobres, os sofredores, as crianças e os jovens. Com Deus no coração, os verdadeiros Santos e Santas não podiam ser tristes, de jeito nenhum. Nunca conseguiam ficar sérios demais, deprimidos ou desanimados. Nem querendo. A alegria deles e delas devia ser contagiante. Enfim, ainda hoje não se consegue convencer ninguém da bondade e da beleza de conhecer, amar e seguir a Jesus, se não se faz isso com alegria e entusiasmo.
Deveríamos, portanto, pedir mais aos Santos e às Santas um pouco da convicção deles, um pouco daquela firmeza, daquele ânimo, daquela coragem que os tornou famosos. Isso significa que os Santos e as Santas que a Igreja nos propõe como modelos de virtudes foram os tais durante a vida deles, e não após a morte. É conhecendo a vida deles que deveríamos aprender a buscar e a viver a santidade. Agora que estão no céu, nada nos impede de confiar na intercessão deles para conseguir graças e favores. Às vezes pensamos que um Santo seja mais poderoso do que outro e que cada um tenha a sua especialização em algumas questões. Deveríamos sempre lembrar que foi durante as suas vidas que ganharam os seus merecimentos aos olhos de Deus. Se estão na glória de Deus e podem interceder por nós, foi por aquilo que fizeram durante a vida e não depois da morte.
Se o Santo Aquilino, após tantos anos, era ainda aprendiz em fazer milagres, podemos acreditar ou não. O importante é que foi plenamente santo durante a sua vida. É a nossa maneira de agir, de gastar para o bem ou para o mal os poucos dias da nossa existência humana, que pode fazer de nós os santos de hoje. Por isso também lembramos nestes dias a vida e o exemplo dos nossos irmãos e irmãs falecidos. A vida deles e não somente a morte.