Do blog da jornalista Lúcia Hipólito, em O Globo

Perna curta

Um dos argumentos utilizados pelo senador José Sarney para convencer os demais senadores a apoiá-lo foi o de que Carlos Augusto Montenegro, diretor-presidente do Ibope, lhe havia garantido que o escândalo só tinha chegado às elites, às classes A e B. As classes C, D e E não tomaram, segundo Montenegro, conhecimento do escândalo.

Vamos passar rápido pela injustiça que este tipo de pensamento comete com os milhões de pobres deste país. O que o argumento embute é um tremendo preconceito contra os menos favorecidos, como se eles não se incomodassem com roubo, com apropriação do dinheiro e dos espaços públicos.

Os mais pobres sabem que desvio de dinheiro público é dinheiro desviado da saúde pública, do saneamento, da educação, dos transportes, da habitação popular, dos remédios a preços populares.

Vamos passar rápido.

O fato é que hoje recebi um telefonema de Carlos Augusto Montenegro, que me afirmou categoricamente que não fala com o José Sarney há cinco anos. Afirmou ainda que essa suposta pesquisa não existe e que ele, Montenegro, não pensa dessa forma, bem ao contrário.

Ficam aqui as palavras de Carlos Augusto Montenegro, diretor-presidente do Ibope.

Jornalistas do Amapá em O Globo, ontem

Quinta-feira, 6 de agosto de 2009

O PAÍS 9

Sarney move diversas ações contra jornalistas
Bernardo Mello Franco
Senador, ao contrário do que afirmou, é autor de processos contra imprensa desde a ditadura

BRASÍLIA. Ao contrário do que disse em nota oficial, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), é autor de diversas ações judiciais contra jornalistas que publicaram críticas e denúncias contra ele. No período da ditadura militar, o fundador de um jornal no Maranhão chegou a ser condenado a um ano de prisão após ser processado por Sarney com base na antiga Lei de Imprensa. Recentemente, ele tirou blogs políticos do ar no Amapá e moveu pelo menos cinco ações contra jornalistas em Brasília e no Maranhão.

Em nota divulgada na segundafeira, o presidente do Senado afirmou defender a liberdade de imprensa e alegou não ter sido avisado pelo filho Fernando Sarney da ação que provocou a censura ao jornal “O Estado de S.Paulo”. “Todo o Brasil é testemunha de minha tolerância e minha posição a respeito da liberdade de imprensa, nunca tendo processado jornalista algum”, escreveu José Sarney.

No entanto, uma busca nos sites dos tribunais de Justiça do Distrito Federal e do Maranhão revela que o senador move pelo menos cinco ações contra jornalistas e veículos de comunicação. Só o jornalista Lourival Bogéa, diretor e proprietário do “Jornal Pequeno”, responde a três processos e uma representação criminal apresentada ao Ministério Público Federal em 2008.

Também são alvo de processos o jornalista João Mellão Neto, articulista do “Estado” e deputado estadual em São Paulo pelo DEM, e o “Jornal de Hoje”, do Maranhão.

No Amapá, arrastam-se até hoje dezenas de ações movidas pela coligação de José Sarney durante a campanha eleitoral de 2006. Ontem mesmo, o repórter Antônio Corrêa Neto, autor de um blog político, foi notificado pelo Tribunal Regional Eleitoral para pagar uma multa de R$ 21 mil por críticas a Sarney.

Apenas uma jornalista foi alvo de mais de 20 ações Também em 2006, a jornalista Alcinéa Cavalcante teve o blog retirado do ar quando liderava a campanha virtual “Xô Sarney”. Ela foi alvo de mais de 20 ações e acumula R$ 900 mil em multas do TRE.

Durante o período da ditadura, a publicação de denúncias de corrupção contra o então governador Sarney levou o fundador do “Jornal Pequeno”, José Ribamar Bogéa, pai de Lourival, a ser condenado a um ano de prisão. Ele permaneceu em liberdade graças a um habeas corpus do Supremo Tribunal Federal, concedido por unanimidade em dezembro de 1970.

Por meio de sua assessoria, Sarney disse que João Mellão Neto é político e que as três ações contra Lourival Bogéa não foram movidas contra o jornalista, mas, sim, contra “uma pessoa que o persegue politicamente há décadas”. A assessoria afirmou que não localizou o presidente do Senado para que ele comentasse os processos contra os blogueiros do Amapá.

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