“Tenho TDAH. E daí?”. Um relato sobre rotinas, desafios diários, vivência e estratégias

*Ruan Aguiar. Jornalista e acadêmico de Comércio Exterior 

Olá, me chamo Ruan e vou te falar um pouco da minha rotina com o TDAH. Minha rotina é baseada no medo. Medo de errar, medo de ser percebido ou taxado como “diferente”, o medo de ser mandado embora do emprego, etc. Essa rotina se confunde com as frustrações quase que diárias e o pior é que esses medos e frustrações são, muitas vezes, tratados como frescura, modinha e com palavras duras, olhares diferentes.

Com tanta modinha, acham mesmo que eu iria escolher uma moda que me deixa diariamente apavorado e com todos os meus medos? Acham mesmo, isso?

Dados da comunidade médica e científica mostram que entre 3 e 6% da população mundial sofre com o Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade, mais conhecido como TDAH, distúrbio neurobiológico crônico que se caracteriza por desatenção, desassossego e impulsividade. Esses sinais devem obrigatoriamente manifestar-se na infância, mas podem perdurar por toda a vida.

Eu sempre entendi que tinha certas dificuldades para executar algumas tarefas. Muitas vezes eu preciso ler a mesma página de um livro duas ou mais vezes, esqueço datas, alguns compromissos e já esqueci até mesmo o dia do meu aniversário.

Quando predomina a desatenção, as dificuldades são maiores na organização de tempo e atividades, concentração, o salto de uma tarefa para outra, sem mesmo ter terminado o que começou anteriormente.

Nos casos que prevalece a hiperatividade, os portadores de TDAH são inquietos, agitados e falam muito. Dificilmente conseguem participar de atividades sedentárias e manter o silêncio durante as brincadeiras ou realização dos trabalhos. A impulsividade tem destaque e com ela vem a impaciência, o agir sem pensar, dificuldades para ouvir, precipitação para falar e a intromissão nos assuntos, conversas e atividades alheias.

Depois de pesquisar muito no “Sr. Google”, iniciei meu tratamento em 2019, quando eu já havia trancado a faculdade pela segunda vez, por não conseguir manter o foco nos estudos, eu também já estava diagnosticado com quadro de depressão e era em decorrência do TDAH e eu achei melhor priorizar o meu trabalho naquele momento, e em seguida fui demitido, mesmo falando da minha condição e que havia iniciado o tratamento. Alguns “amigos” riram da situação. Meu sentimento era de incapacidade e inutilidade. Foi tudo bem difícil…

Eu desenvolvi estratégias que me auxiliam no trabalho e em tarefas do dia a dia. Tento anotar tudo, tanto no computador, quanto no caderninho de anotações mesmo e crio uma lista de afazeres e isso é o que ajuda a manter minhas atividades diárias. Coloco despertador para algumas atividades prioritárias, e quase tudo coloco na agenda pra não me perder. Algumas atividades (não importantes) eu não coloco, pois se perder também faz parte da vida…

O diagnóstico é sempre clínico. Não demanda de exames de sangue ou afins. É feito através de uma longa Anamnese (entrevista) com um médico especializado. Eu faço consultas mensais com psiquiatra e acompanhamento terapêutico com uma psicóloga que auxilia no meu desenvolvimento.

O tratamento varia de pessoa para pessoa. Geralmente consiste na psicoterapia e na prescrição de Cloridrato de Metilfenidato, comercialmente chamada de Ritalina, um medicamento psicoestimulante e que eu faço uso.

Ser portador de TDAH não me impede de executar meu trabalho, não me impede de executar tarefas diárias, no entanto, as rotas de aprendizado são um pouco diferentes, as vezes mais demoradas. Concluí em 2020 a faculdade de jornalismo, iniciei uma outra faculdade (Comércio Exterior), trabalho em uma startup em modelo home office e também sou nômade digital. Viajei para várias cidades do Brasil, com culturas e pessoas diferentes em todos os aspectos. No primeiro semestre de 2023 pretendo passar uma temporada viajando nos países da América Latina e me aprofundar no comércio internacional.

Um dos maiores aprendizados de toda a minha experiência é o fato de eu ter aprendido a lidar com as diferenças. É importante ter um olhar sensível e entender que ninguém é igual. As qualidades, limitações e defeitos que nos diferenciam é o que ajuda a construir uma sociedade igualitária e inclusiva. É importante respeitar as diferenças e que antes de qualquer diferença existe um ser humano.

 

 

Ruan Aguiar.

 

 

 

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