Sarney e Randolfe

Da jornalista Eliane Catanhede, na Folha de São Paulo

José Sarney, 80 anos de idade, 56 de Parlamento, é do Maranhão, mas é do PMDB do Amapá. É o mais longevo senador da República.

Randolfe Rodrigues, 38, primeiro mandato, acaba de ser eleito pelo PSOL do mesmo Amapá que elege Sarney. É o mais jovem senador da República.

A vitória de Sarney para seu quarto mandato como presidente do Senado era já considerada líquida e certa, inclusive repetindo o mesmo ritual de sempre: enfáticas negativas durante meses, aquiescência às vésperas, votação tranquila. Mas houve uma novidade, sim, da eleição de terça-feira, primeiro de fevereiro de 2011.

Essa novidade se chama Randolfe, que se lançou candidato ao Senado em cima da hora, pegou o microfone na sessão exigindo o direito à palavra, ocupou o microfone com uma voz peculiar, mas firme e sem tropeços, e fez um discurso muito político e elegante. Não acusou nem meteu o dedo na cara do decano, mas lembrou a necessidade de renovação e de ética na política.

No final, Sarney foi igualmente político e elegante, trocando um abraço de companheiro com o jovem e audacioso adversário – no Amapá e em Brasília.

Sarney teve 70 votos, Randolfe ficou com 8 e houve duas abstenções e um nulo. Eleito, o velho oligarca fez um discurso emocionado, com voz embargada, em que chegou a chorar. Lembrou seu início na Banda de Música da UDN, a guerra contra Getúlio e Juscelino, o esforço pela redemocratização em 1985 e a legalização dos partidos clandestinos no seu governo-que-o-destino-quis (1985-1989/1990).

Só não deu uma palavra sobre o ‘seu’ Maranhão, onde ele e sua família mandam há 5 décadas e que ostenta os mais vergonhosos índices do país, seja no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), seja no aprendizado de matemática e de português (e Sarney é imortal da Academia Brasileira de Letras!).

Enquanto Sarney era confrontado por Randolfe, sua filha, Roseana Sarney, sofria sua primeira derrota no governo do Maranhão: o pai foi eleito presidente do Senado, mas a filha não conseguiu eleger seu candidato à presidência da Assembleia Legislativa do Estado. Foi derrotada justamente por um deputado do seu próprio partido, Arnaldo Melo, do PMDB.

Sarney discursou no Senado em tom de despedida e dizendo que assume a presidência como “um sacrifício”. Randolfe falou em tom de futuro, de esperança. Espera-se que, daqui a 50 anos, o Amapá não seja o que o Maranhão é hoje.

  • Randolph,mostrou para os velhos de brasilia que eles não são eternos e que precisam nestes poucos anos que lhes restam de vida, refletir sobre os danos morais e éticos que causam ao Brasil pode ter um fim,basta tirar a sujeira que tem embaixo do bigode.

  • Eliane Cantanhede conseguiu sintetizar com maestria o que foi a estreia de Randolfe no Senado e o que se espera de seu mandato. Vejam o discurso no you tube:

  • Hoje Macapá faz 253 anos. Seria um dia de muitas comemorações, mas, infelizmente, hoje o meu coração chora de tristeza e vergonha.
    A cidade está triste, miúda, de portas fechadas para grandes comemorações.
    Ao invés de uma paisagem colorida, limpa e organizada, vejo neste nosso pequeno mundo da “terra do faz de conta que somos a joia da Amazônia”, um lugar de poucas forças de sobrevivência.
    São José, guiai-nos; dai-nos uma perspectiva mais justa.
    Preciso acreditar que um dia todos nós possamos aplaudir, cantar, comemorar um Estado preservado e igualmente desenvolvido.
    Sonho um dia sentir resgatado o urgulho de ser do povo daqui.
    Que Deus abençoe os homens e mulheres que comandam este bravo Amapá, que os novos ousem e avancem pelo bem do seu povo.

  • O texto da Eliane Cantanhede deve ser guardado para as gerações futuras, pois ele registra um marco da história do Parlamento Brasileiro e da História do Amapá. A história julgará.

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