Píer do Santa Inês

*Marco Antonio Chagas. Professor, geólogo, doutor em Gestão Ambiental

Marco Chagas

 

 

 

 

 

 

Aqui tudo parece que ainda é construção e já é ruína

(Caetano Veloso).

 

A obra do Píer do Santa Inês, anunciado em 2007, está abandonada. A estrutura da cabeceira do Pier está com madeirame desabando sobre o rio, numa demonstração do descaso dos governos com dinheiro público.

No local não existe nenhuma informação sobre a licença ambiental do projeto. Desconfio que se trata de mais uma obra pública sem licenciamento ambiental sob a chancela do PAC, com omissão dos órgãos ambientais e de fiscalização da lei.

Por que o licenciamento ambiental é importante? Não precisa de conhecimento especializado para chegar à conclusão que o projeto do Píer do Santa Inês não passou por nenhuma avaliação de impacto ambiental, pois desconsidera o básico: a dinâmica do Rio Amazonas. Parâmetros físicos, como: sistema de correntes, marés e sedimentação, entre outros, tem implicações direta sobre os impactos do projeto.

Ao caminhar pela orla de Macapá “dê uma olhadinha” na obra paralisada do Píer do Santa Inês. A obra foi projetada a apenas 100 metros de um cais já existente; a extensão projetada não permite atração de embarcações de porte, portanto não haverá carga elevada sobre a estrutura de concreto, sendo basicamente um Píer de visitação.

Mas, é na estrutura de vigamento vertical do Píer onde se percebe os maiores impactos do projeto. Os vãos entre as vigas são concretados, criando uma espécie de barreira para a condição natural das correntes do rio Amazonas, implicando na formação de uma bacia de intensa deposição de sedimentos e surgimento de vegetação pioneira.

Já que não haverá carga elevada sobre o Píer, qual a razão da concretagem entre as vigas de sustentação? Por que o Píer do Trapiche Eliezer Levi adotou sistema de estaqueamento com vigas verticais apenas amarradas e o Píer do Santa Inês com espaços entre as vigas concretados? Quais os impactos avaliados pelos estudos ambientais?

As intervenções mal projetadas sobre o rio Amazonas criam impactos negativos sobre a hidrodinâmica local que não podem ser negligenciados. Além do desperdício de recursos públicos, os principais impactos são: alteração da hidrodinâmica e da paisagem, acúmulo de sedimentos, intensificação de processos erosivos em áreas próximas, entre outros.

A orla do Rio Amazonas, sem dúvidas, precisa de um projeto de urbanização. Mas, as intervenções que têm acontecido são pontuais e não se conectam enquanto um projeto humanístico de urbanização integrada de uma orla de um rio que ninguém tem. O Rio Amazonas tem sido tolerante com o Amapá.

Píer Santa Inês

  • “Aqui tudo parece que ainda é construção e já é ruína”…Excelente texto. Expoe nossa insatisfação com o que não é feito e com o que é feito de qualquer jeito.
    Tudo por fazer, muito a fazer e o quem sido feito é de qualquer jeito. Oremos!

  • Alcilene! Boa tarde!
    Sou Wilson Brito, Diretor de Comunicação da Escola de Samba Piratas da Batucada. Como faço para enviar as notícias da nossa Agremiação para o seu Blog???
    Forte Abraço!!!

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