Petróleo sem emprego local…Negatofe!

*Marco Chagas. Professor-Doutor do curso de mestrado em Desenvolvimento Regional da Unifap.

A expectativa de benefícios imediatos é sintomática a empreendimentos que exploram recursos naturais em regiões carentes e de alguma forma impõe a necessidade de antecipação de diálogos e formação de competência local para o aproveitamento de oportunidades direta e indireta dos negócios que envolvem a cadeia produtiva do petróleo e gás”.

O parágrafo acima finalizou meu último artigo sobre o petróleo no Amapá publicado neste blog ainda em 2014. Vou “desenhar” um pouco mais, diante do que percebi no 1º Encontro Estadual das Federações das Indústrias do Amapá e Pará, realizado dia 17/01/2019, no auditório do SEBRAE/AP.

Quem esteve no evento desprovido de interesses pessoais e de selfies pôde perceber que não basta afirmar que corais vivos não existem na costa marítima do Amapá para que a exploração e produção de petróleo seja considerada viável.

Aliás, essa é uma afirmação que prefiro chamar de “hipótese” para não desrespeitar meu professor, Luis Ercílio do Carmo Faria Junior, um dos palestrantes do evento, a quem se creditaa frase “os corais da Amazônia são fakes news!.

A publicação do Greenpeace “Amazônia em Águas Profundas: como o petróleo ameaça os corais da Amazônia”, distribuída nas audiências públicas do licenciamento ambiental contém muitas informações que dão conta da existência dos corais. Na homepage do Greenpeace também pode se encontrar mais informações, incluindo a seguinte citação “o estudo que descreveu a descoberta da formação de corais foi assinado por uma equipe de 38 pesquisadores, técnicos e alunos de pós-graduação, de 12 instituições diferentes, a maioria do Brasil”.

Sugiro ao Ministério Púbico Federal solicitar cópias das palestras proferidas no evento e abrir processo de investigaçãocriminal, pois existem vínculos entre o que foi apresentado e a recomendação do órgão para que o IBAMA não conceda a licença para exploração de petróleo na foz do rio Amazonas solicitada pela empresa Total E&P do Brasil.

Em meu entender, os estudos ambientais que ancoram o licenciamento devem seguir o princípio da precaução e informar as medidas que serão tomadas pelo empreendedor caso ocorra algum impacto sobre esse ou aquele recurso natural, diante da qual se vincula a concessão ou não da licença ambiental para exploração de petróleo na costa do Amapá.

Mas isso não basta e resgato o primeiro parágrafo deste texto para defender o que percebo que pode favorecer um diálogo entre governo, empresa e sociedade: a geração de empregolocal. Nesse ponto, considero que os estudos ambientais são insatisfatórios, para não dizer omissos.

Não há nos estudos ambientais uma abordagem prospectiva que considere a geração de emprego local em relação ao cenário de exploração (pesquisa) e muito menos de produção de petróleo e gás na costa do Amapá. Sem isso, negatofe!*

Essa deveria ser a posição do Governo do Amapá. Exigir da empresa estudos prospectivo sobre o potencial de geração de emprego em diferentes cenários. O Amapá tem a maior taxa de desemprego do País (21%). A média do Brasil é de 12% e esse dado já é considerado trágico.

A indústria do petróleo é a maior do mundo, mas também é uma das que mais contribui para as mudanças climáticas. Autorizar a exploração de petróleo no Amasem um projeto de sustentabilidade associado, apenas sob o discurso escorregadio do desenvolvimento, é a mesma coisa que acreditar em avanço da democracia no Brasil no atual governo.

*Negatofe: Forma enfrescalhada de dizer não. Falar Tucuju (Lamarão, 2006)

  • Um grande escrito, meu mestre! Parabéns!
    Sou apenas um engenheiro empreiteiro, seu ex-aluno.
    Estou há mais de trinta anos nesse ramo, sobrevivendo, e digo sempre aos mais novos: ninguém joga dinheiro fora, especialmente os mais ricos, e por isso o são.
    Esperar que qualquer organização multinacional venha explorar as costas do Amapá, há mais de duzentos km lá fora e ainda assim vir dar uma ajudinha aqui, é acreditar em papai noel. Nós não temos uma rede hoteleira que preste, um porto capaz de receber cargas e navios adequadamente, um estaleiro com carreira para reparos navais, um aeroporto, um heliporto, muito menos mão de obra treinada e qualificada para a lide. Fora outras necessidades que são necessárias serem satisfeitas.
    Temos que ser pragmáticos, ninguém encostará por aqui, pelos belos olhos amapaenses, temos que fazer por merecer. Temos que sair do discurso acadêmico, do discurso político para a platéia. Temos que ter objetividade ou estado sera sempre um apêndice da união, uma parca economia de salários.
    Não sou hipócrita, para mim o ser mais importante no planeta é o ser humano. Esse espécime, sim, tem que ser preservado a qualquer custo.
    Muito embora se saiba que a importância de corais para a vida marinha é muito grande, temos que pesar o que é mais importante
    O que se tem que exigir são estudos e medidas capazes de manter intacto os eco-sistemas vizinhos.

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