Pacto do atraso

Por Ruy Smith

No debate ora instalado no vizinho Pará, sobre a divisão daquele Estado para criação de mais dois congêneres nominados de Carajás e Tapajós, me chamou  atenção a notícia de primeira página estampado em jornal da capital, onde um analista argumentava que fracionar o território paraense significava transformá-lo em três Amapá, estado pobre no qual a população fica à mercê das elites locais. A visão forasteira da realidade amapaense não é desprovida de sentido crítico, não cabendo contestá-la por puro ufanismo, pois.

Não é novidade que sempre fomos conduzidos por representantes alheios à vontade popular local, desde o desmembramento ocorrido em 1943, quando foi criado o Território Federal do Amapá a partir de terras paraenses. Os governantes que aqui passaram, ungidos pelo governo central, afora notáveis exceções, apenas cumpriram missão oficial, desatrelados da responsabilidade de conduzir o Amapá por amor a terra e compromisso com a sociedade nativa.

Com a constituição de 1988, criado o Estado do Amapá, as condições do exercício da autodeterminação se estabeleceram. Finalmente o povo amapaense escolheria seu próprio destino, conduzido por lideranças arraigadas ao sentimento de promover o bem-estar geral. Concorreriam na contramão, como de praxe na história brasileira, as elites atrasadas locais, filhas do longo período de colonização e refratárias a qualquer tentativa de mudança.

Passados 19 anos desde a posse do primeiro governador eleito do Amapá,  em 15 de março de 91, está tudo como dantes no quartel de Abrantes. Ressalva se faça ao ex-governador Capiberibe, o único que desenvolveu o plano de governo apresentado em palanque. Estruturado nas premissas sustentabilidade, descentralização e transparência, como base para quaisquer ações de governo, tal concepção de governar atingiu em cheio as castas privilegiadas. Para a ridicularização e o boicote ao projeto foi um passo. O império do atraso contra-atacava.

No atual governo, nunca foi tão forte o atrelamento com as forças corrompidas, em total dessintonia com as aspirações coletivas. Em substituição ao criador do finado PDSA, Waldez elegeu-se em 2002 apresentando uma cartilha com 12 propostas sintonizadas com os sonhos de todo amapaense de então: primeiro emprego, casas populares, creches em cada bairro e outras não menos preferidas. Quase todas foram sequer perseguidas. A necessária visão de futuro existe apenas no slogan do seu segundo mandato. Mas os amigos do poder estão satisfeitos.

Convivendo com escândalos só superados em tamanho pelo esforço da mídia paga para abafá-los, o governador preferiu acolher, num pacto de harmonia, integrantes, dos mais ilustres, dessas elites, ressalvados os que não se renderam ao pacto funesto, verdadeiros heróis da resistência : de A a Z dos veículos de comunicação, de membros de poderes a falsas lideranças populares, de grandes empresários a pseudo representantes das classes trabalhadoras, de mandatários do senado federal a vereadores do menor município. Para esses, a palavra chave é “favor”, disfarçada em participação no governo, de uma ou de outra forma, e o preço a ser pago é o silêncio absoluto para com o sofrimento do povo.

Como manter amigos poderosos, e sequiosos, custa caro, falta dinheiro para as carências mais elementares da população. Setores como os de energia, água, esgoto, saúde, educação, habitação, recuaram drasticamente no período, motivado pelo loteamento político da administração e pela falta de cobrança do governador pelos resultados. Oiapoque e Laranjal sofrem com a crônica falta de energia, não tem água em hospitais da capital, merenda virou artigo de luxo nas escolas e recém nascidos morrem no atacado. Em nome da parceria política, tudo é tolerado, até a corrupção desenfreada.

Exemplo mais patético da “forma Waldeziana de ver o Amapá” é o recente escândalo na educação pública, setor contemplado com vinte e cinco por cento de todo o orçamento do executivo. O MPE acusa formalmente vários colaboradores do governo de estarem envolvidos em falcatruas que atingem a casa dos 200 milhões de Reais; nesse rol está o nome do gestor da SEED, parceiro do governador e, pelo próprio, escolhido e nomeado. A justiça de primeira instância sentenciou o seu afastamento. Qualquer governante sério, ao menos na aparência, deveria acolher a hipótese de estarem ocorrendo as ilicitudes apontadas, e afastar os envolvidos para preservar a imagem do governo e garantir as figuras da segurança e da precaução administrativa.

A administração pública está acima das pessoas, e o interesse coletivo acima dos individuais. Mas, para o governador a amizade ou, pior, o medo que toda a sujeira venha à tona, parece estar acima de tudo, até da dignidade do cargo. O governo já recorreu da sentença. O governador é um parceirão! As forças corrompidas do atraso, penhoradas, agradecem.

Ruy Smith, deputado estadual.

  • Um governo onde quem não rouba e chamado de besta.Nenhum setor desse corrupto governo teve aproveitamento.Aqui desde o mais simples funcionario até o governador,basta ser amigo da bandalheira,todos ficam ricos do dia pra noite.Esse estado ficou com uma MARCA,”O ESTADO MAIS CORRUPTO DO BRASIL”.

  • Sabe de quem é a firma que fez a “reforma” da Escola Santina Rioli,de um chefe de departamento da Seplan.Tem um laranjão no meio.É assim em toda a esfera governamental.

  • Parabéns deputado
    é nas eleições que escolhemos as pessoas capazes de nos representar.
    Por isso que eles precisam de muito, mas muito dinheiro pra se elegerem ou reelegerem, quem sabe uns 200 milhões.Eles nao conseguem focar no coletivo porque o dinheiro pra eles é tudo.E não conseguem avaliar, por exemplo, a razão pela qual a deputada janete, com pouco recurso, ”vem das urnas” com mais de 23 mil votos enquanto o Jurandil, representado pelo capital, tem em torno de 15 mil votos.
    O senhor também faz parte desse universo e torço pra que o Amapá através de parlamentares sérios avance a partir de 2010.

  • Houve um pequeno engano no número de votos da Deputa Federal Janete Capiberibe.Em 2002,ele teve 23.450 e em 2006 ela teve 29.800 o doblo do 2º colocado.

  • Parabéns Rui;Esse esquema de corrupção é só em um órgão desse governo mentiroso.O Povo devia saber o porque dos telefones da maioria das secretarias estão cortados; FALTA DE PAGAMENTO.E as escolas? como desculpas para o atraso das aulas, foi as reformas; mais uma mentira. FALTA DE MERENDA, pois os Diretores não tinham cara mais para enfrentar os fornecedores, e, por aí vai as pilantragens desse governo.Espero RUI que continue defendendo os menos esclarecidos, pois a nossa imprensa na quase totalidade é chapa branca

  • O pior de tudo, é ligar o rádio e ouvir Luis Melo e cia. Ltda (mais que limitada, MUITO LIMITADA), contestar a opinião de um Doutor em Geografia pela USP sobre o comentário aludindo o AP.

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