Detalhes da Operação Letus que prendeu dois PMs acusados de execução de testemunha

A Polícia Civil e o Ministério Público do Amapá (MP-AP) cumpriram na manhã desta quinta-feira, 21, três mandados de prisão e seis ordens de busca e apreensão deferidos pela Vara do Tribunal do Júri da Comarca de Macapá. A operação, batizada de Letus, uma referência ao deus romano da morte, mobilizou cerca de 40 agentes da segurança pública.

A ação é resultado de meses de investigações conduzidas pela Delegacia de Crimes Contra a Pessoa – DECIPE, em conjunto com o Núcleo de Operações em Inteligência – NOI, Promotorias de Justiça do Júri e de Investigações Cíveis e Criminais (PICC), no interesse de esclarecer crimes com características de execução ocorridos na capital amapaense.

Foram presos temporariamente o policial militar José Wilson Maciel de Cantuária e sua companheira Hellen Crhiystine Gonçalves Pinheiro, e, preventivamente, o também PM Lucas Vilhena Batista Filho. Os PMs respondem as ações penais por crime de homicídio qualificado e são investigados em outros delitos contra a vida. Hellen Pinheiro é acusada de colaborar com um dos crimes.

Na coletiva à imprensa, o promotor de Justiça Flávio Cavalcante (coordenador da 3ª PICC), e o delegado George Assunção (titular da DECIPE), repassaram todos os detalhes das investigações.

Entenda o caso

 

No dia 21/05/2016 houve o assassinato do funcionário público Joaquim Rubilota de Souza Rodrigues, praticado pelo sargento da PM, José Wilson Maciel de Cantuária.  A testemunha do caso, senhor Micherlon da Silva Aleluia, foi ouvido no Fórum de Macapá no dia 12/12/2017, quando confirmou ter presenciado o crime e ofereceu detalhes, contrariando a versão apresentada pelo policial de que teria atirado para o alto.

Sem saber, a partir daquele momento, Micherlon passou a ser monitorado pelos acusados. Em janeiro deste ano, a vítima sofreu um atentado, mas conseguiu escapar com vida.  Na segunda tentativa, com a ajuda da acusada Hellen Pinheiro (esposa do sargento), que conseguiu a informação com uma amiga sobre os horários de trabalho da vítima, o desfecho foi a execução.

a vítima de bicicleta sendo seguida pelo carro preto

“Por isso, afirmamos que Hellen tem extrema relação subjetiva com o crime. A vítima era um homem trabalhador, disposto a colaborar com a justiça e jamais poderia imagina que seria covardemente assassinado após um dia de labuta”, lamentou o promotor Flávio Cavalcante.

Participação dos policiais

Por meio de imagens coletadas das câmeras de segurança instaladas nas mediações do crime é possível observar um carro preto estacionado em frente ao local de trabalho da vítima, bem como, o exato momento em que uma viatura do 1º Batalhão, onde estava o acusado José Wilson, passa pelo veículo suspeito, observa a movimentação e recebe uma sinalização via farol, indicando que estavam prestes a agir.

Na sequência, as imagens mostram a vítima saindo de seu local de trabalho, de bicicleta, e o percurso feito pela rua Hildemar Maia, sempre seguido do carro preto. Alguns metros à frente Micherlon foi executado. “Infelizmente, no dia 12 de março, por volta das 23h, a vítima foi brutalmente executada”, explicou o delegado George.

“Além de dar cobertura para o carro preto e acompanhar de perto toda a operação criminosa, a viatura da PM ainda passa pelo local do crime, depois de consumado, como se nada soubesse a respeito do ocorrido”, acrescentou Flávio Cavalcante.

Carro preto e viatura

 O trio responderá pelo crime de homicídio qualificado  

Batista Filho já responde por disparo de arma de fogo; pela participação em tiroteio que atingiu uma criança de 8 anos, no distrito da Fazendinha; e responde pelo homicídio de um jovem de 17 anos. Foi preso preventivamente em razão dessa última acusação.

Os investigadores conseguiram informações precisas de que Batista Filho estava dentro do carro preto. José Wilson, mesmo denunciado, continuava trabalhando no 1º Batalhão. Além das prisões, foram aprendidos materiais que servirão de provas, incluindo armas de fogo e equipamentos utilizados para comunicação entre os acusados.

“Não resta dúvida de que ainda temos um longo caminho pela frente e não vamos descansar até que encontremos respostas para inúmeros outros casos, que eventualmente estejam relacionados. O maior alimentador dessas mortes é a impunidade. Se Deus quiser vamos conseguir elucidar esses e dar nossa contribuição efetiva para diminuir a barbaridade que vem ocorrendo nas nossas cidades”, reforçou o promotor.

Integração

“Trata-se de um trabalho de integração das forças de segurança pública e é bom destacar também que são casos isolados, mas que não maculam a imagem da instituição Polícia Militar”, manifestou o secretário de segurança pública, Cel. Carlos Souza.

O comandante da PM, Cel. Rodolfo Pereira, disse que a corporação colaborou com as investigações. “Ofertamos nosso serviço de inteligência e apoiamos totalmente a ação. Vamos abrir os procedimentos necessários para que as medidas cabíveis sejam aplicadas”.

As ordens judiciais foram cumpridas com o apoio de equipes das Delegacias de Crimes Contra o Patrimônio – DECCP, do Núcleo de Inteligência do Ministério Público – NIMP e do Batalhão de Operações Especiais da Policia Militar – BOPE. Estavam presentes, ainda, o delegado-geral de PC, Uberlândio Gomes, e o delegado Ronaldo Coelho.

 

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