O presente da amizade

Dom Pedro José Conti

Bispo de Macapá

Muitos anos atrás vivia, na Pérsia, um rei que amava o seu povo. Para conhecê-lo melhor ele tinha o costume de misturar-se no meio das pessoas com os mais variados disfarces. Um dia sentou-se numa esquina, e assim conheceu um homem que varria as ruas. Cada dia o rei voltava e sentava ao lado do gari, partilhava as suas humildes refeições e conversava longamente com ele. Desta forma o pobre acabou gostando do amigo desconhecido. Após muitos dias, finalmente, o rei decidiu revelar-lhe a sua verdadeira identidade e pediu para que escolhesse um presente que pudesse guardar como lembrança dele. O homem o olhou espantado, depois disse: “O Senhor deixou o seu magnífico palácio para vir aqui comigo cada dia, partilhou a minha vida difícil e a minha miséria. A outros poderia ter dado valiosos presentes, mas a mi m o Senhor deu a si mesmo. Portanto, peço-lhe somente uma coisa: de não me excluir nunca mais da sua amizade”.

Acabamos de celebrar o Natal, iniciamos o Ano Novo e com o domingo da Epifania continuamos a refletir sobre o sentido do nascimento de Jesus, o Menino-Deus. Podemos também acompanhar os Magos na busca dele seguindo a Estrela, até encontrá-lo e adorá-lo. Contudo devemos nos perguntar sempre o que ficará de tantos momentos bonitos vividos nestes dias, e de tantos bons sentimentos que este tempo faz surgir em nossos corações.

No Natal trocamos presentes, os Magos também abrem os seus tesouros e oferecem ao Menino os dons simbólicos do ouro, do incenso e da mirra. Ouro porque Jesus é Rei, incenso porque é a presença visível de Deus, mirra porque irá doar a sua vida na cruz. O maior presente, porém, é Ele mesmo, o Menino-Deus. E com ele a sua amizade, o seu amor.

A historinha da Pérsia, deveria servir  para nos lembrar o valor da amizade e o sentido verdadeiro do amor. Um presente pode ser simples e modesto, como também sofisticado e caro; porém só tem sentido e valor quando é acompanhado pela sinceridade do afeto, do agradecimento e da amizade. Quando um presente é oferecido por pura formalidade, ou por interesse, pode ser usado, exibido, divulgado, mas vale por si mesmo, não pelos sentimentos da pessoa que o doou, porque não os têm. Cada presente “representa” alguém. Se for uma pessoa querida, o dom terá grande valor, se for alguém desconhecido ou pouco familiar, o dom dirá bem pouco a quem o recebe. Tudo isso para lembrar que, afinal, oferecendo presentes damos, em primeiro lugar, u m pouco de nós mesmos, dos bons sentimentos que o carinho por aquela pessoa suscita em nós.

Não esquecemos que também Herodes queria encontrar o Menino. O que lhe teria oferecido? Medo, raiva, inveja? Ainda bem que esses “pacotes” nunca foram entregues. Tomara que nenhum dos “presentes” que recebemos e oferecemos no Natal tenham sido embrulhados com esses maus sentimentos.

Deus continua a nos oferecem tantos dons! Todos exclusivos, fora de comércio e sem chance de troca. Agradecemos pouco e nem sempre usamos as dádivas recebidas para fazer algo de bom. Contudo o Natal nos lembra que o dom mais precioso de Deus foi Ele mesmo, por ter decidido partilhar a nossa condição humana e as nossas limitações. Ele sempre nos aguarda numa esquina da vida para nos oferecer novamente a sua amizade. Companheiro de caminhada, peregrino em busca de quem sofre, consolador dos aflitos, pronto para nos dar perdão, paz e esperança.

Nos próximos dias se apagarão as luzes do Natal. Guardaremos as imagens do Presépio, a árvore de plástico, as bolinhas brilhantes. Somente daqui a um ano, tudo de novo.

Pedimos que o Senhor nunca nos exclua da sua amizade. È o seu maior e inestimável presente. Ele quer ficar sempre conosco. Somos nós, às vezes, que o esquecemos, o trocamos, o desprezamos. Que Ele nos perdoe por mais um Natal de consumo e de superficialidade.

Nunca é tarde, porém. Sigamos a estrela, sigamos os Magos. Ainda podemos encontrar o Menino, para adorá-lo e oferecer-lhe um pouco da nossa pobreza em troca do seu inesgotável amor.

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