O Impeachment e seus reflexos na economia

*Teles Jr. Mestre em Economia. Secretário de Planejamento do Governo do Amapá

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Desde 2014, o Brasil passou a observar um fenômeno interessante: “Sempre que o Governo do PT aparecia mal nas pesquisas os indicadores de mercado reagiam positivamente”. Essa era a reação do mercado a ideia de ruptura com o modelo denominado pelo PT de Nova Matriz Econômica, que se baseava na expansão do crédito subsidiado, supressão de preços administrados, aumento dos gastos públicos, discricionariedade no mercado de câmbio, relaxamento do controle inflacionário e outras medidas “heterodoxas”.

Para a maioria dos economistas, essa intervenção indiscriminada na economia está na essência da atual crise econômica. Em 2014 o mercado já a conhecia, mas a sociedade ainda não. Graças ao excelente trabalho do marqueteiro João Santana e a força política de Lula, os eleitores passaram despercebidos e reelegeram a presidenta Dilma.

O encontro com a verdade aconteceu logo no inicio de 2015, quando ficou claro que um ajuste ao estilo “Ronald Reagan” precisava ser feito na economia. Coube ao então Ministro Joaquim Levy tocar a pauta do ajuste fiscal e monetário, o que ele não imaginava era que o próprio partido da presidenta seria o principal opositor das medidas e que a “Lava Jato” iria inverter a pauta do congresso.

Para o mercado, de julho/2015 em diante já estava clara a incapacidade do Governo em conduzir as reformas e o fenômeno que já havia acontecido em 2014 passou a ser recorrente. Sempre que ocorre uma manifestação, um vazamento de áudio da lava jato, uma delação premiada, ou qualquer coisa que possa intensificar a deterioração do Governo, os indicadores de curto prazo reagem positivamente. Cabe lembrar que, no final de 2015 quando houve a sensação de que estaria “tudo dominado pelo PT”, a taxa de câmbio foi a R$ 4,20. Atualmente, quando está claro que o Governo não dura até o próximo Verão, o câmbio está em R$ 3,65.

A Lógica do Mercado é a seguinte: “Se Dilma sair, haverá um ambiente político mais propicio para o ajuste fiscal e consequente estabilização da dívida pública”. O governo posterior a Dilma terá de tocar uma agenda de reformas institucionais para que o Brasil se adeque a realidade dos países emergentes. Destaca-se que são medidas impopulares e que irão ferir de morte interesses sindicais e patronais, além dos privilégios dos burocratas brasileiros – o que FHC já fez no passado.

O Pós – Dilma requer um politico desprendido de interesses populistas, capaz de fazer uma transição tranquila até 2018 e de reestabelecer o trinômio: meta de inflação, câmbio flutuante e superávit primário. Somente depois do dever de casa, o país poderá reestabelecer o cenário de crescimento econômico. Caso Michel Temer venha assumir, e não estiver alinhado com essa agenda de política econômica, a crise continuará a se agravar e em pouco tempo os “coxinhas” novamente estarão na rua.

A sociedade tem que ter em mente que a reação positiva da economia à saída de Dilma é um fenômeno apenas de curto prazo e não vai decidir nosso destino. Desse modo, serão as reformas a nortear nosso futuro e a retomada do crescimento econômico, ou seja, mais importante que mudar o governo é mudar a cabeça dos políticos, pois esses tem que aceitar os desgastes das medidas que precisam ser adotadas.

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