Por Márcia Corrêa – Jornalista
Ás vezes é preciso o corpo dar sinais de exaustão para que a mente reelabore o viver. Mais ou menos assim me chega esse final de ano. Em volta de mim tudo é caos, mas nada nesse caos me apavora. Há roupas, sapatos, objetos, papéis, bolsas, discos e livros fora do lugar por toda parte. As paredes esqueceram de rogar por tinta fresca, o piso amarelado pelo tempo, aquela lâmpada queimada no canto da sala, tudo dorme há cem anos.
E eu que sonhava com a “casa no campo” da letra de Zé Rodrix, esqueci que a casa do sonho começa na gente. Esquecer, lembrar, aprender, reeditar os textos escritos há muito tempo nos rascunhos da mente, esse é o exercício que o recolhimento tem me postulado a fazer. Ímpeto de revirar tudo pelo avesso do avesso, do avesso… Reencarnar em vida e começar do marco zero a mover todos os esforços novamente, de forma consciente.
Porque fazemos quase tudo na vida sem o concurso da consciência? Repetimos padrões de comportamentos viciosos, receitas de má conduta, erramos repetidas vezes o mesmo erro, desonramos com frequência nossos próprios compromissos. Vivemos por conta de nossa parte menor, a satisfazer seus desejos imprudentes, atendendo aos ditames de sua sabedoria rasa, de sua compreensão rasteira.
Essa parte menor é nosso corpo físico. Ouvi tal definição de uma mulher no documentário “Vivendo de Luz”, exibido pelo canal GNT nesse dezembro de mudanças climáticas. Lindo o que ela disse: “somos como uma matrioshka”, tradicionais bonecas russas. Brinquedo que pode ser feito de madeira, argila e outras matérias-primas, mas que tem uma lógica única, o encaixe de várias bonecas semelhantes, de tamanhos diferentes, uma dentro da outra.
Só a menor delas, que fica dentro de todas as outras, não é oca. E é justamente essa parte menor e maciça que representa nosso corpo físico. Os demais corpos maiores e mais expostos da boneca seriam nossos corpos astrais. Por desconhecermos e por não sabermos lidar com os sentidos ampliados dessa dimensão espiritual que somos, é que vivemos a pobre experiência de dedicar a vida a atender as demandas rústicas da matéria.
Fome e sede são as básicas, depois vem a indumentária, os adornos, os prazeres, os vícios, os maus hábitos, as ambições, o desejo do supérfluo, os valores descartáveis vendáveis e compráveis. E tudo gera insaciedade, nunca é o suficiente no campo do ter. Então vem a doença e nos enfeia, descama a aparência, confronta as ilusões com a dor e leva de enxurrada pessoas ainda jovens.
Vemos isso acontecer todos os dias, mas nos recusamos a compreender de forma profunda que a vida não segue a lógica de nossos desejos. Ela não responde ao nosso planejamento financeiro, ao nosso projeto acumulativo, ao nosso anseio de sempre atender a parte menor da matrioshka. Tem Leis e regência que nos fogem completamente ao controle e ainda assim as ignoramos.
Esse é um final de ano cabal, no qual o único plano que me permito fazer é o de sair da zona de conforto da boneca maciça e menor, corajosamente, para caminhar por dimensões mais inteligentes, mais fraternas e mais universais. Porque o único compromisso válido nesse mistério que é viver, é com a gente mesmo. É o compromisso de lavar do rosto espiritual a maquiagem das ilusões.
Feliz Natal a todos mesmo, do fundo do coração e da mente. Porque somos de fato parte de uma mesma e multidimensional humanidade.
Márcia Corrêa
18 Comentários para "O exemplo da matrioshka"
Muito lindo! Um Natal de paz, amor, felicidade, sucesso e um ano nove de muito mais informação. Obrigada.
Obrigada querida, Feliz Ano Novo pra vc e sua família.
Que texto lindo Márcia!!! Um Natal abençoado a todos e um Ano Novo repleto de realizações.
Bela reflexão para inspirar e encorajar nossa luta diária a fim de incorporarmos atitudes e valores que nos farão seres humanos melhores. Feliz Natal, Márcia, para você e para todos nós!!!
Luta diária mesmo, amiga, minuto a minuto. Mas, a gente chega lá. Feliz Ano Novo!
Valeu Márcia.Feliz Natal pra você também.Que Deus continue te inspirando sempre.
“Adooooooooooooooooooogo” os textos da Márcia! Lindo mana! Escreve mais. Feliz Natal pra você, para as meninas e pro Toni Neto!
Escrever mais depende da sintonia fina… rsrs. Feliz Ano Novo!
E, assim caminha a humanidade!”
Marcinha querida, se todo ser consciente ler essa bela obra escrita carinhosamente e cheia de pura simetria, com certeza não haveria desigualdade entre o ser consciente… O que você escreve em plena época Natalina de nosso Deus, realmente, me deixa de coração fragmentado.
Assim mesmo, que tenhamos mais um FELIZ NATAL! ( Enquanto ainda dá pra sobrevivermos)
Querido vizinho, Deus em nós sempre! Feliz Ano Novo!
Lindo!!! E, com todo respeito: Você é de toda Linda!!!! Feliz Natal!!!
Grande Almir! Onde vc estiver receba meu muito obrigada.
Feliz NATAL, muito lindo este texto.
A palavra escrita é muito mais fascinante que a palavra falada. Podemos voltar a sentir a mesma emoção ao relermos o que foi escrito em qualquer época. No futuro alguém há de sentir a mesma emoção que sinto agora ao ler o seu texto tão bem construído. Feliz Natal.
Querido Humberto, vc me fez lembrar a letra do Chico Buarque para a canção “Futuros Amantes”, quando ele escreve sobre os escafandristas que no futuro encontrarão os bilhetes de amor deixados na cidade submersa. Beijo grande e Feliz Ano Novo!
GOVERNO DA MUDANÇA AVISA!
VAMOS PASSAR NATAL E ANO NO MELHOR CLIMA DE FESTAS…. LUZ DE VELAS!!!!
VIVA A PARCIALIDADE DA BLOGUEIRA. NENHUMA CRITICA A FALTA DE GESTÃO! DEVE TER GERADOR EM CASA!
Zé Ramalho dizendo que não colocaram a Termo Elétrica de Santana pra funcionar porque “tiveram novos problemas que ocasionaram outros problemas” …
Fico impresionado com a competência desse governo! A CEA quebrada vai ser afundada pelo PT! Que partido e esse?? é a p*rra do PT!!!
Que lindo Márcia!! Puro incentivo pra uma reflexão do que as vezes não queremos enxergar! Tudo de melhor pra vc!