O Amapá que empreende: Tramatitudes

Maria Paula Marques, 22 anos, é artista têxtil licenciada em artes visuais pela UNIFAP. Também conhecida como Forasteira, pela maneira em que assina as obras, a jovem macapaense carrega o interesse pelo bordado e a costura desde a infância. “Eu sempre tentava fazer roupinhas para as minhas bonecas, e quando a minha mãe em bancas de revista e eu tava com ela, eu pedia para que ela comprasse aquelas revistas de ponto cruz e que eu nunca aprendi a fazer, porque não sabia ler na época, mas a vontade de aprender sempre existiu” recorda ela. 

Mas foi no início da gradução, em 2016, que Maria Paula deu traçou seus primeiros pontos. Com a ajuda da amiga Nanda, que já sabia bordar, ela fez os primeiros bordados em sala de aula. “Eu bordava muito durante as aulas de história da arte, porque para mim aquilo era um saco. Artes extremamente européias e fora do meu contexto social. Depois eu fui entendendo que a arte é muito mais ampla que a ensinada na academia. entendendo isso, eu me entendi como artista, e foi aí que eu comecei a criar mais coisas têxteis.”

Ainda nesse período, a estudante abriu uma loja virtual de bordado chamada Manga com Sal, que trabalhava sob encomenda. “Eu reproduzia imagem que já existia, que me pediam para fazer e com o tempo isso foi me desgastando. Primeiro porque eu não me via na subjetividade daquilo que eu criava e na época ainda não se discutia tanto sobre a valorização dos trabalhos manuais. Eu fazia um bordado por dias e as pessoas me pagavam 15 reais, porque elas não entendiam o valor do meu trabalho”. A loja ficou ao ar até o final de 2017, quando Maria Paula migrou temporariamente do bordado para a costura como foco de sua produção. Com uma máquina posta na escrivaninha e um curso no SENAI, ela aprendeu corte, costura, modelagem e todos os processos de feitura de uma peça de roupa. 

Bordado inspirado nas manifestações antirracistas norte-americanas.

A necessidade de se voltar para a carreira acadêmica, já próximo ao final da graduação, oportunizou a ela o momento de compartilhar uma paixão ainda tão particular com jovens e crianças. Oficineira na oficinas de artes na galeria Antônio Munhoz Lopes, no SESC Araxá e bolsista CAPES na escola Augusto Antunes, na cidade de Santana,  a estudante buscou sempre levar para a sala de aula as discussões com a moda e o que ela carrega em relação às identidades de gênero, raciais e culturais. “Eu levantava discussões a partir de uma saia de marabaixo, por exemplo. Ou porque mulheres podem usar determinadas roupas e homens não. E a partir disso, discutir coisas importantes na nossa sociedade com os meus alunos”. 

Macacões produzidos pela Tramatitudes.

Fruto do acúmulo de experiências diversas, o Tramatitude, mais novo projeto da artista, mistura de “atitudes feitas com linhas”, como a autora bem define. As peças são resultado de produções artesanais e orgânicas de Maria Paula. “São únicas porque carregam meus atravessamentos, o que me inquieta, me move. No início da quarentena eu iniciei uma coleção de quadros bordados chamada “Vermelho”, com quadros que tratam questões raciais, feministas e anarquistas”. O lançamento da coleção está previsto para o dia 15 de novembro, junto com o site oficial da artista. 

Maria Paula Marques, criadora da Tramatitudes.

Até lá, as encomendas de bordados e macacões podem ser realizadas via instagram: @tramatitudes e @forasteira_cosmica.

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