O Amapá no ranking da competitividade

* Charles Chelala. Economista. Professor. Mestre em Desenvolvimento Regional

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Pelo terceiro ano consecutivo a revista britânica The Economist, em parceria com o brasileiro “Centro de Liderança Pública” publica o ranking da competitividade dos Estados brasileiros e, como nas demais edições, o Amapá ficou em último lugar. A proximidade das eleições fez com que a publicação ganhasse repercussão política, como era de se esperar. Vou abordá-lo pelo aspecto técnico.

O ranking baseia-se em oito indicadores: ambiente político; ambiente econômico; regime tributário e regulatório; política para investimentos estrangeiros; recursos humanos; infraestrutura; inovação e sustentabilidade. Aos Estados são atribuídas notas de 0 a 100 em cada um dos quesitos, sendo considerado “ótimo” acima de 75 pontos (apenas São Paulo); “bom”, entre 50 e 75 (cinco Estados do sul e sudeste); “regular” no intervalo entre 25 e 50 (17 Estados) e “ruim” abaixo de 25, grupo constituído por Piauí, Maranhão e Amapá que obteve apenas 18,6 pontos.

Este estudo é dirigido para orientar investimentos estrangeiros, sendo mais “competitivo” aquele Estado no capital externo se sentirá mais seguro e com maiores possibilidades de obter retorno. Antes de analisar o desempenho do Amapá, cabe verificar que o mapa do ranking escancara a cruel desigualdade regional no Brasil, resultado de fracasso de todas as políticas de desconcentração da riqueza e relembra que urge retomar ações de Estado que busquem reduzir este fosso entre a periferia e o centro do país.

Pois bem, o nosso Amapá ficou na lanterna em seis dos oito parâmetros analisados, sendo que não pontuou em dois: regime tributário regulatório e infraestrutura. Não me parece justa a pontuação em relação ao marco legal amapaense, pois temos instrumentos locais que podem ser atrativos e que dependem apenas de algumas iniciativas para serem eficazes. Por exemplo, a Área de Livre Comércio (que precisa rapidamente se transformar em Zona Franca Verde); a Zona de Processamento de Exportação (criada, mas que necessita ser implantada), além de outros benefícios, como o diferencial de alíquota do ICMS, ou mesmo a adormecida “Lei da Política de Incentivos ao Desenvolvimento Industrial (Leis 144/94 e 339/97)”. Estas simples ações melhorariam nossa nota também no item “política para investimentos estrangeiros” no qual igualmente ficamos em último.

Já a nota zero na infraestrutura é bem merecida e tenho abordado que este é o fator decisivo na atração de investimentos, particularmente nos quatro pontos cardeais: logística, comunicações, energia e saneamento. Estamos prestes a solucionar dois deles (energia e comunicações) com a interligação ao sistema nacional de eletricidade, mas precisamos tirar o atraso na infraestrutura de transportes e de saneamento.

Nos três outros pontos em fomos últimos colocados, dois deles são típicos da nossa condição de periferia: recursos humanos, uma vez que não temos quantidade e nem qualidade na nossa força de trabalho; e “inovação” onde os grandes centros de P&D encontram-se nas regiões mais desenvolvidas. Já no “ambiente político”, que mede estabilidade política, corrupção, burocracia e segurança pública, a percepção de que aqui há mais corrupção está associada ao recall das dezenas de operações da Polícia Federal no nosso Estado, com especial destaque para a “operação mãos limpas”. Infelizmente, precisaremos de mais alguns anos sem turbulência para nos livrar desta pecha.

Como era de se esperar, nossa melhor nota foi no parâmetro “sustentabilidade”, especialmente por conta da parcela de nosso território protegido e da qualidade da nossa legislação ambiental. Mesmo assim ficamos em vigésimo lugar no item.

Surpresa! A melhor colocação do Amapá foi na categoria “ambiente econômico”, na qual ostentamos o 15º lugar graças ao crescimento do PIB superior à média nacional, além da renda per capita e da desigualdade que apresentaram resultados melhores que os demais.

Os três anos como último colocado no ranking nos permite relembrar a frase do gênio Ariano Suassuna: “o otimista é um tolo, o pessimista é um chato. Prefiro ser um realista esperançoso”. Há muitos motivos para sermos realistas esperançosos em relação ao futuro do Amapá.

    • Então diga o nome da esperança?
      Falar é fácil, difícil é mostrar o problema e resolve-lo.
      Na minha opinião, o Amapá deveria voltar a ser TF. Não produz nada,não temos políticas e nem políticos descentes, somos uma pedra no sapado do Brasil.

  • Amigo Chelala, a insegurança jurídica aqui é assustadora. É um repelente a quem deseje fazer mínimo investimento.

  • Ótima explanação e de fácil entendimento,mestre Chelala,agora é trabalhar para se alcançar o desejado.O Amapá me parece,não consegue sair desse atraso.O Amapá e grande em extensão,mas pequeno populacioinalmente.A carência na área de transportes e urbanização é enorme, na saúde e segurança tb.São muitos os recursos disponíveis,mas os investimentos quase não aparecem.O GEA deve capacitar seus braços e pernas,afim dq os investimentos possam aparecer em grande escala.
    É bem verdade que não se pode acabar com a corrupção,mas o trabalho em prol de todos, tem que acontecer.

  • Pessoal, venha participar do melhor grupo de debate sobre o Estado do AP na internet, o AP Notícias no Skycrapercity. Lá se encontra as notícias mais atualizadas sobre o nosso Estado a respeito de obras, política, economia, além de fotos, debates, entre outros assuntos. Além disso, pode ficar atualizado sobre notícias do país todo, com threads diários das mais diversas cidades do país, inclusive do nosso Amapá. É rápido e fácil de se cadastrar, segue o link:

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  • Grande professor, profundo conhecedor dos nossos problemas. Não só conhece bem, como tem perfil para ser Governador do nosso Estado. Felizmente o sobrenome dele é Chelala. Porque se fosse Capiberibe, Goés, Favacho, Gurgel, Borges poderia estar sendo usado para enrolar o povo por mais 4(quatro) anos. Afinal estamos ladeira abaixo já por 20(vinte) anos no revezamento do poder entre as ricas famílias que trazem cada vez mais alegria para o povo do Amapá.

  • …e o que é pior… lá vamos nós termos que votar em sobrenomes pra lá de batidos… e nem os “novos” que aparecem nessa eleição são tão novos assim…e cada um com um sorrisão deste tamanho… de olho nos nossos votos, no dinheiro público e na farra desmedida que irá redundar em mais operação federal, quando não jornalística… e o que nos resta?… não sou defensor do voto nulo, mas estou pensando sinceramente nisso…

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