João e Janete

Por Cristovam Buarque *

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“Florestas do meu Exílio” tem tudo que é necessário para um grande livro. É uma história de amor entre João e Janete Capiberibe. Um livro de aventura extrema, em alguns momentos parecendo criação de um ficcionista especializado no gênero do suspense. Dezenas de personagens surpreendentes, com seus retratos e desempenhos elaborados com a maestria de grande escritor. É um livro sobre a generosidade humana, e também sobre a maldade de outros seres humanos. Um livro de história das ditaduras latino americanas. Sobre a força de vontade de sobreviver diante de todas as adversidades, torturadores, perseguidores e da geografia. Mas, é sobretudo um livro que tem o que mais se necessita na obra literária: um estilo rico em detalhes e ao mesmo tempo cheio de força e rasgos poéticos, que nos agarra, emociona e ao, concluir a leitura, deixa vontade de reler.

 

O estilo vem desde a primeira frase: “Chamava-se José Ataíde o “piloto” da canoa a vela que me levou do coração da Ilha Marajó a Macapá”; até a última: “Ao olhar a paisagem, vi o mundo coberto de gelo e senti o frio congelando os ossos. Estávamos no Canadá, nosso país do futuro.” Para contar a história, entre um e outro destes dois momentos, Capiberibe utilizou o genial artifício literário de fazer a narrativa como um diálogo entre ele e Janete com um dos personagens mais interessantes da história: Don Jose. Um homem pobre que em um pequeno povoado no altiplano boliviano, recebeu-o em sua casa, em um dos momentos mais difíceis da viagem.

 

Na véspera de sua partida de Desaguadero, na beira do Lago Titicaca, ele e Janete passam a noite contando o relato inacreditável, por ser verdadeiro, da primeira parte dos 6.200 quilômetros de fuga da prisão em Belém do Pará até Santiago do Chile, acompanhados desde o início pela pequena Artionka que fez seu primeiro aniversário no meio da aventura e depois mais um casal de gêmeos gerados e nascidos no caminho.

Com este livro João Capiberibe, ex-prefeito, ex-governador, senador descreve sua epopéia na prisão, na fuga, no longo percurso por barco pelo Amazonas sabendo que sua captura e da Janete poderia significar a morte dos dois; suas incríveis peripécias ao chegar à fronteira com a Bolívia e sua marcha até Puno no Peru, enfrentando um golpe militar neste país que significaria a deportação; e, depois de tanto esforço que exigiu até mesmo ter de conseguir dinheiro cantando em praça pública em um povoado peruano, ao chegar ao exílio chileno, quando a vida parecia se acalmar, o golpe pinochetista interrompeu a tranquilidade obrigando-os a nova fuga.

 

Este é um livro de leitura apaixonante para qualquer leitor, e um testemunho que orgulha a geração que produziu dois heróis e dois militantes como João e Janete Capiberibe.

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Nota do Blog: Apenas que eu gostaria de ter escrito esse texto. Por isso, compartilho. Senti a mesma coisa que o senador Cristovam em relação ao Livro  “Florestas do Meu Exílio”, que me arrebatou da primeira a última frase

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