Iniciativa do Improir aproxima louceiras quilombolas de empreendedores gastronômicos e hoteleiros

 

A exposição “Senhoras do Barro: a força ancestral das louceiras do Maruanum”, ocorreu esta semana no Sankofa Eco Casa. Segundo Maykom Magalhães, diretor-presidente do Instituto Municipal de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Improir), o propósito da exposição foi estreitar laços entre as louceiras e donos de restaurantes, bares e hotéis. O evento faz parte das atividades do calendário do Mês da Consciência Negra e contou, além da exposição, com a Feira Afroempreendedora, show de berimbau e violão com o mestre “Grilo”, da capoeira; e jantar de comidas feitas nas comunidades quilombolas.

Maruanum é um distrito quilombola distante 58 km de Macapá. As mulheres que residem nesse lugar fazem sua própria louça pela dificuldade em encontrar talheres de metal utilizados na cidade. O manufaturamento possui processos específicos passados de geração em geração. Porém, as matérias-primas são as mesmas: argila e caripé.

Disponíveis nas estantes de vidro, estavam ânforas, xícaras, bules, bandejas, travessas, talheres, fogareiros, alguidares e cerâmicas diversas. Junto a elas, plaquinhas contendo instruções, nomes de materiais e superstições. A exposição também foi levada ao Senado Federal, em agosto, no Dia do Amapá no Senado. Ali perto, passava um vídeo curto sobre como as louceiras produziram as peças. Segundo o Instituto, das nove louças disponíveis para venda, sete foram compradas.

“Convidamos dez louceiras e donos de bares, restaurantes e da rede hoteleira para criarmos essa relação e ampliar a visibilidade do trabalho delas. Como? Servindo comida nessas louças e usando-as para que haja interesse por parte dos clientes de bares e restaurantes. Assim, é possível fazer uma cadeia produtiva”, declarou o diretor-presidente Maykom Magalhães.

“Essa aproximação é importante para valorizar a cultura das louceiras e mostrar que é possível sair um pouco da tradição da panela de metal, que é possível fazer boas comidas em uma panela de barro e apresentar aos clientes pratos em utensílios diferentes do comum. Por exemplo, no Festival Gastronômico Brasil Sabor, a Abrasel focou nas louças e utensílios de barro feitas pelas mulheres quilombolas”, contou Yuki Nagano, presidente da Abrasel.

 

Marciana Dias, presidente da Associação das Louceiras do Maruanum, revelou o processo de confecção das louças. “Queimam-se as cascas do caripé, depois peneira e mistura para amassar com a argila, que é para dar a resistência nas peças. O fogão é a louça mais rápida que fazemos, conseguimos fazer três ou quatro fogões em um dia. Ali [apontando para os mostruários], tem panelas para cozinhar comidas diversas, potes para colocar água, xícara para tomar café, travessas para assar de forno, etc. Aprendi a fazer cerâmica e artesanato com minha família, embora não ligasse muito no início. Só fui me empenhar em fazer louças com vinte e dois ano s”, contou.

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