Há 35 anos no Mercado Central, sapateiro relembra como iniciou o trabalho no espaço

Foi aos 13 anos de idade que Willian Ferreira dos Santos, hoje com 48, começou a trabalhar no Mercado Central. À época, ele morava com os pais na Avenida Rio Maracá, que fica a um quarteirão do mercado. Para ajudar no sustento da família, saía todos os dias para vender chopp de frutas e aproveitava a grande freguesia do espaço para garantir um dinheiro extra. O novo mercado está sendo revitalizado com recursos provenientes de emenda parlamentar do senador Randolfe Rodrigues, no valor de R$ 2,5 milhões, e mais R$ 1,2 milhão de contrapartida do Município.

Depois começou a prestar serviços gerais aos antigos empreendedores. Até que, na fase adulta, conseguiu um ponto na lateral do Mercado Central, onde funcionou um bar. Por algum tempo ele ficou no empreendimento. Mas as coisas começaram a tomar outro rumo e se descobriu um sapateiro de mão cheia. Willian começou a consertar sapatos, bolsas, cintos, entre outros tipos de consertos, tudo de forma manual.

Atualmente, é neste espaço, nos fundos do Mercado Central, com a banca cheia de sapatos, que segue o trabalho. Orgulhoso da profissão e da clientela que conseguiu fidelizar, não se imagina trabalhando em outro espaço. “Parte de minha vida é isso aqui, onde tudo começou, onde sempre tirei o sustento de minha família. Comecei lá atrás, ajudando meus pais, e hoje são meus filhos”, diz Willian Ferreira.

Dos 63 boxes, Willian irá ocupar o de número 9, na lateral do mercado. Ele não vê a hora de começar a trabalhar no espaço novo. A reabertura será ainda este mês e contará com ambiente comercial, cultural e turístico de Macapá. Serão comercializados alimentos, artesanato, artigos religiosos, assim como café, chopp, sorvetes, e serviços de barbearia, ervaria, relojoaria e outros.

“Estou ansioso, assim como todos os empreendedores. Com a reabertura, esperamos que tudo melhore, que as vendas aumentem, e que o Mercado Central volte a ser um dos pontos mais frequentados de Macapá”, comenta o sapateiro.

Fotos: Nayana Magalhães

  • Ouvir essas histórias, vendo as fotos do novo mercado, me enterram nas brumas de um passado longínquo, de um menino recém chegado do interior marajoara, para estudar na cidade grande. Morava ali por perto, na Coaraci Nunes, em frente ao Restaurante Jardel, e tudo era novidade, vivia fuçando o mercado. O movimento dos “talhos” de carne, a gritaria no mercado de peixe, logo atrás.
    O olhar comprido, meio com medo, quando tinha que comprar um quilo de carne de segunda, quando dava o dinheiro. Era difícil pra um moleque abobalhado comprar no mercado. O açougueiro lambava com o 128 em cima do balcão e perguntava o que ia ser. As pernas as vezes tremiam. Até que a gente pedia: Me veja um quilo de segunda. E o cara cortava qualquer pedaço do quarto dianteiro, pelancas principalmente. E o pior, jogava em cima da balança, fazendo ponteiro correr pelo impulso até marcar um quilo, mas só vinha 750 gramas. Pronto, dizia o cara, te arranca.
    Saia feliz da vida. Vivo, graças à Deus! Mas por pouco tempo. Quando chegava em casa com aquelas pelancas de vaca magra, pálidas, sem uma gota de sangue, logo que minha mãe olhava, saia o brado: Isso e pelanca do saco do boi! Pode levar de volta!
    E agora? Como enfrentar o açougueiro? Morrer seria a melhor solução.

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