Goiabal-Cunani: a fuga!

Por Marco Antonio Chagas. Doutor em desenvolvimento socioambiental pelo NAEA/UFPA e professor da UNIFAP/Curso de Ciências Ambientais

 

Essa semana o polêmico César Bernardo fez aniversário. Apesar de detestar expressar sentimentos pelas redes sociais, enviei-lhe pelo Facebook felicidades e um convite para refazermos uma viagem de campo que realizamos na década de 90 andando pela costa do Amapá, do Goiabal até a foz do Rio Cunani.

Foram cerca de 30 quilômetros a pé, com início na casa de Seu Almerindo e Dona Rosa, já falecidos. Esse casal merece minhas referências, pois recebiam a todos com muito carinho e faziam questão de compartilhar o armador de rede e a boia do dia, normalmente uma caranguejada ou uma caldeirada de tainha.

A praia do Goiabal é selvagem e perigosa. A linha d’água está a um quilômetro de distância e rapidamente chega aos nossos pés. A maré não avança em fluxo reto e sim em várias direções, pois a costa amapaense é plana e a água toma o caminho do possível. A sensação é que a maré está armando uma emboscada para afugenta os invasores. Estou certo ou errado Francisco Pinzón?

Outro perigo do Goiabal é o fenômeno da areia movediça ou areia gulosa. São fluxos ascendentes de água que preenchem os espaços entre os grãos da areia e chupam tudo que está na superfície. É uma sensação gostosa, mas perigoso. Nunca entre de carro na Praia do Goiabal e nem invente de andar sozinho, muito menos a noite.

Partimos às seis da manhã da casa do Seu Almerindo. Nosso planejamento era chegar ao Cunani por volta das 18 horas. A equipe era, além de mim e César Bernardo, o botânico Benedito Rabelo, a quem devo grande parte de minha formação profissional e familiar. Chegamos exaustos às 10 horas da noite no Cunani.

A paisagem da costa amapaense e sua ecologia é simplesmente fantástica e didática. Aprendi em 16 horas de caminhada muita mais que em 60 horas de sala de aula de sedimentologia, disciplina do curso de geologia a qual fui monitor na UFPA.

A estrutura impressionante dos manguezais da costa amapaense, a dança das marés dos rios e igarapés que deságuam no oceano, a diversidade de aves e seus voos sincronizados, a prosa e pavulagem dos pescadores e moradores locais, o silêncio “no stress”, entre outras peculiaridades socioambientais, são ao mesmo tempo conhecimento científico e depuração espiritual.

A viagem Goiabal-Cunani foi inesquecível, assim como todas aquelas que inventávamos para fugir das pressões políticas dos “chefes” na época de eleição, dos quais os nomes nem lembro mais, mas agradeço por autorizar nosso turismo ecológico na costa amapaense.

  • Bela história !
    Também tive a oportunidade de passear nas areias da praia de Goiabal. Neste dia estava com minha família na casa de um amigo, próximo a praia. Então vimos o corre-corre de pessoas, foi o mar que “cercou” um turista (creio que era um professor). Sem mais, o mar o engoliu misteriosamente !
    Neste mesmo dia soube de uma outra is(h)tória; um micro-ônibus foi engolido pelas águas(areias) do mar. Impressionamen te é como o povo local contam ! parece normal.
    Um lugar excelente para se comer uma tainha moqueada ou um saboroso carangueijo.
    Bom dia ai.

  • Tem muito mais historias de la que o povo nao conta pra nao assustar rsrsrs…eu sou de la, minha bisavó fundou a vila tomazia em Cunani, minha mae nasceu la tambem…Estive la esse fim de semana! Fico muito feliz quando leio historias de la…! O casal Seu Almerindo e dona Rosa sao avós do meu primo e realmente eles erao otimas pessoas, adorava as carangueijadas que eles faziam! Saudades! 🙂
    Parabens pelo post Alcilene!

  • Já tive oportunidades de ir a praia do Goibal e a Vila do Cunani e quando retorno a Calçoene dou um jeitinho visitar esses locais não só pela beleza natural mas, também, pela importância histórica. A regiãoque fica localizada no antigo contestado Franco-Brasileiro,surgiu mantendo fortes relações com a Guiana Francesa, passou pelas fases de república do Cunani, pela febre do ouro na região do Lourenço e, recentemente, ali foi descoberto um sítio arqueológico de reconhecido interesse histórico e também turístico, conhecido por abrigar o Observatório Astronômico de Calçoene.

  • Goiabal é uma bela praia, mas as praias da foz do Rio Cunani são bem mais bonitas.
    Comer uma uritinga assada só com o sal da água… morto de fome pela caminhada, e depois se jogar no chão e esquecer que o tempo existe. Sensação só para quem já viveu.

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