Florestas: A Natureza a seu serviço

Por Alcione Cavalcante..Engenheiro Florestal

A década em transcurso tem dado especial atenção às florestas. Inicialmente, a ONU dedicou-a à Biodiversidade, o que implica em dedicá-la às florestas, posto que nestas encontra-se a parte mais expressiva, conhecida e porque não dizer dilapidada da biodiversidade do planeta.

 

Coerentemente, neste ano a ONU, dedica o Dia Mundial do Meio Ambiente a florestas, propondo “Florestas: A Natureza a seu serviço” como tema central.

O Dia Mundial do Meio Ambiente, também conhecido pela sigla WED (World Environment Day), vem sendo comemorado desde 1972 e anualmente vem experimentando avanços significativos no quadro geral de datas que pretendem desfraldar bandeiras caras, não apenas ao meio ambiente, mas também a outros pontos relevantes ao complexo de demandas morais e éticas da humanidade.

A própria ONU assume que o WED se tornou o principal evento através do qual “estimula a sensibilização mundial pelo meio ambiente e incentiva atenção e ações políticas”, e que o mesmo tem como “objetivo ser o maior e mais comemorado dia de ações positivas pelo meio ambiente”.

Com efeito, a lembrança é justa e necessária, em vista um preocupante quadro de mudanças climáticas e desastres naturais de um lado e o reconhecimento científico da importância na manutenção do equilíbrio das funções e serviços ambientais proporcionados pelas florestas de outro.

Ao cravar o slogan “Florestas: A Natureza a seu serviço” remete-nos ao fato de que uma das formas mais coerentes de atenuar as mudanças climáticas é através do plantio de árvores, tendo em vista que por meio da fotossíntese retiram carbono, ao mesmo tempo em que devolvem oxigênio à atmosfera.

Além deste aspecto vital para o planeta, destacamos ainda outros serviços prestados pela natureza através das florestas, como por exemplo, o abrigo da fauna, o suporte a polinização e a conservação dos solos e dos recursos hídricos.

Aos menos permeáveis a argumentos estritamente ambientais, temos que a lista de possibilidades econômicas vinculadas diretamente aos serviços prestados pela natureza, em especial para o Brasil, país mega-diverso, é extremamente interessante. Deste painel registramos algumas, como por exemplo, o desenvolvimento de fitoterápicos, bio-cosméticos e alimentos, produtos florestais madeireiros e não madeireiros, ecoturismo e turismo científico, fornecimento de água de qualidade com menores custos no tratamento e por conseqüência, menores custos ao suprimento em especial para a indústria, agricultura e aglomerados urbanos.

Diante de tais possibilidades o Brasil tem emitido sinais contraditórios e preocupantes e ao mesmo tempo coerentes e animadores.

Do lado preocupante, proporcionou a supressão de 2,6 milhões de hectares anualmente entre 2000 e 2010, via de regra através de incentivos fiscais e subsídios creditícios oficiais e mais recentemente a aprovação ainda que não definitiva, do substitutivo ao PL 1.876/1999, que altera de forma dramática o Código Florestal, para pior, do ponto de vista da proteção ambiental do País.

Do lado da coerência o País vem reconhecendo a importância da conservação e do manejo sustentável de seu patrimônio natural, signatário que é de acordos internacionais importantes como a Convenção de Áreas Úmidas/RAMSAR e a Convenção da Diversidade Biológica, além de interna e unilateralmente ter ampliado o quadro geral de Unidades de Conservação e Terras Indígenas e mais recentemente assumindo compromissos em reduzir em 38% as emissões de gases do efeito estufa do Brasil até 2020.

O Amapá, com aproximadamente 70% de seu território constituído por áreas protegidas e uma das menores taxas de conversão de florestas do País, mais que poder, necessita formular e implementar  políticas públicas baseadas na valorização da biodiversidade e no aproveitamento sensato de seu patrimônio natural, ou seja jogando ao lado da coerência e servindo de modelo para outras unidades federadas e mesmo outros países.

Pra que lado a balança vai pender? Façam suas Apostas!!!!

 

  • Parabéns pelo artigo sempre inteligente e oportuno. As posições brasileiras acerca da proteção ambiental são sempre antagônicas. Evoluem em um tema e retrocedem em outros. Tenho esperanças. Grande abraço.

  • Sabemos da existência de “duas escolas ambientais”. Uma extremamente radical, onde acaba-se por “criar santuários”; e outra: mais racional e flexível, que prega sim, a redução das externalidades; a exploração racional dos recursos naturais; como também a tecnologia e inovação (esse binômio é um pouco abstrato).A utilização/aplicação de tudo isso conduz ao “desenvolvimento econômico”. Ressalte-se que para tanto a economia dá ênfase à utilização da chamada “vantagem comparativa”, que são justamentes essas “reservas naturais”: pré-existentes ou vocacionais; enfatiza também a vantagem competitiva (algo também abstrato”, é o que você cria/inova. Seria justamente “tirar proveito da bodiversidade”, por ex: com shampoos; perfumes;vacinas; etc…
    Até aí tudo lindo; lúdico, quem sabe até poético..Fico a me perguntar, quando e quem foi que conseguiu via Assembléia Legislativa, tornar 70% do território do Amapá em áreas protegidas? Se adicionarmos a isso a reserva legal do território restante e mais áreas próximos (15 a 30m) de lagos e igarapés, quanto irá sobrar para implementar polítas e ações econômicas que possam dar uma nova configuração na atual matriz de desenvolvimento econômico do Estado, aliás nova não, porque a que existe é a “do contracheque”. Quanto os países ricos estão pagando aos GOVERNOS AMAPAENSES QUE SE SUCEDERAM para que m elhore as condições de vida do povo Amapaense, posto que transformaram suas riquesa em santuários.Servir de exemplo? Pra quem? Pro Sting, o roqueiro que roda o mundo em seu jatinho e demagogiamente brinca de quadrilha com os índios do Xingu?
    Por favor não me censure, tá?
    Att Josenildo Mendes de Sousa

  • Preclaro Alcione,

    Uma vez mais parabéns pela matéria e por trazer à tona o assunto.

    Creio que a balança, por um princípio básico da física, vai se movimentar para o lado mais pesado, e este é invariavelmente o lado da produção, do agronegócio, da exportação, do equilíbrio da balança de pagamentos, da geração de empregos, etc….. Embora também saibamos do poder de movimentação dos ambientalistas, seja através de ONGs ou até mesmo com lobistas no Congresso Nacional. Desde já, fique bem claro que lobi$ta$ existem dos dois lados e muito bem armado$.

    Antigos relatos de embates sobre questões ambientais são conhecidos desde Caim (o agricultor que representava a revolução agrícola, e assim a urbanização) e Abel (o pastor extrativista que manejava e coletava recursos já existentes). O que na minha modesta opinião representa bem o que hoje vivemos, claro que sem cifras bibionárias como pano de fundo.

    Outro exemplo conhecido e remoto da questão ambiental é relatado na mais antiga obra literária da humanidade, o épico Gilgamesh, na Mesopotâmia, a cerca de quase cinco mil anos atrás. Nesse caso, trata-se de um rei que desafiou os limites da natureza para construir uma cidade e perpeturar seu nome na história.

    Mais recentemente, uma questão levantada por Rachel Carson, no livro Primavera Silenciosa (1962), no qual a autora mostrou como o DDT penetrava na cadeia alimentar e acumulava-se nos tecidos gordurosos dos animais, inclusive do homem (chegou a ser detectada a presença de DDT até no leite humano), com o risco de causar câncer e dano genético. Esse trabalho, pode-se dizer que foi um duro golpe no até então triunfo da Revolução Verde como mecanismo eficiente de produção de alimentos e combate à fome. Talvez outra obra não tenha tido a importância para levantar a questão produção de alimentos versus conservação ambiental como esta.

    Desde então (e merecidamente) a produção intensiva de alimentos sem a observânvia da manutenção da base dos recursos naturais tem sido a grande vilã da destruição da natureza. Hoje já existe uma quantidade de tecnologias, que se não protegem o meio ambiente (toda atividade que cause interferência, é bom que fique bem claro, causa danos ao ambiente, e hoje um dos grandes é a urbanização acelarada) pelo menos diminuem os danos ao mesmo ao se praticar atividades agropecuárias. A intensificação de tais formas de produzir, deve ser amplamente preconizadas pelos governos, porque queiramos ou não, a população cresce e precisa de alimentos, e além da necessidade de alimentos, o que mais preocupa é a disseminação de hábitos de consumos nada compatíveis com a natureza, hábitos estes estimulados pela indústria e muito bem recebidos pelos governos (pela quantidade de impostos que incidem sobre os mesmos). Dá para produzir, se não sem agressão ao ambiente, mas pelo menos com maior atenção e cuidado com a base dos recursos naturais (animais, vegetais, recursos hídricos e solos).

    O Amapá tem que aproveitar o lado positivo de ser um território com boa cobertura vegetal, mas aproveitar não apenas no discurso e procurar mecanismos de inserir a questão ambiental como forma de angariar recursos para pesquisa científica para essas áreas e desenvolvimento para a população. Se é fato sobejamente conhecido que um hectare de floresta absorve entre uma e nove toneladas de carbono por a cada ano, então dá para imaginar o que esses o está sendo perdido anualmente pelo Estado a cada ano.

  • Brilhante artigo.
    Se fosse Governador indicaria o Alcione Cavalcante para o Cargo de Secretario Estadual de Meio Ambiente, Um engenheiro sério e altamente profissional.

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