Do G1. No AP, modelo em coma aguarda há um mês por tratamento neurológico

Abinoan Santiago Do G1 AP

Rarison Ricardo está em coma desde novembro, quando sofreu acidente de trânsito (Foto: Arquivo Pessoal/Facebook)

O modelo amapaense Rarison Ricardo, de 25 anos, está em coma no Hospital de Clínias Alberto Lima (HCAL) desde novembro de 2013, quando foi vítima de acidente de trânsito em Macapá.  O jovem sofreu um grave traumatismo crânio encefálico e ainda corre risco de morte. Desde 18 de janeiro ele precisa ser levado com urgência para uma unidade de terapia semi-intensiva com tratamento neurológico, serviço indisponível no Amapá. No entanto, mesmo com três decisões judiciais obrigando a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) a transferi-lo, ainda não houve o cumprimento de nenhuma das ordens.

Todas as decisões foram expedidas pela Justiça Federal. A última, de 25 de fevereiro, estipulou 48 horas para a Sesa transferir Rarison Ricardo em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) aérea ao Hospital Albert Einsten, em São Paulo, onde o serviço é oferecido. Mas o prazo da terceira decisão expirou neste domingo (2) e novamente houve descumprimento. A Sesa justificou não ter encontrado vaga no referido hospital.

Mãe de Rarison, a enfermeira Rosely Miranda diz correr atrás dos direitos do filho (Foto: Arquivo Pessoal/Facebook)Mãe de Rarison, a enfermeira Rosely Miranda
diz correr atrás dos direitos do filho
(Foto: Abinoan Santiago/G1)

“O meu filho corre o risco de perder a vida. A minha família está correndo atrás para que o direito dele de viver seja assegurado. Essa é a terceira decisão descumprida e até o momento ainda não recebemos nenhuma ligação [da Secretaria de Saúde]. O tratamento neurológico está estagnado e isso tem consequências porque se há um mês poderíamos recuperar 90% da capacidade neurológica, atualmente não se tem como precisar. Só queremos a transferência”, disse, angustiada, a mãe do paciente, a enfermeira Rosely Miranda, de 48 anos.

Rarison Ricardo está desde 28 de novembro na UTI do Hospital de Clínicas Alberto Lima. Ele recebeu alta em 18 de janeiro  e era para ter sido levado o mais rápido possível para uma unidade semi-intensiva com tratamento adequado, mas continua na UTI aguardando a transferência.

A urgência de ir para uma semi-intensiva deve-se à chance de “potencializar  o risco de ele ser acometido por outras infecções resistentes”, conforme o último laudo médico emitido em 26 de fevereiro. Antes de ser levado para o HCAL, o modelo já havia sido vítima de infecção por bactérias no Hospital de Emergências.

Pai do jovem, Toni Vitória diz estar inerte com dependência do estado (Foto: Arquivo Pessoal/Facebook)Pai do jovem, Toni Vitória, diz estar inerte com
dependência do Estado
(Foto: Abinoan Santiago/G1)

“Estamos sem um norte e sem lei. Pela terceira vez uma decisão é descumprida e nos sentimos de mãos atadas. Ele era tudo para mim, um pedaço meu.  Agora nós estamos inertes, dependendo do Estado”, revoltou-se o pai, o militar Toni Vitória, de 47 anos.

Além de necessitar do tratamento adequado, a família do jovem diz que não foi oferecido nenhum medicamento durante a internação de Rarison Ricardo. Todos os remédios foram comprados com a ajuda de familiares e amigos, com o nome e CNPJ do Hospital Alberto Lima devido a indisponibilidade em farmácias. A última medicação, por exemplo, custou R$ 2,3 mil, segundo os pais do jovem.

“O meu filho não morreu porque estamos comprando as medicações e aparelhos que deveriam ter no hospital”, reclamou a mãe, lembrando a falta da oferta do serviço na rede de saúde do Amapá.

Mudança
Os pais de Rarison Ricardo moram em Santana, a 17 quilômetros de Macapá. Eles contam que a rotina deles mudou desde que houve o acidente. Todos os dias eles saem pela manhã para o hospital em Macapá para buscar notícias sobre o estado de saúde do filho, e verificar a necessidade de comprar algum item usado no tratamento dele.

“Saímos toda manhã de Santana para ver se está faltando algo no hospital porque ele não pode ficar sem medicamentos”, reforçou a mãe do jovem.

Rarison Ricardo foi vítima de acidente de trânsito em Macapá (Foto: Arquivo Pessoal/Facebook)Rarison Ricardo foi vítima de acidente de trânsito
em Macapá (Foto: Arquivo Pessoal/Facebook)

Lembrança
Pelo fato de ele estar na UTI, não é permitido acompanhante dentro do leito. As visitas, permitidas no meio da tarde, ocorrem em poucos minutos. O álbum de fotos do modelo ajuda os pais a suportarem a saudade, segundo contam.

“Ele era muito alegre. Vivia sorrindo. Convivíamos muito bem e também era muito amoroso. Dedico meu tempo exclusivamente a ele. Todos mudaram a rotina para cuidar do Rarison, e o descumprimento dessas decisões deixa a gente pior porque mesmo correndo atrás de um direito dele, não estão conseguindo. Tenho medo de perdê-lo porque a tendência é ele piorar na UTI”, disse a mãe, Rosely Miranda.

“Ele era rodeado de amigos e, por ser homem, tínhamos uma relação muito boa. Não pensávamos estar nesta condição atualmente. Nunca achamos que isso pudesse acontecer com a gente”, completou o pai Toni Vitória.

 

Sesa
A Secretaria de Estado da Saúde se manifestou por meio de nota e informou que disponibilizou “auxílio financeiro aos responsáveis pelo paciente para compras de medicamentos não disponibilizados na Sesa; equipe de profissionais da saúde especializada no tratamento referido e UTI aérea, para eventual deslocamento”.

A nota revoltou os familiares do paciente. “Cadê essa ajuda que nunca chega às nossas mãos?”, questionou Rosely Miranda, que também contestou o trecho da nota que informa a possibilidade de transferência do jovem para o Hospital Metropolitano, em Belém, no Pará. “Esse lugar só é para caso de urgência e emergência, estado em que o meu filho não se encontra mais”, pontuou a mãe, que também é enfermeira.

A Sesa  também disse que vai implantar abertura de quatro leitos de semi-intensiva, com tratamento fisioterápico em neurologia, no HCAL, com prazo “para a segunda quinzena de março”, tempo que para a família do jovem modelo é considerado uma “eternidade”. “Ele não pode mais esperar. Meu filho necessita ser transferido o quando antes”, clamou a mãe.

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