* Marco Chagas. Geólogo. Professor Universitário. Doutor em Desenvolvimento Sustentável
Sebastião Araújo Castelo, “o Brás”. Nordestino de olhos claros e um dedo “cotó”, que nem Lula , Brás liderou a Cooperativa de Castanheiros do Iratapuru nos anos 90, época em que o Amapá se destacava no cenário nacional com uma proposta de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento sustentável.
Brás tinha um sonho… “tornar-se prefeito do município do Iratapuru!”. O Iratapuru foi a região do Amapá mais visitada entre 1996 e 1998. Acompanhei mais de uma dezena de consultores para visitar a fábrica de sonhos do Programa de Desenvolvimento Sustentável do Amapá – PDSA. Na boca do Rio Iratapuru, onde a comunidade iratapuense está localizada, a família Castelo, liderada por Brás e seu irmão Mariolano, ensinava o PDSA melhor que qualquer secretário de estado da época.
Recordo-me de um português do Banco Mundial de nome “Nuno”, que ao chegar ao Porto Sabão para pegar a voadeira rumo ao Iratapuru “pediu pinico”. Os piuns se deliciavam com aquele sangue ibérico e, em pleno sofrimento luso, ironicamente, Brás sugeriu ao “portuga” que olhasse com carinho os projetos dos povos da floresta.
Em 1997, sob a coordenação das doutoras Mércia e Maria Benigna, o TERRAP havia finalizado no sul do Amapá a maior discriminatória de terras do Estado. Mais de um milhão de hectares estavam devidamente registrados em nome do Governo do Amapá. A proposta de criar uma reserva na Serra do Iratapuru logo pautou a agenda política do PDSA.
A Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Iratapuru nasceu de uma régua de 50 centímetros em cima de um mapa do IBGE em escala 1:100.000, do conhecimento de campo do “Capeta” e dos sonhos do Brás. A parte política era com ele.
No projeto original, a área da reserva era de 860.000 hectares, mas subtraíram 54.000 hectares para não prejudicar o projeto da hidrelétrica de Santo Antônio. Era onde estava a comunidade. Recusei-me ao recorte e a guilhotina perversa da caneta palaciana logo me abateu. Resolvi então estudar! Nesse ponto, sou muito grato ao PDSA.
Há registros que imputam à família Castelo o incêndio na fábrica de biscoitos da comunidade do Iratapuru. Para quem conhecia a fidelidade do Brás ao PDSA sabe do que um amor traído é capaz. Acho que o Brás foi traído. A loucura invadiu seu coração e jogue a primeira pedra…
Outro dia vi o Brás numa esquina de Macapá. Tive vontade de abordá-lo, mas achei melhor evitar e guardar comigo aquela imagem do quase prefeito do município dos sonhos do PDSA, o Iratapuru.
3 Comentários para "Brás, o quase Prefeito do Iratapuru"
Belo Texto. Parabéns. Tive o privilégio de conhecer a região do Iratapuru quando era juiz de laranjal. Lindo lugar. Dessa visita saiu um programa no Amazon Sat e uma reportagem no endereço http://www.tjap.jus.br/portal/publicacoes/noticias/378-ju%C3%ADzes-de-laranjal-do-jari-visitam-reserva-do-iratapuru-para-preparar-a%C3%A7%C3%A3o-itinerante-na-localidade.html
Bateu a saudade das cachoeiras, das orquídeas nativas e da gente de lá, especialmente do Brás, que também conheci desde o Governo Nova da Costa.
Alcione
Conheci o Porto do Sabão, os Piuns e a vontade daqueles desbravadores. Belo texto.