As redes sociais e a necessidade humana de aceitação. Os necessários cuidados entre o limite real e o virtual

*Renata Ferraz. Psicóloga Clínica

 

 

 

 

 

 


O mundo moderno e globalizado nos impulsiona cada vez mais para a inserção no universo digital e nas relações “virtuais”, cada vez mais popularizadas através das mídias sociais e dos “influenciadores” digitais, já que mais e mais se proliferam inúmeras redes ao alcance das
mãos de qualquer usuário que tenha acesso à internet, seja pelo computador ou aparelho celular smartphone. Estão à disposição de qualquer um, com um simples toque:  Facebook, Twitter, Youtube, Instagram, Skype, Whatsapp, snapchat entre tantas outras fontes de informações, compartilhamento de momentos de descontração, de interação social, de compras e ofertas, de debates etc. Como também, uma rede profícua de superexposição e exibicionismo. O modo com que essa exposição ocorre, retratando nossas ações,comportamentos e comunicações nas redes sociais, reforça a necessidade humana de “aceitação”.

Desde a mais tenra infância somos compelidos a expressar tudo o que nos vem à mente, apresentando um comportamento regido pelo “princípio do prazer” que visa a satisfação imediata,já que ainda não temos os filtros sociais do que supostamente seria ou não adequado para o convívio social. Ao longo dos anos, somos levados a nos comportar dentro deste “filtro” de adequação, passando a não agir tão institivamente e não expor nossos sentimentos tão espontaneamente. Contrariando assim, a necessidade latente que todos nós temos de falar, de ser ouvido por alguém,de ser valorizado e respeitado. Pois quandodeixamos de enviar ou receber mensagens, ou seja, de estabelecer o processo saudável e vital entre os seres humanos de comunicação, ficamos com a sensação de exclusão, “estando fora de conexão,sentindo-se invisível ao meio.

A vontade em se conectar com o outro corrobora com a ideia de transmissão de nossaspercepções de modo a imortalizá-las e perpetuá-las em um contexto sóciointerativo. Esta dinâmica, teve de tempos em tempos, uma forma especifica e própria do momento sincrônico em que ocorreu, tal como acontece no momento em que vivemos, no qual a internet é o canal pelo qual as interação sociais e afetivas estão sendo construídas e/ou sendo deterioradas. Um exemplo de um passado recente seria a prática do uso de “diários”, aqueles cadernos ou agendas onde as pessoas anotavam suas atividades, emoções, projetos, angústias com uma certa garantia de privacidade e de comunicação consigo, mesmo trancado a sete chaves dentro da gaveta.

Diferente de hoje, os “diários” são expostos cada vez mais, as pessoas se sentem impelidas a relatar suas vidas, rotinas, emoções e opiniõesutilizando as redes sociais quase como se fazia com o antigo diário, mas sem se preocupar com os “segredos vividos”, contando passo a passo de seu dia e os planos para o seguinte; relatando suas ansiedades, decepções e alegrias; abrindo seucoração sem pudor.  A diferença é que no mundo virtual se escreve em um “diário” aberto, sem dimensionar o impacto na saúde mental que essas informações podem causar.

São tantas postagens pessoais circulando nos “palcos virtuais” da vida perfeita, pronta para brilhar e mostrar que “a nossa grama sempre é mais verde que a do vizinho” num desfile de ostentação, status sociais, sucesso, hipocrisia e falsa felicidade plenavivenciada através de imagens ilusórias. Vale ressaltar que não precisamos provar nada para ninguém, principalmente para nossos amigos e/ou seguidores virtuais, como se a felicidadedependesse do número de curtidas e obtê-las seria mais que uma obrigação, seria imprescindível.

Nessa época de pandemia, as redes sociais tornaram-se uma das principais fontes deentretenimento e contato social por conta do isolamento/confinamento causado pelo coronavírus, maximizando assim, o uso desenfreado de exposição intensiva que possibilita o surgimento dealguns distúrbios psicológicos e sofrimentos psíquicos desnecessários, devido as expectativas sobre os comentários e curtidas na postagens, desencadeando uma insegurança narcísica e uma falsa ilusão de que a aprovação do outro é importante para garantir uma existência.

A verdade é que hiperexposição nas redes nos distancia muito da realidade de quem somos, já que mostramos apenas o melhor de nós mesmos, como uma exigência de plenitude, não dando espaço para os nossos sofrimentos subjetivos. Entretanto, a busca patológica incessante por “likes” transforma as pessoas em reféns de suas próprias mentiras.  

Portanto, é essencial uma reflexão interna entre o limite do real e do virtual. Não existe “ninguém pronto” que não precise de melhorias e é sempresaudável quando se tem uma inspiração que nos direcione aos acertos, mas é preciso repelir os erros e aceitar que nem sempre somos aquilo que publicamos.

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