Amapá dá passo decisivo para sua industrialização com a construção da primeira siderúrgica

Grupo Zamin confirma ao governador Camilo Capiberibe investimento de US$ 120 milhões no Amapá

Dentro de 18 meses entrará em operação o primeiro alto-forno para produção de ferro-gusa do Amapá, etapa inicial para a construção da primeira siderúrgica do Estado. Com investimentos de US$ 120 milhões do grupo Zamin Ferrous, sediado em Londres (Reino Unido), o projeto e o plano de investimentos foram apresentados nesta quinta-feira, 10, ao governador do Amapá, Camilo Capiberibe, pelo proprietário e presidente da corporação indiana, Pramod Agarwal.

A reunião com o staff da companhia, que recentemente adquiriu o controle da Anglo Ferrous, aconteceu no Palácio do Setentrião. Além do governador, estavam presentes o secretário de Estado da Indústria, Comércio e Mineração, José Reinaldo Picanço; o prefeitos de Santana, Robson Rocha; de Pedra Branca do Amapari, Wilson de Souza; e de Serra do Navio, José Maria Lobato, municípios que serão diretamente beneficiados pelo empreendimento. Pela Zamin Ferrous, participaram Pramod Agarwal (presidente do grupo), Malay Mukherjee (CEO global), Atul Injatkar (diretor geral da Zamapá, subsidiária do grupo), e os executivos Antonio Cau e Jay Shah.

Segundo o cronograma apresentado pelos executivos do grupo Zamin, a implantação da primeira siderúrgica do Amapá se dará em duas etapas. Em 18 meses, a empresa vai investir US$ 60 milhões na construção de um alto-forno para produção de ferro gusa. A planta industrial será localizada na área que pertencia à Sólida Mineração S/A, no Distrito do Coração, em Macapá. Nessa fase, serão empregadas 1.000 pessoas. Ao término, serão contratados 200 trabalhadores para operar a produção de ferro-gusa.

A construção do segundo alto-forno destinado à produção de aço está prevista para doze meses, com investimento de US$ 60 milhões. De acordo com o projeto, 600 pessoas serão contratadas e, ao final da obra, 100 trabalhadores irão operar a aciaria. O aço proveniente do Amapá será utilizado na produção de máquinas agrícolas, eletrodomésticos, indústria automobilística, construção civil, mineração e fundição.

Salto industrial

“Com a implantação da primeira indústria siderúrgica no Estado, o projeto da Zamin Ferrous representa o primeiro passo para a industrialização do Amapá, que sairá da condição de fornecedor de matéria-prima mineral para a produção de aço, voltado aos mercados local, nacional e para a exportação”, avaliou Camilo Capiberibe.

O governador acrescentou que “além da verticalização industrial com produto de valor agregado, o empreendimento vai gerar 1.900 empregos diretos, impulsionar a construção civil, estimular novos negócios e gerar mais impostos. Com isso, vamos reduzir a dependência do Amapá em relação às transferências de recursos federais, hoje, da ordem de 65% das nossas receitas”.

Ao anunciar os investimentos, Pramod Agarwal destacou o excelente ambiente político do Amapá para novos empreendimentos. “O primeiro alicerce para o sucesso de qualquer empreendimento de verticalização consiste em ganhar o apoio político, especialmente do governador do Estado, como acontece agora”, frisou.

Além da ambiência política favorável, o proprietário do grupo empresarial ressaltou outros dois fatores fundamentais para a decisão de investir no Amapá: a matéria-prima local, no caso, o ferro de Pedra Branca do Amapari, e a energia de qualidade.

Pramod Agarwal destacou também a logística existente no Amapá, especialmente o Porto de Santana, onde serão desembarcados os equipamentos para a construção dos dois alto-fornos e, futuramente, servirá para escoar a produção do aço produzido no Estado.

O presidente da Zamin Ferrous acentuou que irá contratar, preferencialmente, mão-de-obra local tanto na fase de construção como na operação da produção de ferro-gusa e aço. Ponderou, no entanto, que irá precisar de, pelo menos, dez vistos para trazer profissionais especializados do exterior, que atuarão na fase de construção da aciaria.

Governo do Amapá vai investir R$ 30 milhões

Com relação ao fornecimento de energia, o governador Camilo Capiberibe confirmou que o Estado do Amapá vai investir R$ 30 milhões, valor da isenção do ICMS, para a construção de um linhão que levará energia elétrica da Hidrelétrica da Ferreira Gomes Energia, até os municípios de Pedra Branca do Amapari, base da extração do minério de Ferro, e serra do Navio.

“Diante das metas agressivas do projeto apresentado, vamos trabalhar de forma conjunta para cumprir esse cronograma, por isso, o acordo para construção do linhão até Pedra Branca do Amapari, que foi selado com a Anglo Ferrous, será mantido e executado na implantação do polo siderúrgico da Zamim Ferrous”, garantiu.

O governador também disse que vai encaminhar à Assembléia Legislativa o pedido para autorização de concessão da linha férrea no transporte de minério de ferro de Pedra Branca do Amapari até os alto-fornos que a Zamin Ferrous vai construir no Distrito do Coração, em Macapá.

Autorização da Assembleia

No almoço oferecido por Camilo Capiberibe aos empresários na Residência Oficial do governador, o presidente da Assembleia Legislativa, Júnior Favacho, disse que receberá os executivos do grupo Zamin Ferrous neste sábado, 12, para uma audiência.

“Vamos apreciar a anuência da reivindicação e, assim que o pedido formal do governador Camilo Capiberibe sobre a concessão da estrada de ferro chegar ao Parlamento, ele transitará pelas comissões específicas e deverá ser votado após o recesso parlamentar”, garantiu Júnior Favacho.

Régis Sanches/Secom

  • Primeiro: Ferro Gusa é uma matéria prima para fabricação do aço, logo, o Amapá não vai produzir aço como dito na matéria.
    Segundo: Cerca de 60% da matriz energética para produção de ferro gusa no mundo provém da queima de carval vegetal, daí fica a pergunta: qual a matriz energética que o Grupo Zamim irá utilizar nos alto-fornos?

  • Até pouco tempo, falar em produção de ferro gusa aqui no Amapá, era o mesmo que incentivar a degradação ambiental. Por que agora é diferentes ?

  • Tirando algumas variaveis que podem acontecer…por que damos o ouro e o ferro para serem beneficiados la fora e compramos o carro e a joia depois, se podemos fazer isso por aqui, agregando valor??…
    Outra coisa que nao entendo do setor primario….vem do setor pesqueiro….temos uma costa riquissima em pescado e nao fazemos nada pra ganharmos com isso…nada mesmo!!
    Ate a dourada, filhote de R$-15,00 que consumimos aqui vem de fornecedores paraenses que exploram aqui em nossa costa…kkk….Secretaria de Industria e comercio, pesca se existe…..poderia ocupar os 4 anos de mandato e dinamizar essa area…

  • Sinceramente, acho que a notícia seria digna de elogios, não fosse pela degradação ambiental que essa indústria provoca. Os anunciados filtros não são suficientes para evitar a poluição do ar, daí a siderúrgica instalada no município de Itaguaí, no Rio de Janeiro, até hoje não estar operando, depois de mais de dois anos do término de suas obras. E ainda a questão dá água utilizada, haverá decantação antecipada para não ser jogada , com os resíduos nos rios e igarapés? O Amapá precisa ser industrializado para sair da letargia em que vive, porém, há de se tomar cuidado, com as promessas fáceis, sob pena de, em poucos anos, se ver a população e o meio ambiente sofrendo consequências desastrosas.

  • Gostaria de ver publicada a noticia que estou te enviando, para que se comece a pensar no que será a guseria no Amapá, se deixarmos ir para o caminho que tomou no pólo de Marabá e Açailandia.

    Presidente da siderúrgica Gusa Nordeste preso por participar da Máfia do Carvão
    16/11/2011

    Ricardo Nascimento, presidente da siderúrgica Gusa Nordeste (Açailândia), foi preso no dia 11 de novembro pelo Núcleo de Repressão às Organizações Criminosas e à Corrupção (Nuroc), no Espírito Santo.
    Com negócios ligados à siderúrgica CBF, localizada no município capixaba de João Neiva, o empresário seria responsável, segundo a investigação, pela compra de R$ 107.608.000,00 em carvão vegetal de 16 empresas capixabas e da Bahia, com indícios de irregularidades.
    Diante das acusações do Nuroc, Nascimento fazia parte da “Máfia do Carvão” no Norte do Espírito Santo, onde empresas que forneciam milhões de reais em carvão vegetal para a siderúrgica CBF tinham existência jurídica com documentos falsificados, endereços inventivos e sócios inexistentes.
    Conforme apurou o Nuroc, outra irregularidade evidencia que o fornecimento de carvão vegetal em grande proporção para a CBF não advinha apenas dessas empresas, pelos poucos fornos registrados para produção do carvão. Assim, o esquema forçava pequenos e médios produtores capixabas e baianos a venderem carvão vegetal na ilegalidade, com notas fiscais de determinadas empresas que faziam parte do plano de acobertamento para a siderúrgica CBF.
    Prática comum?
    Se no sudeste a “Máfia do Carvão” existia há dez anos, segundo apontam as investigações da polícia capixaba, no pólo siderúrgico de Marabá (PA) e Açailândia (MA), onde se encontra a siderúrgica Gusa Nordeste presidida por Nascimento, parte do carvão utilizado na cadeia de produção do aço proveniente do minério extraído pela mineradora Vale é ilegal e com incidência de trabalho escravo.
    É o que alegou a pesquisa divulgada em junho deste ano realizada por Marques Casara, jornalista membro do Observatório Social.
    O estudo aponta que há diversos esquemas na operação dos grandes complexos carboníferos usados para lavar carvão ilegal para as siderurgias.
    Um dos mais emblemáticos é o caso da Indústria de Carvão Vegetal Boa Esperança situada em Jacundá (PA), de onde controla 96 fornos. “Em março deste ano a empresa declarava ter no pátio 325 MDC* de carvão. A contagem forno a forno, realizada por fiscais do IBAMA, mostrou que a empresa só tinha de fato 113 MDC de carvão.
    A diferença (212) vinha de carvoarias clandestinas, ou seja, “o carvão produzido em outro local usa o crédito da carvoaria legalizada para esquentar o produto e dar a ele uma aparência legal. Somente na Boa Esperança, 66% do carvão declarado pela empresa não está, de fato, no pátio. Com isso, a empresa pode vender 66% dos seus créditos de carvão”, afirma a pesquisa.
    Segundo Casara menciona no relatório, a “Boa Esperança faz parte de uma rede de ilegalidade na região de Jacundá e seu proprietário utiliza-se de 15 CNPJs (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica)”.
    Em Nova Ipixuna (PA), trabalhadores foram flagrados em carvoaria clandestina sem carteira assinada e sem equipamento de proteção, onde 100% da produção é direcionada ao pólo siderúrgico de Carajás, denunciou o estudo.
    “O carvão é usado para fabricar ferro gusa, posteriormente vendido para grandes pólos siderúrgicos”, revela o jornalista.
    O IBAMA do Pará e Maranhão também suspeita sobre a verdadeira quantidade de eucalipto que dizem ter as siderúrgicas. “Estamos justamente realizando um estudo que nos elucide sobre a verdadeira área plantada de eucalipto na região para podermos fiscalizar a proveniência desse carvão” diz Orlando de Assunção Filho, gerente executivo do IBAMA de Imperatriz (MA).
    Destruição
    A Gusa Nordeste é umas das cinco siderúrgicas que compõem o complexo siderúrgico de Açailândia, interior do Maranhão, localizada no bairro conhecido como Piquiá de Baixo, situado às margens da BR 222.
    Nessa comunidade, cerca de trezentas famílias lutam para serem removidas para outra localidade com as devidas formas de sociabilidade. De fato, o pólo siderúrgico (projetado no bojo do Grande Programa de Carajás no inicio dos anos 1980) foi implantado muito próximo à moradia dessas famílias, gerando sérios problemas de saúde e moradia.
    Uma equipe formada pelo Centro de Referência em Doenças Infecciosas e Parasitárias da Universidade Federal do Maranhão, e pelo Núcleo de Estudos em Medicina Tropical da Pré-Amazônia, realizou um estudo no bairro abrangendo 55% dos domicílios com moradores presentes no momento da visita, ou seja, 90 famílias, onde residiam 409 pessoas, sendo 212 mulheres e 197 homens.
    Segundo o relatório das equipes, “o estado geral dos entrevistados era de regular para bom em 86,6% e com sinais de precariedade em 13,4%, ou seja, indivíduos que manifestavam falta de ar, estavam acamados ou eram possuidores de alguma doença degenerativa (diabetes, hipertensão arterial, doença de Parkinson ou doença cardiovascular)”.
    Chama-se a atenção que “63,3% referiu ter tido alguma doença anteriormente e 41,1% doença atual”. Quanto a manifestações orgânicas “as queixas recaíram sobre os pulmões e a pele” revela o estudo.
    Ainda foi constatado que as manifestações ligadas ao aparelho respiratório (tosse, falta de ar e chiado no peito) foram queixas encontradas em todas as faixas etárias, inclusive com boa intensidade em menores de 9 anos de idade.
    E o mais improvável, cefaléia, encontrada em 61,2% dos pacientes, que segundo a equipe médica “é um sintoma não comum em crianças dessa idade”.
    As manifestações de alergia, acometendo as vias aéreas superiores e olhos (coriza e lacrimejamento) foram encontradas em 61,2% dos pacientes.
    Sanção
    Para Antonio Filho, advogado do Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos Carmem Bascarán, “a siderurgia, em busca de lucros exorbitantes, vai deixando um rastro de destruição, trabalho escravo e uma série de irregularidades no abastecimento de sua principal matéria prima, o carvão”.
    O que pode acarretar em sanções judiciais, segundo Danilo Chammas, advogado da organização Justiça nos Trilhos, pois, “as siderúrgicas podem ser demandadas judicialmente por sua responsabilidade civil, criminal e também no âmbito trabalhista, posto que são as que se beneficiam diretamente das atividades das carvoarias ilegais e talvez até as estimulem”.
    Quanto aos danos ambientais decorrentes diretamente da produção das siderúrgicas, provocando doença na população circundante, Chammas afirma que a responsabilidade civil, criminal e administrativa é clara e decorre de previsão na Constituição Federal.
    “Neste caso, como uma pessoa jurídica não pode vir a ser presa, as penas podem ser as seguintes: suspensão total ou parcial das atividades; interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade; proibição de contratar com o Poder Público e de obter subsídios, subvenções ou doações pelo prazo de até 10 anos; sua extinção definitiva, se ficar comprovado que ela foi criada com a finalidade de cometer praticas classificadas como crimes ambientais”, elucida o advogado.
    Por fim, a legislação prevê também a possibilidade de desconsideração da personalidade jurídica, ou seja, “que os sócios e diretores respondam pessoalmente e com seu próprio patrimônio pelos atos ilegais cometidos pelas empresas”, conclui Chammas
    MDC* unidade de medida para o carvão vegetal que equivale à quantidade de carvão que cabe em um metro cúbico.
    Fonte: Márcio Zonta, Justiça nos Trilhos – Açailândia (MA)

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