A Verdadeira Vida

Por Dom Pedro José Conti. Bispo de Macapá

 

Amar de verdade é ajudar a viver, é dar mais vida. Assim Jesus fez e ensinou quando dava a vista aos cegos e a audição aos surdos. Quando fazia caminhar os paralíticos e devolvia à comunidade os leprosos. Com efeito, quando alguém consegue sair de uma enfermidade ou de um acidente, que lhe podia ser fatal, geralmente diz: – “Eu nasci de novo”. Curar os doentes é, portanto, dar-lhes uma vida nova. Jesus deu nova esperança ao povo, quando multiplicou os pães e os peixes e satisfez a fome deles, também com a sua palavra, porque eram como ovelhas sem pastor. Deu-lhes comida e luz para a caminhada.

Jesus também deu vida nova aos pecadores. Falou-lhes do Pai misericordioso e da festa que se faz no céu, quando um pecador se arrepende. O perdão também é uma nova chance de vida; é saber que Deus nunca deixou de nos amar, porque nunca deixou de aguardar a nossa volta para casa. Os erros do passado e as suas conseqüências se tornam marcos para novos acertos, novos relacionamentos, livres das amarras do passado.

O contrário de tudo isso é o não-amor. Não necessariamente o ódio, a injustiça, a violência. Basta faltar o amor. O vazio de vida que o não-amor deixa. Assim esse espaço vazio é ocupado pela indiferença, a falta de interesse, a exclusão dos outros da nossa vida, dos seus sofrimentos, mas também das suas alegrias. O que vale é somente a nossa vida, o nosso interesse, a nossa vantagem, a nossa felicidade. Os demais não importam. Se os outros vivem ou morrem, se são felizes ou não, não é da nossa conta. O não-amor pode até não produzir diretamente a morte, mas, com certeza, não anima a vida, não a melhora, não a faz mais plena e alegre. Na nossa vida existem vazios que só o amor pode preencher. Por isso, o vazio de amor é o nada e o nada já é sinal de morte.

Nestes dias de Páscoa repetimos que Jesus nos amou a todos e até o fim; o fim da sua vida e sem guardar nada para si. Pela força desse amor total suportou os tormentos e a morte ignominiosa da cruz. Por causa desse amor obediente o Pai o ressuscitou. Esse amor foi mais forte do que a morte. Quem quiser segui-lo deverá, também, viver uma vida de amor. Preencher com o amor o vazio – de amor – que existe na história da humanidade. Com efeito, este é o último mandamento do Senhor aos discípulos: “Amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei. Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida por seus amigos”.  (Jo 15,12-13).

Contudo fica sempre uma pergunta para nós, que temos cabeça e coração duro: precisava Ele morrer na cruz? Por que tantos sofrimentos? Não teria sido suficiente deixar bem explicado o seu preceito? Quem quisesse tornar-se seu discípulo era livre para fazê-lo. Verdade, mas essa seria somente uma parte da mensagem de Jesus. E Ele acabaria sendo apenas mais um mestre de sabedoria, mais um guru de autoajuda ou o fundador de um grande movimento social.

A vida de Jesus e o seu sacrifício na cruz não podem ser separados da sua ressurreição, da sua vitória sobre a morte. Por isso Jesus não é somente um Mestre de filantropia, de solidariedade, de ajuda mútua: Ele é a Ressurreição e a Vida. Nós cristãos devemos acreditar na força do amor não somente porque é a única que pode transformar uma sociedade injusta numa sociedade fraterna e solidária. Nem que isso demore até o fim dos tempos. Nós acreditamos, também, na ressurreição da carne e na vida eterna. O amor vivido até a morte é o caminho para a vida nova, a vida de Deus, a Vida para sempre. O projeto de Jesus vai além deste mundo, não serve somente para concertar os estragos das nossas injustiças e do nosso não amor, serve para a brir o horizonte do eterno.

Como cristãos, precisamos ser profetas do amor e da vida eterna ao mesmo tempo. Não disputamos soluções mágicas ou milagrosas para resolver o problema do bem-estar de cada um ou de todos. Abrimos caminhos para antecipar, um pouco, o gosto do amor infinito de Deus, daquela Vida onde “a morte não existirá mais, e não haverá mais luto, nem grito, nem dor porque as coisas anteriores passaram” (Ap 21,4). Essa é a nossa esperança e a nossa fé.

Na manhã de Páscoa, ecoa a boa notícia: a Vida venceu a morte! Cristo ressuscitou, Aleluia! A vida eterna existe, palavra de Jesus ressuscitado. O amor a Deus e ao próximo é o único caminho para a vida eterna. Por isso vale a pena amar, fazer o bem, enxugar lágrimas, curar os enfermos, dar esperança aos desanimados: é a vida nova e eterna que mostra os seus sinais. É tão boa que vale a pena buscá-la. Assim o amor-caridade desta vida que passa se torna o penhor do amor infinito de Deus que não passa: a verdadeira vida.

 

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