A venda da Anglo American Amapá

Por Charles Chelala, Economista e Mestre em Desenvolvimento Sustentável

O mais importante fato da economia local neste ano, até aqui, é a oferta de venda das operações da empresa Anglo American no Amapá, anunciado há cerca de uma semana.

A “Anglo” é a maior empresa privada em operação em nosso Estado, com atuação nos cinco continentes, gerando mais de 150 mil empregos e lucro operacional (2009) de US$ 5 bilhões. Sua chegada ao Amapá ocorreu no início de 2008, quando adquiriu da MMX, de Eike Batista, as operações daqui em conjunto com o sistema Minas-Rio por 5,5 bilhões de dólares. Pra se ter uma noção de seu porte no Amapá, em 2011 a empresa exportou cerca de 500 milhões de dólares, o que corresponde a aproximadamente cinco milhões de toneladas de minério de ferro extraídas do nosso subsolo. No primeiro semestre deste ano o valor exportado foi praticamente igual ao mesmo período de 2011, apesar de ter sido embarcada maior quantidade de minério em função da queda do preço.

As razões para a venda de uma operação, aparentemente bem sucedida, tem dividido as opiniões. Na página da internet da empresa (www.angloamerican.com.br) o assunto ainda não foi mencionado. O governador Camilo Capiberibe postou em sua página do “twitter”, após receber a direção da empresa que, segundo o Sr. José Luis, diretor-geral no Amapá “as operações de extração de minério de ferro no Amapá seriam lucrativas, mas de pequeno porte” garantindo que “não haverá mudanças na rotina de funcionamento, nem interrupção dos investimentos”.

Especula-se que uma das motivações seria a necessidade se concentrar no projeto Minas-Rio, de porte bem superior ao do Amapá, uma vez que possui reservas estimadas em aproximadamente 6 bilhões de toneladas de ferro. Lá, se transportará a produção por meio do maior “mineroduto” do mundo, com 525 Km, passando por 32 municípios entre a mina e o porto, o qual enfrenta diversos problemas socioambientais para se viabilizar.

Outra possível causa pode ter sido a questão da logística no Amapá. Como o nosso porto só recebe navios de carga máxima de 50 mil toneladas, o frete unitário é mais que o dobro do que seria em embarcações do tipo “cape-sizes” com o triplo de capacidade. A empresa chegou a estudar o transbordo em alto mar como solução para baratear a logística, que é o elemento decisivo da competitividade do minério de ferro.

Há também suposições de que a empresa teria se decepcionado com a negativa governamental na concessão de incentivos fiscais solicitados para a aquisição de novos equipamentos, o que pode não ter sido determinante, mas auxiliou na decisão de levantar acampamento do Amapá.

Finalmente, também comenta-se que a empresa teria avaliado que a tendência de declínio do preço do minério de ferro, que já despencou 25%, pode vir a ser mais longa em decorrência da crise mundial. Diante da perspectiva, estaria se apressando em passar as operações enquanto ainda são viáveis. Já abordamos que o custo de produção de ferro no Amapá é maior do que em outros lugares, sendo lucrativo apenas a partir de um determinado nível de preço internacional.

Ressalte-se que a Anglo American é detentora da concessão da Estrada de Ferro Amapá e possui um porto privativo, o que lhe proporciona vantagens adicionais, além das reservas confirmadas superiores a 200 milhões de toneladas de minério de ferro.

Assim, observa-se que uma conjunção de vários motivos levou a empresa a oferecer no mercado o projeto Amapá, sendo um episódio marcante porque modifica o mosaico das mineradoras que atuam no Estado.

 

  • A ANGLO herdou da MMX um contrato firmado de fornecimento anual de 6 milhões de toneladas com a Gulf Industrial Investment Corporation (GIIC), pelo prazo de 20 anos. A mineração de ferro no Amapá não sofrerá processo de descontinuidade.

    • E o pior, o Eike já tinha recebido parte da grana.
      Uma trolha para a Cynthia Carroll.
      E ainda recebeu um sócio que já tinha 1/3 da MMX: a CLEVELAND CLIFF, a maior no ramo do aproveitamento de finos. Entrou com a bagatela de 133 milhões de dólares.

    • Muito pouco, mas bem mais que a AMCEL que está por aqui a mais de trinta anos e é muito mais nociva para o Estado.

  • Faltou mais um motivo, que é a pressão para contratar empresas indicadas por camilo capiberibe, que pena que sempre se esquece da verdade.

    • É verdade. Mas isso faz parte do custo Amapá. Tráfico de influencia, corrupção, etc… por aí.
      Onde amarramos o burro, hein pessoal?

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