*Cláudia Chelala. Economista. Professora. Doutora em Desenvolvimento Sócio-Ambiental
No momento em que a economia brasileira enfrenta um período recessivo, com reduzidas possibilidades de alternativas de encaminhamento de políticas anticíclicas no curto prazo, um setor parece desconsiderar a crise e segue apresentando um significativo crescimento.
O agronegócio, que responde por 40% das exportações, aproximadamente US$ 100 bilhões, dos quais mais de US$ 80 bilhões é de superávit, contrastando com o déficit global nas contas nacionais, apresentado no ano passado.
O setor gera mais de 16 milhões de empregos e segue dinâmico. No primeiro trimestre deste ano, cresceu 4,7%, ante a queda de 0,2% do PIB, no mesmo período.
Até então, o agronegócio era inexpressivo no Amapá, com o setor primário representando apenas 3,2% do PIB estadual.
Entretanto, este quadro está se transformando rapidamente: a área plantada com grãos passou de 2,4 mil hectares em 2012 para aproximadamente 18 mil hectares neste ano de 2015. A produção, que era de menos de 8 mil toneladas há três anos, deve fechar 2015 com 50 mil toneladas, cujo valor poderá atingir a cifra de US$ 20 milhões.
São vários os fatores que estão promovendo tal boom do agronegócio no Amapá. A proximidade da produção em relação ao porto, com infraestrutura de escoamento relativamente adequada; a constituição de toda uma cadeia de fornecimento de elementos básicos para a produção como calcário, fertilizantes e defensivos que permitem a produtividade do solo; a relativa disponibilidade de terras no cerrado amapaense, estimadas pelo Zoneamento Ecológico Econômico em aproximadamente 900 mil hectares, dos quais 400 mil tem potencialidade para a produção de grãos; a incipiente, mas crescente estrutura de secagem e armazenagem disponibilizada pela iniciativa privada, dentre outros fatores.
Há que se destacar também a implantação do complexo Cianport, joint-venture das empresas Agrosoja e Fiagril que atuam no Mato Grosso, e optaram pelo Amapá como ponto de transbordo da sua produção, abandonando as caras rotas para os portos do sul-sudeste brasileiro.
Já se encontram em fase de conclusão três silos no Porto de Santana, com capacidade superior a 50 mil toneladas, além da unidade industrial de beneficiamento de grãos a ser implantada na ilha Santana. A chegada deste empreendimento estimulou decisivamente investimentos no setor.
São muitas as vantagens que podem advir deste processo, por exemplo: a viabilização de segmentos correlatos ao plantio e beneficiamento de grãos, como a piscicultura, avicultura e suinocultura, que podem se tornar rentáveis pelo preço das rações (subproduto dos grãos) que tendem a baratear.
Destaque-se também o estímulo ao desenvolvimento do interior do Estado, com consequente e desconcentração da região de Macapá-Santana, que detém 75% da população e 76% do PIB estadual comprimidos em apenas 6% da área geográfica amapaense. Igualmente é de se realçar a dinamicidade de um setor da iniciativa privada, que poderá contribuir para reduzir a histórica dependência da economia em relação ao setor público e ampliar a arrecadação tributária própria do Estado e dos municípios.
Entretanto, há importantes gargalos a serem enfrentados, dos quais o maior deles é a dificuldade na regularização fundiária, o que encarece o financiamento da produção, bem como a ainda reduzida rede institucional de apoio ao agronegócio.
Também é fundamental serem levados em conta os equívocos cometidos em outras regiões do Brasil e atuar para construir um modelo mais aprimorado de cultivo de grãos aqui no Amapá.
Neste ponto, merece destaque os históricos casos de pressão do agronegócio sobre a floresta, ocorridos em outras regiões da Amazônia, que poderá ser minimizado por áreas protegidas no ecossistema local. Deve também ser redobrado o apoio e a proteção ao agricultor familiar, buscando a complementariedade do agronegócio com esta produção e reduzindo os riscos de conflitos.
Na dinâmica deste contexto será realizado, no dia 15 de junho, no SEBRAE, o Seminário de Economia do Agronegócio no Estado do Amapá, cujo objetivo é ampliar o debate a respeito deste novo quadro da economia amapaense.
Profa. Dra. Cláudia Chelala
Coordenadora da Pesquisa
2 Comentários para "A Economia do Agronegócio no Estado do Amapá"
Excelente texto, parabéns!
Segundo dados da Embrapa Monitoramento por Satélite temos algo em torno de 400 mil hectares de terras produtivas, distribuídas de Laranjal do Jari ao Oiapoque.
Os pequenos e pioneiros sojeiros que conheci, quebraram e sequer conseguiram voltar á sua terra. Os grandes estão resistindo, assim é o ciclo da soja. Lutam tentado descobrir cultivares capazes de enfrentar nosso cerrado inóspito, capazes de produtividade que remunere o dinheiro aplicado. Ainda não encontraram. Mas encontrarão, com certeza. Quando é o problema. Tem plantador tirando 25sc/ha, outros 30 e até 40. Lá fora uma boa produtividade está em torno de 60 sacas. Ainda estamos muito longe do paraíso.
Não temos grandes áreas continuas para grandes plantios. A maior área, pertence ao maior câncer que tem esse Estado, a AMCEL. Essa, sim, seria uma área especial para cultivo de graõs, ativando a economia do Amapá.