A agenda contra a corrupção e a falta que faz um São Luis de França dos tempos modernos

* Alcione Cavalcante. Engenheiro Florestal e articulista nas horas vagas.

Nestes tempos duros, difíceis para a maioria do povo, onde a desfaçatez assume proporções nunca dantes imaginadas. Nestes momentos onde as cifras da corrupção atingem níveis que assustam o mais pessimistas dos analistas do comportamento nacional e de sua famosa habilidade em dar um jeitinho nas coisas. Na época em que um ex-vereador de interior paulista se instala num dos ministérios de reconhecida competência técnica e até então imune à roubalheira, como é o caso do Ministério do Planejamento e de lá surrupia mais de R$ 50 milhões de reais numa boa. É para refletir. Se um ex-vereador (sem demérito para essa função importante), o primeiro degrau da representação popular tem poder de manipular tais cifras, quanto poderia estar sendo manuseados pelos mais elevados níveis de representação dos Estados e da União?

Diariamente, só a certeza de que novas intervenções serão deflagradas no País e pior ainda, mais cabeludas e sofisticadas ou na mão grande mesmo. O importante pros caras é levar do tesouro tudo o que puder, sem pudor nem complacência. A situação é tão complicada que dada a diversidade, criatividade e quantidade, a polícia e o Ministério Público vêm encontrando dificuldades em encontrar nomes para tais operações. Os aumentativos (mensalão, petrolão,etc..) não exprimem mais suas reais dimensões. Logo chegaremos aos superlativos, que também logo serão insuficientes.

Tudo puro reflexo do sentimento de impunidade que move e orienta tais cancros da sociedade hoje instalados em várias siglas, instituições e instâncias de poder no Brasil. Impunidade esta que aliada à desfaçatez, chega a propor que o rato bote o gato pra correr, ou no popular o poste faça xixi no cachorro.

Assim convêm que reflitamos todos, sobre a delicadeza do momento e acima de tudo no que pretendemos deixar de herança ética e moral para nossos filhos e netos.

A propósito lembro que há 790 anos assumia o reinado da França Luis IX, que se destacou conduzindo sua Nação ao auge no plano das artes, na economia e principalmente na política. Entre seus feitos proibiu funcionários graduados de empregar filhos e adquirir bens nas suas áreas de atuação, criou a justiça de apelação. Instituiu também um rígido controle de contas públicas que passaram a ser administradas por uma comissão financeira idônea.

Diz-se de Luis IX que quando entendia que seus subordinados agiam mal se impunha severos castigos e em seguida os punia de forma severa, obrigando-os a restituir o que haviam surrupiado do povo e da nação, ou a reparar danos no caso de injustiças.

Seu testamento é dos mais interessantes. Na vertente espiritual ao reportar-se ao filho que iria sucedê-lo recomenda “começo por querer ensinar-te a amar o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com todas as tuas forças; pois sem isto não há salvação”. A seguir aponta “guarda o coração compassivo para com os pobres, infelizes e aflitos, e quando puderes, auxilia-os e consola-os” e “sê justo até o extremo da justiça; coloca-te sempre de preferência da parte do pobre mais do que do rico, até estares bem certo da verdade. Procura com empenho que todos os teus súditos sejam protegidos pela justiça e pela paz”.

Por sua reputação adquiriu grande respeito e prestígio na Europa sendo considerado primus inter pares (primeiro entre iguais) naquele momento histórico e conquistou à França seu “século de ouro”

Essa maneira de enxergar o mundo e sua vida religiosa levou Luis IX a ser canonizado, recebendo o nome de São Luis de França. Um dos raríssimos casos de político (no seu caso estadista) a galgar a condição de santo da Igreja Católica.

Sao Luis-de Franca

 

Oxalá a política nos desse senão mais pessoas comprometidas com a justiça e a paz social, pelo menos nos poupasse do vexame galgar diariamente os altares infames dos recordes estaduais, nacionais e internacionais da corrupção e da ineficiência.

Lembro por fim, que a Agenda contra a corrupção e pela eficiência nas ações do Poder Público não deve se restringir à voz solitária e abafada de alguns parlamentares. Não pode se limitar à ação de Promotores, Procuradores e Delegados. A agenda só vai avançar se a sociedade brasileira e a amapaense em particular abracem-na e façam dela sua guia e inspiração.

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