O Brasil e a poesia perdem Ferreira Gullar.
Curto esse poema há muitos anos e fui buscar em um cartão-art que guardo. Pareceu-me ter sido escrito hoje. Compartilho com vocês.
Coisas da Terra
“Todas as coisas de que falo estão na cidade, entre o céu e a terra.
São todas elas coisas perecíveis e eternas como o teu riso, a palavra solidária, minha mão aberta ou este esquecido cheiro de cabelo que volta e acende sua flama inesperada no coração de maio.
Todas as coisas de que falo são de carne como o verão e o salário.
Mortalmente inseridas no tempo, estão dispersas como o ar no mercado, nas oficinas,nas ruas, nos hotéis de viagem.
São coisas, todas elas, cotidianas, como bocas e mãos, sonhos, greves, denúncias, acidentes de trabalho e do amor.
Coisas, de que falam os jornais, às vezes tão rudes, às vezes tão escuras, que mesmo a poesia as ilumina com dificuldade.
Mas é nelas que te vejo pulsando, mundo novo, ainda em estado de soluços e esperança.”