Dom Pedro José Conti
Bispo de Macapá
Uma mulher que não tinha muitos recursos financeiros encontrou um ovo. Chamou toda a família e disse com entusiasmo: “Atenção, todas as nossas preocupações acabaram! Nós não iremos comer este ovo, pediremos à nossa vizinha que seja chocado pela galinha dela. Teremos um pintinho que logo se tornará uma galinha e com ela teremos muitos outros ovos, rapidamente teremos muitas outras galinhas. Não comeremos nada, nem ovos e nem galinhas, poderemos vendê-las e comprar uma bezerrinha que, em pouco tempo, nos dará leite e outros bezerros. Assim poderemos vender os bezerros, comprar uma roça, criaremos galinhas, vacas, compraremos, venderemos…” Mas a mulher, enquanto falava, se empolgava, agitava os braços. Com isso o ovo escorregou da sua mão e acabou se espatifando no chão. Todos os grandes projetos dela acabaram de vez.
Coisas que acontecem com quem não tem paciência e quer tudo, logo. Provavelmente não conseguirá nada, nem na hora e nem nunca. Ou alcançará muito menos do que esperava, ou poderia ter conseguido se tivesse procedido com mais calma, sem apressar o que tem os seus ritmos naturais e humanos. A paciência é a virtude daqueles que sabem construir aos poucos a própria vida, que sabem que para mudar as coisas e mais ainda o coração das pessoas precisa de carinho, muito diálogo e o tempo necessário para amadurecer. Exemplo de pessoa paciente é o agricultor, quando sabe que a natureza tem os seus ritmos e estações e que não adianta forçar a barra porque a pressa pode destruir o que foi plantado e que vai crescer no tempo oportuno. Quem semeia em lágrimas, diz o Salmo 126,5, colherá com alegria. Somente quem sabe confiar e ter paciência colherá bons frutos. Os apressados colherão pouco e sem perspectivas futuras.
A parábola da figueira, que por três anos não tinha produzido frutos, ofereceu a Jesus a possibilidade de nos explicar a bondade e a paciência de Deus. Exatamente o contrário do que experimentamos hoje. Vivemos numa sociedade louca por resultados. Sobretudo quando está em jogo o sucesso das vendas, dos lucros, das campanhas publicitárias. Tudo é medido pelo crescimento, os índices das pesquisas servem para divulgar as metas alcançadas e até a superação das expectativas. Quem vê os índices da sua popularidade, das vendas, ou das ações na bolsa valores despencar, já fica desesperado: precisa fazer algo para reverter a situação, porque se cair mais, a concorrência – ou o outro candidato – vai engolir tudo!
Pela parábola de Jesus, o dono da vinha não tem tanta pressa, a pedido do vinhateiro vai dar mais um ano para ver se a bendita figueira, com adubo e limpeza, produzirá. No que parece o dono sabe que precisa tempo, trabalho e esforço para chegar a algum resultado. Não é um patrão simplesmente exigente. Mesmo que a figueira esteja demorando a produzir e ocupando inutilmente o terreno, ela ainda terá chance. Será tratada com carinho e atenção, não será desprezada e nem cortada, ao contrário estará no centro das preocupações do vinhateiro.
Nesta altura da reflexão é fácil pensar cada um na própria vida, naquele espaço de tempo e de lugar que ocupamos na história. Nesta rápida viagem pelo mundo, pela vida, quais os frutos que estamos produzindo? Quais os frutos que Deus gostaria que nós produzíssemos? Se entendermos que a nossa vida, como a vida de todos, é um dom a ser bem empregado e bem gasto, produzir alguns frutos bons deveria ser a alegria e a esperança de todos nós. Não estamos falando daqueles resultados que muitas vezes a sociedade nos cobra como riqueza, sucesso, boa posição social. Esses não interessam a Deus a não ser que os usemos para outros frutos mais preciosos e valiosos aos olhos dele como a bondade, a fraternidade, a paz e a justiça. Se ficarmos presos aos índices de produtividade, de lucro, de sucesso e popularidade, pouco estaremos produzindo para o reino de Deus. Precisamos sair dessa prisão para livremente assumir riquezas mais duradouras, tesouros para a vida eterna. Coragem, vamos aproveitar enquanto temos tempo, enquanto temos a palavra e o exemplo de Jesus e, sobretudo, a amorosa paciência do Pai.
1 Comentário para "A mulher apressada"
Senhor Bispo… Se não fossem as mulheres apressadas, criticadas por sua fala misógina, certamente os homens ainda estariam agachados nas cavernas, comendo carne crua… Fala sério!