Um flâneur no meio do mundo

Por Roger Normando. Médico e professor da UFPA

 

Flanar é a distinção de perambular com inteligência. Nada como o inútil para ser artístico. (João do Rio)

 

Bem no meio do mundo, no endereço mais fácil do planeta – precisamente na esquina do Rio Amazonas com a linha do equador – fica Macapá (Maca Pichu na língua Waiãpi, de influência Inca, segundo um amigo fonologista). A capital do estado do Amapá, na geografia, corresponde à latitude zero, mas para o compositor Zé Miguel, Macapá fica bem no meio do mundo e lá a vida corre (beeeeeem) devagar.

Por lá também acontecem coisas incríveis que até o fim do mundo (ou começo) duvida. A história que vou contar principia ao ler a página de entrada do blog Flanar, em que está tarjado o conceito de Charles Baudelaire sobre o termo galês flanar: “ver o mundo, estar no centro do mundo, e ficar escondido do mundo….” Maca Pichu tem o simbolismo baudelairiano.

Ao sobrepor estes dois parágrafos, sigo minha prosa no papel de flâneur nos moldes do Rio Sena: perambulando pelas ruas de Maca Pichu a “curiar” a paisagem urbana e o rio-mar.

No sentido norte-sul, mais precisamente na Rua Jovino Dinoá, ao pegado à Cora de Carvalho, andando sobre as soleiras abandonadas numa temperatura equinocial, avistei um mercadinho que exibe uma propaganda no mínimo curiosa: “Mini box Bino – Qualidade altamente mais ou menos”.

A terra de Joãozinho Gomes e Fernando Canto agora empresta poesia à publicidade como jamais imaginaria Washington Olivetto, um dos mais requisitados agentes de propaganda do Brasil. Se Olivetto ler essa propaganda “desenganosa”, certamente ficará mirando o céu à cata de astronautas – como fiquei – e procurará interpretar – como procurei – o que o autor quis dizer com aquela idéia que mistura lealdade com gengibirra. Embasbacado e olhando para o céu, Olivetto não encontrará astronautas, levará um tombo, como ocorreu comigo, e ainda torcerá o tornozelo; ficará com uma sequela que o obrigará a usar uma bota de gesso por seis meses, como quase aconteceu comigo, se não fosse muita reza.

Deixando o paulistano de lado sigamos com a história. Após seis meses transitando de lá pra cá (Belém-Dinoá-Belém), eu resolvi levar dois dedos de prosa com Severino, o dono do estabelecimento. É um tricolor fiel, pois o conheci envergado com sua camisa verde-grená dia após a derrota do Fluminense no Uruguai pela Libertadores da América. Bino, como é conhecido o dono do negócio (e da idéia), disse que no seu mercadinho vende-se de tudo um pouco e um pouco de tudo. O lugar é meio apertado, confessa, pois entre as prateleiras abarrotadas, mal cabe um cliente. Se for gordinho então… Mas Bino guarda um humor contaminante e, provavelmente essa dádiva o motivou a emplacar o texto na lateral de seu negócio, em letras garrafais, mas em cores rubro-negras, que acabou virando motivo para contemplação de curiosos flâneurs. Apaixonado pela vida universal, Severino entra na mídia da ética como num imenso reservatório de humildade, quebrando o paradigma da propaganda enganosa – daí o regozijo baudeleiriano.

Para Bino mando muita luz; para Washington Olivetto mando flores e o desejo de melhoras para que se recupere mais rápido do quebranto lançado por seu mais novo algoz, o mesmo quebranto que de mim foi espantado ao passar no tornozelo bálsamo de andiroba com copaíba, cabacinha, cânfora, sebo de carneiro… e muita reza.

 

  • Essa caneta poética do Roger é tão iluminada quanto o bisturi que ele usa para salvar vidas…Abração!!!

  • O Dr. Roger, competentíssimo médico cirurgião pneumologista, reconhecido em todo o país, de quem, com muita honra, sou amigo e admirador por ser detentor de invejável cultura que extrapola os limites da nobre missão do médico. Tinha tudo para se considerar um homem de pedestal, só alcançado pelos ilustres. Mas, quem o conhece sabe: é uma pessoa extramente humana, carinhosa com seus pacientes. É daquele que, independentemente de cor, idade, status, pega pela mão e procura resolver o problema de saúde de quem o procura. Como aconteceu comigo, quando contraí um câncer pulmonar. Quando muita gente pensava e comentava ser enfermidade incurável, Deus o colocou no meu caminho e aqui estou, como o próprio Roger e o Marco Antônio (Marcão, que compõe sua equipe médica) e juntos torcendo pelos melhores clubes do Brasil, pois até nisso tive sorte. Meus dois amigos são, também flamenguistas nio Brasil e bicolores no Pará. Obrigado amigo, por você existir e ser um competente médico.

  • eu também fui salva por Deus e pelo competentíssimo Dr. Roger Normando,quando procurei para falar sobre um tumor no mediastino bem em cima da aorta ele por sua vez me disse ser acostumado a fazer esse tipo de cirurgia mas passando por ela na UTI ele me relatou que tanto tempo de profissão e cirurgia nunca havia feito uma cirurgia dessa, hoje posso dizer que ele foi enviado por Deus para salvar vidas assim como salvou a minha, sou muito grata e hoje posso dizer e recomenda-lo como um dos melhores cirurgiões torácicos pois a mão dele é guiada por Deus.

    • Bondade sua, Sandra, que aliás faz tempo que não a vejo. Seu caso foi um aprendizado para esse eterno aluno da vida. Realmente uma operação com um resultado fantástico. Você também é uma “anja”.

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