Trânsito: Serial Killer

Em 2008, o trânsito ganhou o status de maior homicida do Brasil em artigo do advogado e jornalista sergipano, Fausto Leite, do portal Infonet. Dois anos depois, lidamos com o maior serial killer de todos os tempos, um psicótico abstrato. O coletivo de toda a perversidade humana, que comprovadamente mata quatro vezes mais do que uma guerra. O trânsito é a maior ferramenta de controle populacional do planeta. Leis mais severas e campanhas contínuas ajudaram a reduzir o índice de mortes em países da Europa.

Não só temos os piores condutores de veículo do Brasil como moramos na capital mundial do desrespeito ao trânsito. O Estado do Amapá e a capital Macapá foram categoricamente nomeados por autoridades locais empenhadas no trabalho de humanização do trânsito. No ambiente de nossas ruas e avenidas predominam a intolerância e a imprudência. Vivemos numa eterna disputa pelo espaço urbano, onde a única lei é mata para não perder um sinal amarelo. A impunidade absurdamente existe em nosso país.

Já não podemos defender a tese de que o problema maior é a engenharia de tráfego na nossa cidade. Ruas pavimentadas não causam acidentes, tão pouco os cruzamentos semaforizados. Macapá passou a ser planejada de uns anos para cá, mas a consciência humana nunca estará preparada da mesma maneira se não houver campanhas ininterruptas. A violência no trânsito não é um “mal brasileiro”. A França, Espanha, a Itália e a Alemanha também sofrem com o problema. São países desenvolvidos que também planejaram suas grandes cidades. A violência nestes países levou a uma série de campanhas educativas e leis mais severas contra os condutores e chegaram a uma redução significante no número de mortes, embora não tenha acabado com a violência.

“Desvio de Personalidade”. Em linhas gerais, este pode ser o prognóstico de causa para violência no trânsito. O desvio ocorre no momento em que giramos a chave. Xingamentos são a prova disso. Quem nunca xingou? Hostilizamos o ciclista, que está na contramão, o motociclista que corta os carros em alta velocidade, e da mesma feita também somos xingados por uma faixa negligenciada ou uma seta esquecida. Por sinal, falhas a princípio banais podem causar graves tragédias.

Esse é o desvio que nos leva para a morte. A ira, a intolerância, a despreocupação com a vida alheia e a despreocupação com a própria vida podem desestruturar toda uma familia. Até o mais humano, que aprendeu a amar ao próximo pela fé divina, acaba desvirtuado ao pisar no acelerador. “O mar deixa de ser um caminho e passa a ser obstáculo”. A matéria intransponível se torna insignificante, e o veículo vira uma arma destruidora.

Carlos Lima, jornalista, editor de polícia/jornal a Gazeta

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