Reflexões sobre as eleições 2014

*Charles Chelala. Professor. Economista. Mestre em Desenvolvimento Regional

Charles Chelala

 

Pela sétima vez consecutiva chegamos às eleições gerais no Brasil, contando desde a redemocratização. Poderíamos até considerar esta a oitava, se incluíssemos a escolha de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral em 1985, após a histórica mobilização na campanha das “Diretas Já!”.

Nesta nova saga democrática, pode-se afirmar que evoluímos em muitas aspectos da politica nacional, mas retrocedemos em outras. Nas primeiras eleições deste ciclo os temas eram mais profundos e as matizes político-ideológicas dos candidatos mais bem definidas. Hoje, vejo a preponderância do marketing sobre a política, relevando-a a segundo plano conforme as estratégias de conquista da opinião pública. Ainda assim, desembrulhando a embalagem, é possível identificar o conteúdo político de cada candidatura.

Como escrevo esta coluna no sábado, véspera das eleições, gostaria de refletir com meus leitores alguns temas sobre o pleito. Nas eleições presidenciais, teremos a candidata à reeleição Dilma Rousseff no segundo turno contra Marina Silva ou Aécio Neves, na mais acirrada disputa pelo segundo posto desde 1989, quando Lula superou Brizola por menos de um ponto percentual, vindo a perder para Collor no segundo turno.

Em que pese a perda de capital político nos três mandatos do PT, este conseguiu se consolidar nas camadas menos favorecidas do tecido social e se afirmar em amplas regiões geográficas do país. Nestas eleições tem sido essencial o excelente desempenho em Minas Gerais, além de terem conduzido corretamente a “desconstrução” de Marina.

A candidata do PSB foi inflada pela comoção nacional após a tragédia de Eduardo Campos. A atual trajetória de queda revela que sua tarefa, caso passe ao segundo turno, terá de ser maior do que apenas arrebanhar os votos anti-PT, mas a de convencer o eleitor comum de que é capaz de liderar o país. Se couber a Aécio a vaga no segundo turno, caberá a ele aprofundar o tom que marcou sua campanha, em especial nos temas “economia” e “corrupção”, nos quais tem alicerçado suas posições.

Em escala local, a última pesquisa Ibope revela que deverão passar ao segundo turno Waldez e Camilo. Os três candidatos de terceira via não conseguiram se viabilizar, talvez porque neste pleito tenha ocorrido, ainda que tardiamente, uma polarização entre os dois partidos que se alternaram nos últimos governos. Tudo indica que o segundo turno deverá ser pautado pela comparação entre os governos e deverão vir à tona temas que ficaram menos evidentes no primeiro turno.

Finalmente, uma das definições mais emocionantes destas eleições é a acirrada disputa pelo Senado entre Gilvam e Davi. O hiato deixado pela ausência de Sarney concorrendo diretamente no pleito proporcionou esta interessante contenda, com um impressionante crescimento de Davi da última pesquisa um mês atrás. Como não há “segundo turno” para o Senado, já se observa claramente (nas ruas, discursos e redes sociais) migrações de voto útil, que serão decisivas na definição do eleito.

Um bom domingo de eleições a todos!

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