Hidrelétricas e reservatórios

Por Charles Chelala, economista. Mestre em Desenvolvimento Regional.

O maior impacto socioambiental de uma Usina Hidrelétrica é o seu reservatório, ou seja, a massa de água represada pela barragem que inunda propriedades, desloca moradores de maneira involuntária, submerge infraestrutura, emite gases de efeito estufa, elimina hábitats de fauna, ocasiona perdas econômicas, dentre outras mazelas. A Amazônia está calejada com péssimos exemplos como os lagos de Tucuruí e de Balbina.

Entretanto, a história não precisa ser necessariamente assim. Há vários modelos em que reservatórios de usinas se tornam importantes indutores do desenvolvimento regional, como as hidrelétricas do Vale do São Francisco, que sabem usar de forma múltipla e eficaz a água das UHEs.

Nos municípios adjacentes à usina de Sobradinho na Bahia, por exemplo, com potência de 1 mil MW/h e reservatório de 4,2 mil Km2, é desenvolvido um projeto de irrigação há aproximadamente quatro décadas. O projeto, no qual é utilizada a água do reservatório, transformou aquela parcela do semiárido nordestino no maior polo de fruticultura tropical do país, boa parte direcionada para o mercado externo. A ausência de chuvas e a qualidade do solo local permitem, inclusive, a colheita de uvas de qualidade para produção de vinhos finos na região, os quais já competem com os que são produzidos no sul do país. Até Brandy é destilado no sertão nordestino.

Já mais próximo à foz do “velho Chico” está instalada a usina de Xingó, com 3 mil MW/h de potência e um minúsculo reservatório de apenas 60 Km2. Nesta, o que chama a atenção é o aproveitamento turístico. Nas proximidades da barragem há um restaurante flutuante no qual se tomam as barcas para visitar os cânions do São Francisco. As barcas aportam em um deck para que os turistas possam mergulhar entre rochas de 40 metros, pacientemente esculpidas pelos ventos durante séculos. Os que quiserem, podem praticar mergulho, pesca esportiva ou se hospedar em um confortável resort às margens no lago.

No Amapá, apesar de termos uma usina há mais de trinta anos, não se pode afirmar que o reservatório tenha sido bem explorado. Como atualmente estão em vias de se instalar três hidrelétricas e algumas outras PCHs no Estado, o momento é oportuno para, aproveitando as experiências bem sucedidas de outros locais, serem estruturados bons programas de uso múltiplo dos reservatórios, os quais abarquem o turismo sustentável; a agricultura; a pesca esportiva e artesanal; a piscicultura, dentre outras formas de indução ao desenvolvimento econômico do interior amapaense.

Estes exemplos são as alternativas para fazer com que os impactos positivos de uma usina suplantem os inevitáveis danos socioambientais deste tipo de projeto.

  • Bom dia! Só queria dar uma pequena contribuição no artigo do Professor Chelala. Que no caso de termos técnicos, como a sigla PCH, que ele colocasse o significado antes da sigla, pois um leigo, que não é da área ambiental, ao ler o referido artigo, não vai saber o que é uma PCH, que é apenas uma Pequena Central Hidrelétrica.
    Abs! Jane de Souza

  • O aproveitamento do(s) lago(s) como forma de geração de renda para a população não é o aspecto mais importante da instalação de uma usina hidroelétrica.
    Recentemente o GEA licenciou a UH Ferreira Gomes, obedecendo um rito determinado pela própria empresa que solicitava o licenciamento.
    A sociedade não teve oportunidade de discutir os principais aspectos da implantação de um empreendimento desse porte, muitos questionamentos ficaram sem respostas.
    A experiência de Coaracy Nunes está aí prá quem quiser ver. No mês passado realizei atividade de campo com meus alunos de geografia da UNIFAP no município de Ferreira Gomes e o que grande parte da população (distrito do Paredão) falou foi do seu descontentamento e preocupação com os impactos decorrentes da implantação dessa nova usina, e todos nós sabemos que aquela população, melhor do que ninguém sabe o que e do que está falando.
    E para surpresa da ampla maioria da população de nosso estado vem agora ser informado que outras duas hidroelétrica serão construídas no rio Araguari.
    Até quando os grandes empreendimentos que impactam nossas vidas e de nossos descendentes serão tratados dessa maneira?

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