Gestão responsável: um estudo de caso

* Charles Chelala. Economista. Professor. Mestre em Desenvolvimento Regional

Charles Chelala

Uma das virtudes dos políticos mais desejadas pelos cidadãos é a responsabilidade na forma de governar, o que abrange ética, eficiência e transparência nas ações. Nesta coluna de hoje quero tomar um caso concreto para demonstrar quão importante é complexa é a tarefa de gerir com responsabilidade. Trata-se da inauguração do complexo Macapá Criança, ocorrida na nesta sexta-feira (27/09/14).

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Em novembro de 2012 eu estava coordenando a equipe de transição da prefeitura de Macapá, quando recebemos uma equipe do BNDES que tinha vindo vistoriar a obra. Apesar de simpáticos e educados, o recado foi enfático: a decisão era de devolução de aproximadamente R$ 3 milhões que o Banco havia repassado a fundo perdido para a construção da obra. Pudera, a carta consulta havia sido entregue em 2003, a obra avançou em ritmo acelerado entre 2005 e 2008, mas paralisou totalmente a partir de 2009.

Um caso típico de “síndrome de Adão e Eva” que alguns péssimos políticos são acometidos: quando a obra ou o programa é vinculada ao antecessor, a ordem é paralisar, não importando o custo social. Já tivemos por aqui o hilário caso de alteração da denominação de um programa de “comunidades sustentáveis” para “comunidades ‘duráveis’ (sic)”, tudo para não ser associado ao governo anterior.

Pois bem, pedimos e conseguimos ganhar algum tempo com a comissão do BNDES. Ora, era uma questão de honra inaugurarmos o complexo, uma vez que o apresentamos no programa eleitoral, ocasião em que pastava solenemente uma vaquinha no local que devia estar sendo usado para a assistência social de pessoas: crianças, adolescentes e adultos.

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Retomar obra paralisada é mais difícil do que começar do zero. Muito do que foi feito havia virado ruína, estava depredado, vandalizado, etc. Dezoito meses depois, ao sacrifício de quase R$ 2 milhões dos parcos recursos próprios da prefeitura e com muito empenho da equipe envolvida, o complexo Macapá Criança foi entregue à população, não foi devolvido o dinheiro e Macapá não entrou na lista negra do BNDES.

Nem vou tratar aqui dos inúmeros benefícios sociais que advirão do maior centro Socioassistencial do Norte do Brasil, visto que o tema é Gestão. Basta citar que lá estão disponíveis Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), piscina semiolímpica, quadra poliesportiva coberta, playground, praça, Casa Abrigo para Adolescentes (Marluza Araújo), Centro de Atendimento Psicossocial Infantil (CAPSI), espaço para o Programa Estratégia Saúde da Família, área de lazer, etc.

Na mesma situação estão (ou estavam) o Restaurante Popular, o estádio Glicério Marques, a revitalização da Rua Matogrosso, a central de abastecimento que foi desviada de função para virar subprefeitura da zona norte, o Parque Zoobotânico e, a mais emblemática de todas, o Hospital Metropolitano. Todas estas obras estão sendo retomadas em diferentes estágios: algumas serão entregues muito em breve, como o Restaurante Popular, outras prestes a reiniciarem, com projetos readequados e indo para licitação, como o Hospital Metropolitano.

Assumir o ônus de concluir as obras paradas deixadas pelos antecessores, independente da cor partidária, é uma das matizes da responsabilidade na administração pública, que pode muito bem servir de parâmetro para diferenciar o político gestor do político eleitoreiro. Muitas vezes é isso que está em jogo num processo eleitoral.

  • Não há como não se festejar a conclusão desta importante obra para o atendimento às crianças e adolescentes de Macapá. Estive visitando esta obra há uns quatro anos atrás. Estava em completo abandono. Tentamos firmar um TAC com a gestão anterior da PMM, mas faltava vontade política e interesse social. O artigo bem retrata que o verdadeiro político é aquele que se entrega à causa da sociedade e honra os compromissos que assumiu durante a campanha eleitoral. Parabéns ao prefeito Clécio!

  • Parabéns, esse é um grande motivo para se comemorar, isso é realmente novo. Inaugurar semáforos é de uma pobreza sem tamanho. Como pode vir de uma mesma pessoa? Podem ser resquícios da velha política que está ainda no sangue do nosso Prefeito. Que ele se liberte dessas coisas velhas, faça uma gestão voltada para o povo. Porque ele não tem nenhum Capiberibe e nem Goés no nome dele. Agora se abraçar com o velho e fazer as mesmas coisas, a mesma política do pão e circo, vão fazer ele ficar no passado junto com as coisas velhas que ainda andam por aqui.

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