Cristina Buarque é uma fofa

A professora Cristina Buarque esteve em Macapá para o lançamento do livro do professor Dorivaldo Santos, que prefaciou.

E vejam o que ela escreveu sobre Macapá.

“Depois de três dias intensos em Macapá, aprendi que:

– Amapaenses transbordam afetividade. Uma e meia da manhã, o avião lotado pousa solitário na pista. Do outro lado da porta que separa a ala isolada dos viajantes, festa: aeroporto apinhado com famílias inteiras em estado de excitação. Beijos, abraços e emoção. Amapaenses não permitem que seus viajantes cheguem sem mimo. E eu não fiquei fora dessa. No meio da madrugada, lá estavam Dorival Costa e Rosinha me esperando.

– Todo mundo aqui é mano e mana. É um jeito do desconhecido chegar e já estar logo em casa.

– A cidade nasceu com vocação para grande capital. As avenidas do centro deixam as do Rio de Janeiro no chinelo: largas e imponentes.

– Aqui tem bicicleta por toda parte, sem ciclo-militância.

– O vento na beira-rio em Araxá carrega todo mau pensamento e deixa a gente novo em folha.

– O rio Amazonas é tipo um mar de tão grande e, quando sobe a maré, sopra uma brisa doce.

– Aqui a ditadura invadiu e manipulou o imaginário popular. Usou o medo como arma política. Torturou e matou também. Izabel, Dorival, Júlia e Maura fizeram o emocionante trabalho de contar esta história no relatório da Comissão da Verdade do Amapá.

– Aqui tem um povo aguerrido na luta contra injustiças de todo tipo. Dona Judith, Séfora e William são uma turma do Ministério Público lindamente comprometida com o combate à violência contra crianças e adolescentes. Alzira e Mirla dão vida aos dinâmicos movimentos de mulheres do estado e são infinitamente generosas com gringas como eu, cheia de perguntas. Idem para Ivon, uma figura chave do movimento gay por aqui.

– A luta social por aqui inclui o movimento de escalpeladas. Os acidentes de escalpelamento são tragicamente comuns em toda região amazônica em razão de motores de barco, desprotegidos, que trituram tudo o que encontram pela frente. Mulheres sem couro cabeludo são o mais comum.

– É a única capital que não é conectada a qualquer outra por rodovia. Só se chega aqui de barco ou avião.

– Comer peixe de rio em Mazagão é o melhor programa para um sábado de sol.

– O mapa do Amapá tem um quê de corpo humano: os rios parecem veias que irrigam todo estado.

– O tempo aqui é meio elástico: dá tempo de trabalhar, prosear e passear.

– Aqui, como em Moçambique (com Francis Conceicao), sou filha do Chico Buarque. Não há nada que eu possa dizer para modificar esse fato, certo William?

  • Obrigada Dra Cristina Buarque. …é assim mesmo o calor humano de nossos nativos, conterrâneos. É o nosso jeito Tucuju de viver aqui….

  • Apesar de não ser Amapaense. E sim paraense. Finquei algumas raízes por aqui nesses anos todos(lá se vão 23 anos). Ao ler essa fofura de texto. Fiquei pensativa(muitas imagens e alegorias passaram por mim) Várias delas abriram gratos sorrisos, e em outras, fecharam os meus olhos. Macapá para mim é doçura e aspereza. Beleza e feiura. Encanto e desencanto. Normalmente, opto pelos primeiros adjetivos. Daí a minha emoção ao deparar-me com essa singeleza de texto. Poético e fofo!!!!

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