Continua o julgamento de desvios na AL

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Ocorreu, na segunda-feira (25), no plenário do Tribunal de Justiça do Amapá (TJAP), a terceira audiência de instrução e julgamento da ação penal que apura desvio de R$ 952 mil da Assembleia Legislativa do Amapá (ALEAP). Na denúncia, ofertada pelo Ministério Público do Amapá (MP-AP), resultado da “Operação Eclésia”, o ex-presidente do Poder Legislativo, Jorge Amanajás, o presidente da Casa, Moisés Souza, o deputado estadual Eider Pena e mais três pessoas são acusados de formação de quadrilha, peculato, lavagem de dinheiro e ausência de procedimento licitatório.

Todos os réus foram intimados, mas apenas Edielson Pereira Nogueira compareceu na audiência desta segunda-feira (25). Ele é acusado de endossar os cheques como procurador da empresa MFX. Na prática, o acusado recebia os cheques da Assembleia Legislativa, depositava na conta-salário da esposa, na época, Ana Margarida Marques Fascio, e realizava o saque logo em seguida. Edielson admitiu que movimentava a conta da ex-esposa sem que ela tivesse conhecimento. O réu se defendeu alegando que o dinheiro era para efetuar pagamento de prestadores de serviços, mas não lembrou quais.

“O que ficou claro para o Ministério Público do Amapá (MP-AP) é que a MFX foi montada com o único fim de desviar dinheiro público. A empresa não possuía funcionários e não se sabe o que era feito lá dentro”, declarou a Procuradora Geral de Justiça, Ivana Cei, que estava acompanhada dos promotores de Justiça Afonso Guimarães e Manoel Edi.

 

Após a coleta de prova oral, o desembargador Carlos Tork (relator da ação) convocou as partes para que apresentassem seus requerimentos. O desembargador deferiu todas as solicitações do MP-AP, dentre elas, para oficiar aos bancos de Macapá e Santana, a fim de que apresentem a movimentação financeira da empresa MFX, no período de janeiro de 2010 a junho de 2011.

Por terem faltado, Jorge Amanajás (substituído por seu advogado), Moisés Souza e Ary Guedes, que tiveram o direito a defesa assegurado pelo trabalho de defensores públicos, já que não indicaram outros representantes, foram considerados revéis. O processo continua com as manifestações e alegações finais.

Entenda o caso

A conclusão do Inquérito Civil Público 047/2012, conduzido pela Promotoria de Defesa do Patrimônio Cultural e Público de Macapá (PRODEMAP), revela que, entre os dias 21 e 25 de janeiro de 2011, últimos dias do mandato de Jorge Amanajás como presidente da ALEAP, e do deputado estadual Eider Pena, como primeiro secretário da mesa diretora, foi efetuado um pagamento no valor de R$ 952 mil para a empresa MFX Ltda. – ME, inscrita na Junta Comercial do Amapá (JUCAP) no ramo da construção civil.

Ao ser ouvido pelo MP-AP, durante a apuração, o ex-deputado Jorge Amanajás disse não se recordar do objeto da contratação (sem licitação) realizada com a empresa MFX, mesmo tendo autorizado o pagamento nos últimos dias de sua gestão. “Não houve qualquer serviço prestado à Casa de Leis, e tudo não passou de uma operação simulada com o fim de desviar e lavar o dinheiro público”, assegura o promotor Afonso Guimarães, que subscreve a denúncia.

O Esquema

A empresa MFX foi registrada na JUCAP no nome de Ary Guedes da Silva, que detém 90% das ações, e Eliet de Lima Bacelar, na época sua esposa, que detinha os 10% restante da composição societária. O endereço indicado como sede da empresa é, na verdade, a residência da denunciada Eliet Bacelar, onde não funciona nenhum empreendimento comercial.

As investigações alcançam o deputado estadual Moisés Souza ao constatar que o parlamentar utilizou, reiteradas vezes, notas fiscais da empresa MFX em seus pedidos de ressarcimento da chamada verba indenizatória. Além disso, consta nas peças da apuração uma procuração em que Antônio Armando Barrau Fascio Terceiro, irmão da acusada Margarida Marques Fascio, ambos assessores de Moisés Souza na ALEAP, foi nomeado procurador da referida empresa, em 2008, logo após sua constituição. Só foi substituído, anos depois, por Edielson Pereira Nogueira.

O denunciado Edielson Pereira, então esposo de Ana Margarida, teve participação decisiva no esquema criminoso apontado pela investigação, pois endossou os cheques pagos pela Assembleia Legislativa, entre os dias 21 e 25 de janeiro de 2011, mesmo sem poderes para tanto, pois somente, em 18 de fevereiro de 2011, seria nomeado procurador.

O denunciado Ary Guedes que atuava como “laranja”, segundo a ação, ao emprestar o próprio nome no registro da empresa, mantém relação pessoal, há vários anos, com o deputado Moisés Souza, comprovado através de documentos apreendidos durante a “Operação Eclésia”, e chegou a ocupar cargo em comissão na ALEAP, em 2010.

A íntima relação de Moisés Souza com os operadores da empresa MFX é reforçada com a nomeação de Mário Antônio Marques Fascio (irmão de Ana Margarida e Antônio Armando), como seu procurador, inclusive com poderes para representá-lo junto às instituições bancárias.

Para o Ministério Público, Moisés Souza teria sido diretamente beneficiado com o pagamento efetuado nos últimos dias da gestão de Jorge Amanajás, sobretudo, após depoimento prestado por Wilson Nunes de Moraes, que na ocasião, ocupava o cargo de secretário de Finanças da ALEAP, e disse ter certeza que as notas para o pagamento à empresa MFX foram levadas por assessores de Moisés.

Os saques de elevadas somas realizados por Ana Margarida Fascio, sua assessora, logo após os depósitos dos cheques dados pela Assembleia Legislativa, também indicam que Moisés Souza teria sido um dos beneficiados da operação. “Em crimes dessa natureza, exigir que a propina seja entregue mediante testemunhas ou registros fotográficos é ignorar a realidade do mundo da corrupção e aplicar um rigorismo processual que não atende ao interesse republicano”, conclui o promotor Afonso Guimarães.

Os denunciados:

1 – Jorge Emanoel Amanajás Cardoso, ex-presidente da Assembleia Legislativa, responsável direto pelo pagamento em favor da empresa MFX.
Acusação: Formação de quadrilha, peculato, lavagem de dinheiro e ausência de procedimento licitatório (Art. 89 da Lei. 8.666/93).
2 – Eider Pena Pestana, deputado estadual, primeiro secretário da mesa diretora na gestão de Jorge Amanajás, um dos responsáveis diretos pelo pagamento efetuado à empresa MFX, à época. Acusação: Peculato, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro e ausência de procedimento licitatório (Art. 89 da Lei. 8.666/93).
3 – Moisés Reátegui de Souza, deputado estadual, presidente afastado da Assembleia Legislativa.  Mantém estreita relação com os operadores da empresa MFX e teria sido diretamente beneficiado com o pagamento efetuado poucos dias antes de assumir a presidência da Casa. Acusação: Formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.
4 – Ana Margarida Marques Fascio, advogada, antiga assessora no gabinete do deputado Moisés Souza, figurou até fevereiro de 2011 na folha de pagamento da ALAP. Acusação: Peculato, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.
5 – Edielson Pereira Nogueira, esposo de Ana Margarida, endossou os cheques como procurador da empresa MFX. Acusação: Peculato, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.
6 – Ary Guedes da Silva, vigilante, emprestou o nome para o registro da empresa MFX. Acusação: formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.

Ascom – MP-AP

  • E sabe o que vai acontecer com esse pessoal? NADA, porque eles não tem nada em seu nome, mas em nome de laranjas. Vão sair de fininho e colocar filhos e esposas pra concorrerem como ficha limpas.

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